11 Mai 2022
Para a Irmã Janet Rozzano, das Sisters of Mercy, a descoberta de sua homossexualidade ocorreu gradativamente, durante os anos 1960 e 70, quando em seu diário contava emoções de alegria e medo no relacionamento com outras mulheres. Quando foi corajosa o suficiente para se assumir, suas coirmãs a apoiaram e ela imediatamente começou a trabalhar a favor das pessoas LGBTQ.
A irmã Mary Kay Dobrovolny, sua coirmã, foi motivada por aquele exemplo a revelar sem muitos temores que ela era "incorrigível e entusiasticamente queer".
Essas são duas das histórias, corajosas e poderosas, contadas no livro editado pela irmã Grace Surdovel em Love Tenderly: Sacred Stories of Lesbian and Queer Religious, publicado no final de 2020 nos Estados Unidos pela organização católica da Irmã Jeannine Gramick, New Ways Ministry, e que hoje apareceu na edição italiana com o título Nella giustizia e nella tenerezza. Storie sacre di religiose lesbiche e queer na série "Sui generis" da editora Effatà (p. 268, € 17), editado e traduzido por Laura Scarmoncin, tradutora e especialista em estudos de gênero, e Cristina Simonelli, teóloga e professora de Antiguidades Cristãs, cofundadora e ex-presidente da Coordenação das Teólogas Italianas.
A reportagem é de Ludovica Eugenio, publicada por Adista Notizie, Nº 17, p.13-14, e reproduzida por Progetto Gionata, 14-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Love Tenderly: Sacred Stories of Lesbian and Queer Religious
Uma antologia de 23 histórias de vida e de vocação contadas pelas próprias protagonistas - algumas sob pseudônimo - que, quando apareceu nos Estados Unidos, causou sensação pela sinceridade e honestidade dos relatos.
São histórias atormentadas, marcadas pelas lutas para enfrentar a homofobia e a vergonha, mas também e sobretudo pela liberdade espiritual oferecida pela descoberta da própria identidade, uma liberdade muitas vezes expressa em termos de integração do próprio eu autêntico e pleno nas várias dimensões da vida. “Irmã Emma” conta: “Durante todos os anos em que trabalhei para ser inteira, os desejos sexuais continuavam a aparecer e minha primeira reação foi temê-los”; "Agora posso apreciá-los porque me dizem que estou viva e que sou uma pessoa completa".
E em uma carta ao seu eu mais jovem ela afirma: “O que você aprenderá é que as emoções não são nem certas nem erradas, mesmo que possam ser intensas; na realidade, você entenderá que uma boa saúde psicológica e emocional exige que você esteja ciente delas, além da capacidade de dar um nome a essas emoções, compartilhá-las adequadamente e decidir quando agir sobre elas". "O que eu percebi como uma das minhas verdades é que a castidade para toda vida é irreal, insalubre e, para mim, impraticável", conta a "Irmã Francisca". “Eu nunca poderia imaginar viver sem abraços calorosos, beijos e contatos físicos. Sou sempre muito grata pelas experiências de amor que marcaram a minha existência, porque sem elas eu não seria totalmente humana nem completa do ponto de vista sexual, relacional, emocional ou espiritual”.
Mas também são histórias de dor: algumas das freiras foram vítimas de agressões sexuais, muitas foram rejeitadas por causa de sua sexualidade, várias lutaram contra a depressão e ideias suicidas quando lhes disseram que sua homossexualidade era um pecado; muitas delas cresceram nas décadas de 1950 e 1960, quando ainda não se falava em orientação sexual.
A Irmã Gramick explica bem isso no prefácio do livro: “Durante o período de formação, grande parte das irmãs desta antologia não teve discussões esclarecidas sobre castidade e intimidade. Muitas, portanto, se sentiam culpadas ou envergonhadas por causa da atração romântica ou sexual e de sua necessidade de intimidade: quando esses desejos naturais apareciam, elas se repreendiam".
“O meu desejo - declara - é que em vez de se afligirem perguntando-se se a sua amizade é apropriada, possam alegrar-se pela dádiva; que em vez de remoer-se por ter violado a castidade, possam desfrutar dos momentos de alegria que a relação traz consigo; que em vez de tremer por ter ultrapassado um hipotético limite sexual, as irmãs agradeçam a Deus por ter trazido essas amigas para as suas vidas".
"Lutei muito com a linguagem dos documentos eclesiásticos que julga as pessoas da comunidade LGBTQ+ como 'intrinsicamente desordenadas'", confirma o testemunho da Irmã Mary Kay Dobrovolny, "e lutei muito contra a falta de inclusão das mulheres em todo leque dos ministérios e da liderança eclesial"; “Enquanto consolido a minha identidade como pessoa queer, minha amada congregação continua a se empenhar em diálogos que revelam os espaços de liberdade e de falta de liberdade entre as nossas irmãs, nos nossos ministérios e nas nossas estruturas institucionais”.
O livro, explica nos agradecimentos a organizadora Ir. Grace Surdovel, que atualmente é professora de tecnologia na Wikes University e editou o livro com a assistência da Irmã Fran Fasolka, é o resultado de 25 anos de sonhos e de projetos cultivados em conjunto com um grupo de freiras lésbicas e queer; com a ajuda de um terapeuta autorizado, elas escreveram perguntas de reflexão para ajudar as coirmãs a contemplar as suas experiências pessoais como religiosas LGBTQ. “A minha esperança é que ao ler essas histórias o vosso coração seja tocado - escreve ela – mergulhando-vos naqueles momentos em que vocês amaram ternamente. Que vocês possam reconhecer, honrar e reverenciar a história da vossa vida".
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Na justiça e na ternura. Histórias de religiosas lésbicas e queer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU