15 Abril 2022
A questão explodiu devido a um caso (que não se concretizou): a crisma de um trans. Que havia demonstrado ao pároco a quem se dirigira que queria empreender um convicto caminho de fé.
A reportagem é de Lodovico Poletto, publicada em La Stampa, 12-04-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na cidade que olha com grandíssima atenção aos direitos de todos, que não se presta a instrumentalizações, a questão teria passado despercebida. Não fosse o fato de alguém ter torcido o nariz, insinuando sabe-se lá qual escândalo: “A crisma a um trans? Mas como?”.
Agora, além do fato de que a crisma nunca foi dada – como explicou o Pe. Antonio Borio, o pároco de quase 75 anos (“Tive contato com essa pessoa, depois a Cúria me explicou a linha a ser tomada, mas eu não vi mais essa pessoa”) –, a questão dos direitos voltou à tona. E a iminente chegada à frente da Igreja de Turim do novo bispo, Roberto Repole, poderia dar um novo impulso à questão.
Jacopo Rosatelli, assessor de Políticas Sociais da Prefeitura de Turim, diz bem, ao explicar: “Com o bispo Cesare Nosiglia, o mundo católico e eclesial tem estado muito atento às pessoas que sofrem. Ao tema do trabalho. Aos últimos. Com a chegada de Repole, dá-se até um passo a mais: ele terá a mesma atenção ao nível social, à altura dos nossos tempos”.
Em suma, Turim volta a ser um laboratório, desta vez não político, mas de atenção a todos. E, se ninguém negar os sacramentos (batismo, comunhão e crisma) quando houver um verdadeiro caminho de fé, permanece em aberto a questão dos direitos da comunidade LGBT. Em relação à qual a cidade está muito atenta.
Neste momento, a prefeitura tem sobre a mesa três diretrizes de trabalho. Uma normativa, uma ligada à luta contra os discursos de ódio e a outra à construção de um senso de acolhida a partir dos menores. A última iniciativa é justamente a mais interessante, por se dirigir às crianças. E ao modo de contar os contos de fadas.
Simplificando ao máximo: o fio condutor dessa iniciativa é “dizer ‘chega’ aos príncipes que salvam as princesas”. Os contos de fadas também podem ter príncipes que salvam outros príncipes. Ou princesas que salvam príncipes.
“É equivocado defender que certos temas devem ser abordados em uma idade mais adulta. Uma verdadeira educação à acolhida das diferenças ocorre trabalhando com as crianças”, afirma o assessor Rosatelli. Que, por meio de uma associação do Torino Pride montou um pequeno calendário de dias em que são contados “outros contos de fadas” em algumas bibliotecas da cidade.
Por enquanto, não há polêmicas. E a questão é levada em frente com orgulho por um assessorado que foca muito na questão LGBT. A questão dos filhos de casais homossexuais também se insere nesse contexto de uma “cidade que olha para a frente”.
“Vamos propor aos parlamentares piemonteses que assinem um projeto de lei que permita que os prefeitos assinem as certidões de nascimento das crianças filhas de duas mulheres ou de dois homens”, dizem na prefeitura. Contornando assim o julgamento dos tribunais. Que em Turim – recentemente – rejeitaram dois registros.
E se não aceitarem? “Terão que fazer as contas com a sua própria consciência. O que mais podemos fazer? Nós estamos abertos a todos. A cidade também é isso. Ou, melhor, deve ser isso, um laboratório que não se fecha ao mundo em mudança. Mas se abre e acolhe a todos. Sem distinção”, conclui o assessor Rosatelli.
Nessa ótica de abertura aos novos direitos, o papel da Igreja torna-se importante. O Pe. Alessandro Giraudo, da Cúria de Turim, ao falar da da crisma ao fiel trans, disse: “A Igreja acompanha o caminho de fé de qualquer pessoa que decidiu se envolver. Vivê-la está na base dos sacramentos da vida cristã”. E o escândalo de alguns não faz sentido. Mas sobre os casamentos ele destaca: “A doutrina da Igreja é clara e não prevê o casamento homossexual. São raríssimos os casos de casamentos de pessoas que, com a operação de mudança de sexo, podem eventualmente ter acesso ao casamento”. Tudo isso, porém, deve ser autorizado pela Santa Sé.
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Turim, a Igreja dos direitos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU