O caminho da igreja. Artigo de Enzo Bianchi

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31 Mai 2022

 

"Parece que a Igreja já não desperta mais nenhum interesse e não chama a atenção senão pelos escândalos ou pelas pressões que tenta exercer nos percursos legislativos que dizem respeito a temas éticos. Os crentes estão conscientes da marginalidade que às vezes se torna a exclusão das vozes da Igreja do debate cultural, público e social?", escreve o monge italiano Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 30-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Segundo ele, "o fato é que na coletiva de imprensa final (da assembleia geral dos bispos italianos) não foi mencionado pelos jornalistas o principal tema de discussão entre os bispos: o sínodo em andamento. Este caminho iniciado pelo Papa Francisco para a Igreja poderá representar, se realizado, uma novidade absoluta, desconhecida inclusive pelas outras Igrejas cristãs: um sínodo entendido como um caminhar junto do povo de Deus, dos pastores, do Papa, em uma pirâmide invertida onde a autoridade está na base, a serviço do povo de Deus que ocupa uma posição mais alta, segundo o ditado forjado pelos cristãos da Idade Média: 'O que interessa a todos por todos deve ser discutido e deliberado'".

 

Eis o artigo.

 

Sofro um crescente e profundo mal-estar cada vez que verifico como é consolidada a relação atual entre a Igreja e os meios de comunicação: também por ocasião da eleição do Presidente da Conferência Episcopal Italiana, o Cardeal Matteo Zuppi, um bispo capaz de abrir novos caminhos eclesiais, é significativo que as perguntas da conferência de imprensa se voltassem ao problema dos abusos sexuais contra menores. A esta altura, parece que a Igreja já não desperta mais nenhum interesse e não chama a atenção senão pelos escândalos ou pelas pressões que tenta exercer nos percursos legislativos que dizem respeito a temas éticos. Os crentes estão conscientes da marginalidade que às vezes se torna a exclusão das vozes da Igreja do debate cultural, público e social?

 

Os crimes dos abusos contra menores são muito graves e, com razão, provocaram escândalo, mas dizem respeito a uma percentagem mínima de membros do clero. É claro que a Igreja precisa sair do torpor e se questionar sobre caminhos abertos sem a devida atenção para os candidatos ao ministério, é preciso uma prevenção vigilante que permita a mudança de estruturas e de estilo, é preciso assumir responsabilidades restaurativas em relação às vítimas.

 

Mas, como sempre disse sendo ainda um cristão que procura reconhecer um primado ao Evangelho, também será necessário ter compaixão e misericórdia para os culpados, que nestes casos são doentes graves, e impor penas de redenção mais que de punição, que tenham um fim e contenham a possibilidade de perdão. Além dos abusos sexuais, deveriam ser mais monitorados e denunciados tantos abusos que se consumam em silêncio na Igreja: abusos que ofendem a justiça, que impedem a defesa, que se alimentam de fofocas e calúnias com as quais se chega a matar moralmente as pessoas, abusos de autoridade na relação entre superiores e inferiores em nome da obediência. Uma cultura dos direitos, dignidade e liberdade da pessoa ainda não está plenamente atestada na Igreja.

 

O fato é que na coletiva de imprensa final não foi mencionado o principal tema de discussão entre os bispos: o sínodo em andamento. Este caminho iniciado pelo Papa Francisco para a Igreja poderá representar, se realizado, uma novidade absoluta, desconhecida inclusive pelas outras Igrejas cristãs; um sínodo entendido como um caminhar junto do povo de Deus, dos pastores, do Papa, em uma pirâmide invertida onde a autoridade está na base, a serviço do povo de Deus que ocupa uma posição mais alta, segundo o ditado forjado pelos cristãos da Idade Média: "O que interessa a todos por todos deve ser discutido e deliberado".

 

A assunção desse princípio poderia mudar a face da Igreja, eliminar toda forma de clericalismo e carreirismo, criar no mundo uma nova realidade de irmãos e irmãs com a mesma dignidade, em solidariedade, em plural comunhão. O Papa Francisco reitera que este é o horizonte da Igreja do terceiro milênio.

 

Se for, isso também significará um aumento de humanismo para todos.

 

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