O algoritmo das desigualdades

Foto: Riccardo Cuppini | Flickr CC

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06 Junho 2022

 

O diálogo entre o economista Piketty e o presidente do Istat Blangiardo. "É preciso medir o ódio social e a discriminação no trabalho".

 

O poder da estatística é que um erro nas categorias é suficiente para amplificar o problema que está sendo analisado. E se o “algoritmo” não for alterado em temas delicados como discriminação e racismo, corre-se o risco de um retorno capaz de ampliar ainda mais a frente dos discriminados.

 

A reportagem é de Claudia Luise, publicada por La Stampa, 04-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

O economista francês Thomas Piketty, que publicou recentemente uma cartilha sobre a necessidade de “medir o racismo e superar as discriminações”, parte dessa premissa. Cerca de sessenta páginas que em breve chegarão também à Itália, com as reflexões metodológicas necessárias para abordar o assunto. Piketty, que se tornou pai há seis meses, se conecta com o Festival Internacional de Economia de casa - "Não quero ficar longe da minha filha", diz - para conversar sobre esses aspectos com o presidente do Istat Gian Carlo Blangiardo, coordenados pelo vice-diretor do La Stampa Marco Zatterin.

 

O ponto de partida são três perguntas: as discriminações estão aumentando? E além disso, quais são as mais enraizadas na população e onde resistem com mais veemência? As discriminações não foram monitoradas por muito tempo e agora é necessário começar a fazê-lo porque, como explica Tito Boeri, “em tudo o que fazemos há um componente que não depende da nossa capacidade e mérito e as pessoas podem ser discriminadas por motivos que vão totalmente além de sua performance”. Piketty publicou esse livro durante a campanha presidencial na França.

 

Uma campanha particularmente acalorada: "Houve discursos de ódio contra cidadãos muçulmanos e negros, então senti a necessidade de encontrar uma maneira de combater as discriminações". Um tema - e um desafio - particularmente árduo. "Precisamos encontrar um equilíbrio, não tenho a solução perfeita, mas quero colaborar para criar um modelo europeu", diz ele.

 

Um dos pilares de sua estratégia é mudar as categorias, pois exemplos como preto ou branco, usados principalmente nos Estados Unidos, não funcionam mais, se é que alguma vez funcionaram. "Para medir o racismo - diz Piketty convicto - devemos utilizar categorias sócio-raciais mais flexíveis".

 

Isso se traduz em uma pesquisa mais aprofundada, por exemplo, das origens e da soma de elementos que potencialmente desencadeiam discriminações.

 

O objetivo, obviamente, é “apontar para o mais alto nível possível de igualdade socioeconômica” e para isso “devemos adotar políticas para reduzir as diferenças entre as classes sociais”. Um trabalho que o Istat está realizando na Itália. “Em 2024, vai começar um grande levantamento sobre discriminações na Itália, também ligada aos vários territórios. Um trabalho que começará nos próximos meses com uma sondagem preliminar”, explica Blangiardo.

 

Mas há uma grande limitação que corre o risco de atrasar a pesquisa e é a normativa particularmente rigorosa sobre a privacidade. “Temos um obstáculo regulamentar muito maior do que as possibilidades científicas. Um exemplo? Temos dificuldade até mesmo usando apenas dados extrapolados das redes sociais enquanto gigantes como Facebook e Google conseguem fazer o que querem para fins comerciais”, comenta amargamente o presidente do Instituto Nacional de Estatística.

 

A investigação terá, como elemento inovador, a intenção de compreender em que medida os comportamentos discriminatórios estão enraizados e em quem estão mais ou menos: um mapa que fotografe o racismo dos italianos.

 

Tudo isso para Piketty deveria trazer maior consciência e vontade de criar um "Observatório Nacional sobre a Discriminação", que então, somando os trabalhos nos vários países europeus, possa confluir numa coordenação europeia. Para tornar a UE realmente o lugar dos direitos.

 

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