06 Dezembro 2021
Os bispos de El Salvador convidam a todos para rezar, pedindo a Deus “que não permita que aconteça essa iminente catástrofe com consequências sérias e irreparáveis na vida e saúde das pessoas, animas e plantas”.
A reportagem é publicada por La Croix International, 03-12-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Mapa de El Salvador, na América Central (Foto: Reprodução | Google Maps)
Os bispos católicos de El Salvador estão convocando as pessoas para parar a poluição e considerar a água como um recurso precioso e um direito, e para o governo ratificar as reformas necessárias.
“A realidade da água em El Salvador é preocupante. A água é um recurso precioso que nós devemos proteger”, disse os bispos em declaração.
No país há 590 rios, dos quais 70% estão contaminados e suas águas não pode ser usada para consumo humano ou animal, apontam.
Os principais sistemas de irrigação usam essa água para cultivos e consumo subsequente de frutas e vegetais.
As fontes que geram poluição nos rios são empresas de vários tipos, que despejam seus resíduos nos rios, municípios que não têm sistemas de tratamento ou carecem de saneamento, afirmaram os bispos.
O lago Suchitlán, por exemplo, o maior reservatório de água doce de El Salvador, é um dos mais contaminados de toda a América Central.
Estudo da Associação Salvadorenha de Ajuda Humana Pró-Vida apontou altos teores de metais pesados, inseticidas proibidos, cianeto e algas tóxicas. Além disso, mais de 8,5 milhões de libras de fezes são depositadas no Suchitlán, causando proliferação de algas e eutrofização.
O Serviço Nacional de Estudos Territoriais relata que apenas 20% dos rios nacionais são seguros para beber.
A declaração da Conferência Episcopal lembra que os rios que correm em El Salvador têm origem em Honduras e na Guatemala, e que existem cerca de 42 projetos de mineração que ameaçam diretamente as bacias transfronteiriças e poluem os cursos de água.
Tudo isso, apesar de El Salvador em 2017 ter se tornado o primeiro país do mundo a banir a mineração de metais.
Os bispos apontam para o projeto de mineração Cerro Blanco, localizado em Asunción Mita, departamento de Jutiapa, Guatemala, a 14 quilômetros de El Salvador, em um importante aquífero subterrâneo entre o rio Ostúa e o município de Metapán, El Salvador.
O rio Ostúa poluirá o lago Güija, devido às quantidades de arsênico que receberá da atividade da mina Cerro Blanco, e o lago Güija poluirá o rio Lempa, por ser seu maior fornecedor de água, afirmam.
Rio Lempa, em El Salvador (Foto: Reprodução | Google Maps)
“Esta situação constitui uma grande ameaça para El Salvador, que deve ser enfrentada com urgência e a máxima preocupação”, afirmaram os bispos.
“Fazemos um apelo veemente às autoridades de nosso país para que tomem todas as medidas possíveis para impedir este projeto; e pedimos à comunidade internacional, que não permita tal desastre humano e ambiental”, disseram.
“Instamos todos os salvadorenhos a se manifestarem contra este ataque ao nosso país, contra a vida e a saúde das pessoas, contra a fauna e a flora”, afirmam os bispos, segundo a Fides.
El Salvador tem cerca de 2.500 conselhos de água e vários comitês comunitários (“Las Juntas de Agua”) que desempenham “uma importante função social e ambiental”, pois abastecem mais de meio milhão de famílias, especialmente na área rural do país, chegando a lugares onde o Estado não chega.
“São sistemas comunitários, não empresas privadas”, disseram os bispos, mas lamentaram que a “Lei Geral de Recursos Hídricos” aprovada pela Comissão ad hoc composta por deputados da Assembleia Legislativa as considere “empresas privadas”.
Historicamente, a gestão da água é controlada por grandes empresas.
Os bispos pedem que tenham a oportunidade de apresentar suas preocupações sobre a lei aprovada e cobram da Assembleia Legislativa a ratificação das reformas constitucionais sobre o direito humano à água e à alimentação adequada, já aprovadas.
“Em nome do povo, hoje levantamos a nossa voz para pedir esta ratificação”, concluem os bispos, convidando todos a rezar, a pedir a Deus “que não permita esta iminente catástrofe com consequências muito graves e irreparáveis na vida e saúde das pessoas, animais e plantas”.
A “Lei Geral de Recursos Hídricos” possui 164 artigos. Seu objetivo é garantir o cuidado das bacias, o reflorestamento, garantindo a água como um direito humano, e instituindo uma autoridade nacional de recursos hídricos que ficaria a cargo do Ministério do Meio Ambiente para regular a qualidade da água.
Observadores afirmam que a situação está paralisada quanto à questão de quem deve controlar o órgão governante: se apenas órgãos estaduais ou representantes da poderosa indústria de produtores de bebidas carbonatadas, sucos, cerveja e água engarrafada também serão incluídos.
El Salvador é o menor país da América Central e tem uma das maiores densidades populacionais da região, com mais de 300 habitantes por quilômetro quadrado.
Ao lado da Guatemala e de Honduras, também está entre os países mais pobres das Américas, onde mais de 40% das crianças de El Salvador vivem na pobreza, de acordo com a UNICEF.
O país está sofrendo gravemente com as consequências da mudança climática com secas e incêndios florestais destruindo áreas usadas para a produção de alimentos, enquanto furacões e inundações causam devastação generalizada e desmatamento e migração de animais estão afetando negativamente as fontes de água.
Essas crises deixaram 1,7 milhão de pessoas necessitadas em todo o país, deixando os habitantes mais pobres com água contaminada e pouco saneamento.
De acordo com o Projeto Borgen, uma organização sem fins lucrativos que trata da pobreza e da fome, a crise em El Salvador, onde vivem 6,1 milhões de pessoas, está perigosamente perto de ficar sem água, comprometendo o saneamento e a saúde.
“Os abundantes recursos hídricos de El Salvador também estão grosseiramente poluídos, com apenas 10% da água da superfície segura para beber”, disse, acrescentando que os especialistas preveem que o país será inabitável dentro de 80 anos.
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El Salvador. Bispos fazem da água potável uma questão pastoral. O país pode ficar inabitável em 80 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU