Pandemia e a guerra. Qual das duas é a pior?

Fonte: Unsplash

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Mai 2022

 

Das duas pragas trágicas recentes, a pandemia e a guerra, a mais próxima fisicamente de nós é a primeira, que não tem fronteiras, não se limita a uma única localização geográfica, e atingiu todos os lugares, casa por casa.

 

O comentário é do jornalista, escritor e roteirista italiano Michele Serra, publicado por la Repubblica, 07-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Covid, em sua fase mais mortífera, aquela pré-vacina, não estava apenas nos noticiários, estava nos nossos corpos. A experiência direta da morte na guerra, para nós italianos, continua ligada a poucos corajosos repórteres, a da morte de amigos e parentes por Covid tocou milhões de pessoas.

 

No entanto, depois de quase três meses desse duplo revés na chamada vida normal, e depois de tantas discussões, leituras, reflexões, a que mais me pesa, a mais perturbadora, a mais inaceitável, é a segunda. Porque a guerra depende, em todos os aspectos, do homem, que é seu artífice, que a cria e a move, às vezes nos enriquece. Enquanto o vírus é um pedaço da natureza que nos derruba, uma partícula externa a nós que nos agarra, como as pragas de todas as épocas. Podemos odiá-lo, mas não podemos nos sentir culpados, não fomos nós, por nossa vontade, que o desencadeamos.

 

A guerra, por outro lado, sim. Nós carregamos toda a culpa, uma palavra que sempre uso a contragosto porque cheira a contrição e penitência. Mas neste caso não encontra substitutos, a guerra é uma escolha do homem, são os homens que a querem e a infligem, não temos nenhum álibi que possa nos aliviar. Somos - entre outras coisas, felizmente - aquele macaco cruel e muitas vezes sádico. Sim, a guerra definitivamente me aflige e me horroriza muito mais, mesmo que eu não tenha mais idade para o front, e em vez disso estou alcançando rapidamente aquela que me qualifica como paciente de risco.

 

Leia mais