30 Junho 2022
Dos védicos aos latinos e finalmente para nós aqui, a morte está toda na arcaica raiz mrt-s, morrendo e só; há apenas no germânico murd um desvio no sentido de assassinato, e acredita-se que isso se deva ao costume de suprimir os idosos ineficientes, que, portanto, não tinham acesso à morte que chamamos natural. E nós? De que falamos quando falamos de morte?
O comentário é do romancista italiano Maurizio Maggiani, publicado por Robinson, 25-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Dizemos morte e entendemos morte, é o que isso seria? Está claro para nós que um organismo se desgasta, se deteriora e, eventualmente, entra em colapso e se desfaz. Aqui no jardim tem um tronco de álamo, deixado ali sem cuidado, a árvore está morta, mas o tronco? O tronco está lá, e ano após ano continua sendo alguma coisa, provavelmente até alguém, ele se transforma, evolui, é habitado por vidas que prosperam.
Para nós idealizamos a morte encefálica, o fato atestando que não estamos mais na vida, porque a nossa vida é no cérebro que se determina e se conforma. Certo? Realmente não saberia dizer, não sei, não tenho uma estima tão exclusiva pelo meu cérebro. E não estou interessado na vida após a morte porque, na verdade, não tenho ideia do que seja a morte.
No livro bíblico da Sabedoria tem uma passagem que continua me dizendo algo que entendo e não entendo e então eu a aprendi de cor, é assim; “Deus não é o autor da morte. Ele criou tudo para a existência, as criaturas do mundo devem cooperar para a salvação e a morte não é a rainha da terra ... Mas a morte os ímpios a chamam com o gesto e a voz. Crendo-a amiga, consomem-se de desejos, e fazem aliança com ela; de fato, eles merecem ser sua presa".
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Morte. Uma coisa digna apenas dos ímpios - Instituto Humanitas Unisinos - IHU