14 Janeiro 2022
"Vamos reabrir a escola para ensinar às nossas crianças que a democracia implica a existência de um bem comum que não pode prescindir da responsabilidade de cada um", escreve Massimo Recalcati, psicanalista italiano e professor das Universidades de Pavia e de Verona, em artigo publicado por La Stampa, 13-01-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O enésimo passo em falso para depois voltar atrás? A pressão para reabrir a Escola, apesar do aumento das infecções, estará fadada a naufragar mais uma vez? Mas por que justamente agora, em plena quarta onda? Não seria melhor prolongar, como alguns governadores decidiram fazer de forma autônoma, seu fechamento?
Desde o início da pandemia, o problema do fechamento e da abertura da escola vem se apresentando de forma persistente. Três breves considerações em virtude deste enésimo retorno. A primeira diz respeito ao problema da segurança: aprendemos que a Escola como tal não é de forma alguma o local eletivo para a transmissão da infecção. Exatamente o contrário: a vigilância dos alunos e o respeito pelas medidas de segurança dentro de um sistema regulado fazem dele um dos locais mais seguros.
A segunda consideração diz respeito às novas gerações: nossos filhos exigem com crescente (e legítima) insistência voltar a viver em plena liberdade. Por esta razão não existem no vax entre as gerações mais jovens, senão numa percentagem limitadíssima e principalmente condicionada pelas decisões dos seus pais. Mas por que não existem no vax entre os jovens? Porque não existe cultura da suspeita, da conspiração, porque não existe medo em relação à vida, ou, se existe, esse medo não é suficiente para frear o ímpeto pela vida. Os adolescentes não temem a vacina porque temem muito mais as restrições efetivas de liberdade causadas por sua eventual recusa a ela.
A terceira consideração diz respeito à Escola em sentido estrito: a abertura da Escola é cada vez mais necessária em um país como a Itália que se revelou nestes tempos difíceis culturalmente atrasado, ideologicamente supersticioso, ainda atravessado por uma teimosa retórica populista.
A existência de professores no vax é, deste ponto de vista, uma absoluta contradição explícita.
Tivemos uma prova recente disso naquela aberração ligada ao uso das iniciais da Comissão de Libertação Nacional, historicamente ligada à grande temporada da resistência contra a ocupação nazifascista, para definir as razões políticas e culturais do movimento no vax. A extinção do sentimento de vergonha na vida política já é de longa data, mas sempre impressiona quando o uso irresponsável de categorias que dizem respeito à memória coletiva ocorre de forma tão brusca e prepotente, sem o menor cuidado com as pessoas que deram a vida por esses ideais. Este é um horror que só a vida cultural da Escola pode frear.
Portanto, é preciso reabrir a escola, voltar a estudar, afastar os monstros, gerar uma cultura autenticamente democrática. É provavelmente uma emergência muito maior, se me permitem, do que aquela da emergência sanitária. Sem uma escola digna desse nome, um país anula sua identidade. Não somente. Sabemos o quanto a cultura do ódio sempre faz sua necessária aparição nos momentos de maior crise e desorientação.
É necessário, mas não suficiente, responder a esta cultura com uma cultura de diálogo e da tolerância. Uma cultura de diálogo e tolerância que renunciasse a assumir com responsabilidade decisões que coloquem fim ao diálogo e à tolerância para marcar diferenças irreconciliáveis, contradiria a si mesma. É o espírito dos nossos tempos. Isso também acontece em famílias onde a retórica do diálogo oferece aos pais um álibi para não tomar decisões que poderiam torná-los menos amáveis aos olhos de seus filhos.
É preciso uma escola que funcione para explicar que a liberdade é algo mais que um direito individual, que sem pensamento da comunidade não há vida coletiva possível. Aqueles que reivindicam o direito à liberdade individual como um direito absoluto, desprovido de vínculos, deveriam voltar à escola, deveriam voltar a estudar.
A vida comunitária da Escola ensina, antes mesmo que no plano cultural, que ninguém pode prescindir dos regulamentos que ordenam a sua vida. Não se trata aqui tanto de dispositivos autoritários, mas do campo de treinamento fundamental da democracia. Vamos reabrir a escola para ensinar às nossas crianças que a democracia implica a existência de um bem comum que não pode prescindir da responsabilidade de cada um.
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A escola aberta como berço da democracia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU