Celebrar o Orgulho LGBTQIA+ com uma leitura queer do Gênesis

Foto: Delia Giandeini | Unsplash

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24 Junho 2022

 

Como é a história da criação no livro do Gênesis queer? Para celebrar o Mês do Orgulho LGBTQIA+, uma teóloga oferece uma interpretação bíblica que desafia as leituras dominantes da criação de Deus.

 

A reportagem é de Elise Dubravec, publicada por New Ways Ministry, 24-06-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Emily Reimer-Barry, professora de ética cristã na Universidade de San Diego, EUA, escreveu um artigo para a revista Catholic Moral Theology sobre como a história do começo da humanidade se enrique com a teologia queer.

 

Gênesis 1 e 2 incluem uma narrativa sobre “encontrar alguém para amar, com quem compartilhar a vida e compartilhar as lutas da vida”, independentemente dos órgãos sexuais com os quais nasceu. Reimer-Barry espera que essa interpretação bíblica “forneça energia criativa e esperança em um mês destinado a celebrar a vida e o amor queer”.

 

Ela observa que quando Deus cria os humanos, Deus não começa com macho e fêmea, mas com um ser, uma “criatura da terra”. Essa “criatura andrógina não se satisfazia sem um parceiro adequado”, levando Deus a criar outro. Depois de ver a nova criação de Deus, “feita do próprio corpo da criatura terrestre”, a criatura terrestre escolhe este ser como “um companheiro apropriado”.

 

Com o apoio de outros teólogos, Reimer-Barry cita:

 

“A tradição cristã tende a enfatizar o produto: uma mulher. Uma interpretação queer enfatiza o processo: cabe a nós decidir quem é nosso companheiro apropriado. O reconhecimento e aceitação de um companheiro adequado é uma responsabilidade humana. Deus cria e o ser humano escolhe”.

 

Reimer-Barry continua sua leitura explorando como “a criatura humana não elogia a diferença e a complementaridade de seu novo parceiro em relação a si mesma”, mas sim “foca na semelhança, sua humanidade comum”.

 

Ela afirma: “A parceria deles está enraizada em sua humanidade compartilhada. Os leitores contemporâneos podem ver aqui não apenas intimidade física, mas intimidade e confiança espiritual, um relacionamento enraizado no amor e na justiça mútuos”.

 

Ela também encoraja outros a experimentarem suas próprias leituras queer da Bíblia:

 

“Uma interpretação queer significa ler a Bíblia da perspectiva da vida queer. O objetivo é que os leitores queer moldem interpretações contemporâneas do texto, descrevendo sua compreensão do significado desses textos, lidos a partir de suas experiências vividas”.

 

As interpretações queer buscam encontrar o que há de diferente, oculto ou silenciado no texto. Com isso, “uma leitura queer do texto pode ajudar os leitores a ver como os discursos dominantes podem ser coniventes com a injustiça. Isso “abre espaço” para aprender sobre a experiência queer, discernir interpretações mais diversas e “falar mais concretamente sobre os relacionamentos LGBTQIA+ hoje”.

 

Reimer-Barry pergunta:

 

“Como os cristãos de hoje podem criar espaços para que católicos LGBTQIA+ assumam a responsabilidade de pensar sobre o que significa ser um companheiro adequado? Se Deus cria e os humanos escolhem, como devemos formar nossas consciências para escolhermos com sabedoria, levando a relacionamentos que promovam o florescimento em comunidade? Não devemos ter medo de fazer perguntas ao texto, desafiar estruturas dominantes de interpretação ou acolher vozes que foram tradicionalmente marginalizadas na hermenêutica bíblica”.

 

Que bela teologia para o mês do Orgulho! Católicos LGBTQIA+ podem se colocar nessa leitura amando seu eu criado por Deus e escolhendo relacionamentos que sejam autênticos para si.

 

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