19 Mai 2022
"As eleições realizadas democraticamente são o ato concreto para enfrentar a operação de desconstrução do país. O posicionamento da sociedade em defesa das eleições, do sistema eleitoral brasileiro e da posse dos eleitos é o outro grito que deve ecoar em cada cidade, em cada comunidade, bairro, nos encontros, nos espetáculos e shows", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Processos Socioculturais da Amazônia, articulista no jornal A Crítica de Manaus, co-fundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).
A estratégia de desqualificar e enfraquecer o sistema eleitoral brasileiro é parte de um mesmo plano: minar as instituições do País e a democracia. Não se trata de delírio ou manifestações irresponsáveis de autoridades públicas, a começar pelo presidente da República, principal fomentador dessa ação, e sim do acionamento de instrumentos técnicos para a produção de mentiras, do medo, da violência e do fortalecimento da extrema direita no Brasil.
As manifestações de artistas, de segmentos da população e de algumas organizações civis em apoio à candidatura de Lula envolvem dimensões intercruzadas. Não se trata do voto fiel a Lula e sim de um movimento dos setores sufocados pelas práticas do atual governo federal. É possível afirmar que cresce (e precisa crescer mais) o nível de compreensão quanto à necessidade de superar o estágio de decadência geral a que o Brasil está submetido nacional e internacionalmente.
O primeiro passo é assegurar a realização das eleições de outubro com garantia constitucional do respeito ao resultado saído das urnas, seja qual for ele. O trabalho desenvolvido até agora pela direita radical é o de reproduzir internamente o que ocorreu dentro da mesma lógica nas eleições estadunidenses incluindo invasões e atos de ataques físicos no Congresso Nacional e ou a outras instâncias representativas dos poderes. É fundamental enfrentar já o discurso de ameaça e em tom de convocação para que as pessoas se armem com armas de fogo e, diante de um comando, as acionem.
O posicionamento pelo confronto sangrento exige ser rechaçado desde agora. E quem deve fazê-lo? Todos e todas que sentem o mal-estar produzido por esse tipo de postura e que podem ter suas vidas completamente afetadas pelo efeito da mão única autoritária e afeita a extremismo. A maioria da população brasileira não compactua com atitude dessa natureza, é necessário que empresários, líderes religiosos e dirigentes de instituições se pronunciem e digam que país querem ver se consolidando. Este que agora convive com milhões de pessoas em vulnerabilidade alimentar aguda, do desmonte das estruturas institucionais, do desmatamento em larga escala, dos ataques sistemáticos aos povos indígenas e na tentativa de naturalizar os crimes contra as mulheres, o povo preto, LGBTQI a+, as juventudes, os quilombolas.
Quanto ao desenvolvimento do Brasil a estagnação é a referência. O apoio à ciência, à tecnologia e à inovação tecnológica é pífio e às universidades públicas federais estão acossadas; não diferente é a situação dos institutos de pesquisa. Em nível internacional, qual é a representatividade do Brasil? Tornou-se um país párea nos diálogos e posicionamentos entre as nações submetido ao silêncio porque não tem o que dizer.
As eleições realizadas democraticamente são o ato concreto para enfrentar a operação de desconstrução do país. O posicionamento da sociedade em defesa das eleições, do sistema eleitoral brasileiro e da posse dos eleitos é o outro grito que deve ecoar em cada cidade, em cada comunidade, bairro, nos encontros, nos espetáculos e shows. Afinal, a conclamação ora feita em favor do armamento da população já é em si uma arma acionada contra os direitos das cidadãs e dos cidadãos. Os tiros estão sendo dados.
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A sociedade precisa ir às ruas e soltar o grito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU