07 Fevereiro 2022
“Ninguém pode ser excluído da Igreja, somos todos pecadores salvos. A nossa santidade é fruto do amor de Deus que se manifestou em Cristo, que nos santifica amando-nos na nossa miséria e salvando-nos dela”, reflete o Papa Francisco.
Sua reflexão sobre o tema: "São José e a comunhão dos santos" (Leitura: 1Cor 12, 12-13) é publicada por Avvenire, 03-02-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Caros irmãos e irmãs, bom dia! Nas últimas semanas pudemos aprofundar a figura de São José, deixando-nos guiar pelas poucas, mas importantes informações que nos dão os Evangelhos, e também pelos aspectos de sua personalidade que a Igreja ao longo dos séculos pôde evidenciar através da oração e da devoção.
Partindo precisamente deste "sentimento comum" que acompanhou a figura de São José na história da Igreja, hoje gostaria de me deter sobre um importante artigo de fé que pode enriquecer a nossa vida cristã e também orientar da melhor forma a nossa relação com os santos e com nossos queridos defuntos: falo da comunhão dos santos.
Muitas vezes dizemos, no Credo: "Creio na comunhão dos santos". Mas quando se pergunta o que é a comunhão dos santos, lembro que quando criança eu respondia imediatamente: “Ah, os santos fazem a comunhão”. É algo que... nós não entendemos o que estamos dizendo. O que é a comunhão dos santos? Não é que os Santos estão comungando, não é isto: é outra coisa.
Às vezes, até o cristianismo pode cair em formas de devoção que parecem refletir uma mentalidade mais pagã do que cristã. A diferença fundamental é que nossa oração e nossa devoção do povo fiel não se baseia, nesses casos, na confiança em um ser humano, ou em uma imagem ou em um objeto, mesmo quando sabemos que são sagrados. O profeta Jeremias nos lembra: "Maldito o homem que confia no homem, [...] bendito o homem que confia no Senhor" (17,5-7).
Mesmo quando confiamos totalmente na intercessão de um santo, ou mais ainda da Virgem Maria, nossa confiança só tem valor em relação a Cristo. Como se o caminho para este santo ou Nossa Senhora não terminasse aí: não. Vai lá, mas em relação a Cristo. Cristo é o vínculo que nos une a Ele e entre nós que tem um nome específico: este vínculo que nos une a todos, entre nós e nós com Cristo, é a "comunhão dos santos".
Não são os santos que realizam milagres, não! "Este santo é tão milagroso...": não, pare: os santos não fazem milagres, mas apenas a graça de Deus que age através deles. Os milagres foram feitos por Deus, pela graça de Deus agindo através de uma pessoa santa, uma pessoa justa. Isso deve ficar claro.
Há quem diga: "Não acredito em Deus, mas acredito neste santo". Não, isso está errado. O santo é um intercessor, alguém que reza por nós e nós rezamos a ele, e ele reza por nós e o Senhor nos dá a graça: o Senhor age por meio do Santo.
O que, então, é a "comunhão dos santos"? O Catecismo da Igreja Católica afirma: "A comunhão dos santos é precisamente a Igreja" (n. 946). Mas veja só que bela definição! "A comunhão dos santos é precisamente a Igreja". O que isto significa? Que a Igreja está reservada para os perfeitos? Não. Significa que é a comunidade de pecadores salvos. A Igreja é a comunidade dos pecadores salvos. Essa definição é linda.
Ninguém pode ser excluído da Igreja, somos todos pecadores salvos. A nossa santidade é fruto do amor de Deus que se manifestou em Cristo, que nos santifica amando-nos na nossa miséria e salvando-nos dela. Sempre graças a Ele formamos um só corpo, diz São Paulo, no qual Jesus é a cabeça e nós somos os membros (cf. 1Cor 12,12).
Esta imagem do corpo de Cristo e a imagem do corpo nos fazem compreender imediatamente o que significa estar ligados uns aos outros em comunhão. “Se um membro padece - escreve São Paulo - todos os membros padecem com ele; e se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora vós sois o corpo de Cristo e, seus membros em particular” (1 Cor 12,26-27). Assim diz Paulo: somos todos um só corpo, todos unidos pela fé, pelo Batismo, todos em comunhão: unidos em comunhão com Jesus Cristo. E esta é a comunhão dos santos.
Caros irmãos e caras irmãs, a alegria e a dor que tocam minha vida dizem respeito a todos, assim como a alegria e a dor que tocam a vida do irmão e da irmã ao nosso lado também me dizem respeito. Não posso ficar indiferente aos outros, porque todos somos parte de um corpo, em comunhão. Nesse sentido, até o pecado de uma única pessoa sempre diz respeito a todos, e o amor de cada uma sempre diz respeito a todos.
Em virtude da comunhão dos santos, desta união, cada membro da Igreja está ligado a mim de maneira profunda - mas não digo a mim porque sou o Papa - estamos ligados uns aos outros e de maneira profunda, e esse vínculo é tão forte que não pode ser quebrado nem pela morte. De fato, a comunhão dos santos não diz respeito apenas aos irmãos e irmãs que estão ao meu lado neste momento histórico, mas também àqueles que concluíram sua peregrinação terrena e cruzaram o limiar da morte. Eles também estão em comunhão conosco.
Pensemos, caros irmãos e irmãs: em Cristo ninguém jamais poderá nos separar verdadeiramente daqueles que amamos, porque o vínculo é um vínculo existencial, um vínculo forte que está em nossa própria natureza; só muda a forma como estamos juntos com cada um deles, mas nada nem ninguém pode quebrar esse vínculo. “Padre, pensemos naqueles que negaram a fé, que são apóstatas, que são os perseguidores da Igreja, que renegaram seu batismo: estes também estão em casa?”. Sim, estes também, mesmo os blasfemadores, todos eles. Somos irmãos: esta é a comunhão dos santos. A comunhão dos santos mantém unida a comunidade dos crentes na terra e no céu.
Nesse sentido, a relação de amizade que posso construir com um irmão ou uma irmã ao meu lado, também posso estabelecer com um irmão ou irmã que está no Céu. Os santos são amigos com quem muitas vezes tecemos relações de amizades. O que chamamos de devoção a um santo - sou muito devoto desse santo, daquela santa - o que chamamos de devoção é na verdade uma forma de expressar o amor justamente a partir desse vínculo que nos une.
Além disso, também na vida cotidiana pode-se dizer: "Mas, essa pessoa tem tanta devoção aos seus velhos pais": não, é uma forma de amor, uma expressão de amor. E todos nós sabemos que sempre podemos recorrer a um amigo, especialmente quando estamos em dificuldade e precisamos de ajuda. E temos amigos no céu. Todos nós precisamos de amigos; todos nós precisamos de relações significativas para nos ajudar a enfrentar a vida.
Jesus também tinha seus amigos, e se voltava para eles nos momentos mais decisivos de sua experiência humana. Na história da Igreja há constantes que acompanham a comunidade crente: em primeiro lugar, o grande afeto e o vínculo muito forte que a Igreja sempre sentiu por Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Mas também a especial honra e afeição que prestou a São José. Afinal, Deus confia a ele as coisas mais preciosas que ele tem: seu Filho Jesus e a Virgem Maria.
É sempre graças à comunhão dos santos que sentimos perto de nós os Santos e as Santas que são nossos padroeiros, pelo nome que carregamos, por exemplo, pela Igreja a que pertencemos, pelo lugar onde vivemos, e assim por diante. Também para uma devoção pessoal. E esta é a confiança que deve sempre animar-nos a recorrer a eles nos momentos decisivos da nossa vida.
Não é uma coisa mágica, não é uma superstição, devoção aos santos; é simplesmente falar com um irmão, uma irmã que está diante de Deus, que viveu uma vida justa, uma vida santa, uma vida exemplar, e agora está diante de Deus. E eu falo com este irmão, com esta irmã e peço sua intercessão para as minhas necessidades.
Precisamente por isso, gosto de concluir esta catequese com uma oração a São José, a quem sou particularmente ligado e que recito todos os dias há mais de 40 anos. É uma oração que encontrei em um livro de orações das Irmãs de Jesus e Maria, de 1700, final de 1700. É linda, mas mais do que uma oração é um desafio a esse amigo, a esse pai, a esse nosso guardião que é São José. Seria maravilhoso que vocês aprendessem esta oração e pudessem repeti-la.
Vou lê-la:
“Ó glorioso São José, a quem foi dado o poder de tornar possível as coisas humanamente impossíveis, vinde em nosso auxílio nas dificuldades em que nos achamos. Tomai sob vossa proteção a causa importante que vos confiamos, para que tenha uma solução favorável. Ó Pai muito amado, em vós depositamos toda a nossa confiança. Que ninguém possa jamais dizer que vos invocamos em vão. Já que tudo podeis junto a Jesus e Maria, mostrai-nos que vossa bondade é igual ao vosso poder”.
E termina com um desafio, isso é desafiar São José: "Já que tudo podeis junto a Jesus e Maria, mostrai-me que a vossa bondade é tão grande quanto o vosso poder". Eu rezo a São José todos os dias, com esta oração, há mais de 40 anos: é uma oração antiga.
Vamos em frente, coragem, nesta comunhão de todos os santos que temos no céu e na terra: o Senhor não nos abandona.
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A Igreja é a comunidade dos "pecadores salvos" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU