24 Novembro 2021
Francisco, falando em privado, na abertura da 75ª Assembleia da CEI, entregou a cada prelado presente um santinho no qual estão escritas as oito bem-aventuranças do bispo indicadas numa recente homilia por monsenhor Domenico Battaglia, arcebispo de Nápoles.
A reportagem é de Benedetta Capelli, publicada por Vatican News, 23-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
A imagem do Bom Pastor está no santinho que o Papa Francisco doou aos bispos presentes na abertura, ontem em Roma, da 75ª Assembleia Geral Extraordinária da Conferência Episcopal Italiana. “O pastor que se assemelha a Jesus – havia dito ele numa homilia em Santa Marta em 3 de maio de 2020 - dá confiança ao rebanho, porque Ele é a porta”.
Aqui já se podem perceber algumas das características que o Papa, no seu magistério, tem repetidamente sugerido aos bispos, como, por exemplo, a "mansidão" e a "ternura da proximidade". No verso do santinho presenteado, Francisco retoma as 8 bem-aventuranças que o arcebispo de Nápoles, em uma homilia proferida em 31 de outubro de 2021, indicou na missa de ordenação de três novos prelados. Oito bem-aventuranças reescritas, havia esclarecido monsenhor Domenico Battaglia, sobre o serviço que a Igreja confia.
Obra "Christ as the good shepherd", de Lucas Cranach. (Foto: Wikimedia Commons)
“Bem-aventurado o Bispo que faz pobreza e partilha o seu estilo de vida, porque com o seu testemunho está construindo o reino dos céus”.
“O bispo - disse o Papa a 8 de setembro de 2018 aos bispos dos territórios de missão - não vive no gabinete, como um administrador de empresas, mas entre as pessoas, nas estradas do mundo, como Jesus. Ele leva o seu Senhor onde não é conhecido, onde é desfigurado e perseguido. E saindo de si encontra a si mesmo”.
“Bem-aventurado o Bispo que não tem medo de marcar seu rosto com as lágrimas, para que nelas possam ser refletidas as dores das pessoas, a labuta dos presbíteros, encontrando no abraço com os que sofrem a consolação de Deus".
Francisco falou repetidamente da "graça das lágrimas"; graça especialmente válida para quem está investido de um serviço como o episcopado. Na vigília de oração “Para enxugar as lágrimas”, na Basílica do Vaticano, no dia 5 de maio de 2016, ele afirmou: “Se Deus chorou, também eu posso chorar sabendo que fui compreendido. O choro de Jesus é o antídoto contra a indiferença pelo sofrimento dos meus irmãos. Aquele choro me ensina a fazer minha a dor alheia, a participar do desconforto e do sofrimento daqueles que vivem nas situações mais dolorosas”.
“Bem-aventurado o Bispo que considera seu ministério um serviço e não um poder, fazendo da mansidão sua força, dando a todos o direito de cidadania no seu coração, para habitar a terra prometida aos mansos”.
“Não é verdadeiro episcopado se não houver serviço - disse o Papa na missa de ordenação episcopal no último dia 17 de outubro - não de uma honra, como queriam os discípulos, um à direita, outro à esquerda, pois ao bispo cabe mais o servir do que o dominar, de acordo com o mandamento do Mestre: 'Quem for o maior entre vocês, torne-se como o menor. E quem governa, como quem serve'. Servir. E com esse serviço, vocês estarão cuidando da vossa vocação e serão autênticos pastores no servir, não nas honras, na autoridade, no poder ... Não, servir, sempre servir”.
“Bem-aventurado o Bispo que não se fecha nos palácios do governo, que não se torna um burocrata mais atento às estatísticas do que aos rostos, aos procedimentos do que às histórias, tentando lutar ao lado do homem pelo sonho de justiça de Deus por que o Senhor, encontrado no silêncio da oração cotidiana, será o seu alimento”.
Na homilia da Missa em Santa Marta de 12 de novembro de 2018, o Papa, lembrando que Paulo deixa Tito em Creta para pôr ordem na Igreja, indica critérios e instruções. “A definição que ele dá do bispo é de um 'administrador de Deus', não dos bens, do poder, dos grupos, não: de Deus. Sempre deve corrigir a si mesmo e se perguntar: 'Eu sou o administrador de Deus ou sou um negociante interesseiro?' O bispo é o administrador de Deus, deve ser perfeito: esta palavra é a mesma que Deus pediu a Abraão: 'Anda na minha presença e sê perfeito’. É a palavra que caracteriza, de um líder”.
“Bem-aventurado o Bispo que tem coração pela miséria do mundo, que não tem medo de sujar as mãos com a lama do espírito humano para encontrar nele o ouro de Deus, que não se escandaliza com o pecado e com a fragilidade alheia porque está ciente da própria miséria, porque o olhar do Crucifixo Ressuscitado será para ele o símbolo do perdão infinito”.
Encontrando-se com os bispos de missão em 19 de setembro de 2013, Francisco lembrou que os bispos são “esposos da sua comunidade, profundamente ligados a ela! Peço-lhe, por favor, que fiquem entre o seu povo. Ficar, ficar... Evitem o escândalo de serem 'bispos de aeroporto'! Sede Pastores acolhedores, em caminho com o vosso povo, com afeto, com misericórdia, com doçura no tratamento e firmeza paterna, com humildade e discrição, capazes de olhar também para os vossos limites e ter uma dose de bom humor”.
“Bem-aventurado o Bispo que afasta a duplicidade de coração, que evita qualquer dinâmica ambígua, que sonha com o bem até no meio do mal, porque poderá alegrar-se com o rosto de Deus, encontrando o seu reflexo em cada poça d’água da cidade de homens".
A duplicidade se supera com a verdade que vem ao olhar para Jesus. Francisco, várias vezes, indicou a oração como prioridade. “A primeira tarefa do bispo - disse na homilia da missa de Santa Marta no dia 22 de janeiro de 2016 - é estar com Jesus na oração”, “não é fazer planos pastorais” enquanto “a segunda tarefa é ser testemunha, isto é, pregar: pregar a salvação que o Senhor Jesus nos trouxe”. Duas tarefas que não são fáceis, mas que são pilares da Igreja. “Se esses pilares enfraquecem, porque o bispo não ora ou ora pouco, ele se esquece de orar; ou porque o bispo não anuncia o Evangelho, ele cuida de outras coisas, a Igreja também se enfraquece; sofre. O povo de Deus sofre”.
"Bem-aventurado o Bispo que trabalha pela paz, que acompanha os caminhos da reconciliação, que semeia no seio do presbitério a semente da comunhão, que acompanha uma sociedade dividida no caminho da reconciliação, que leva todo homem e mulher de boa vontade pela mão para construir a fraternidade: Deus o reconhecerá como seu filho”.
Na audiência com os bispos do Movimento dos Focolares, 25 de setembro de 2021, Francisco explicou que o Papa e os bispos estão “a serviço não de uma unidade externa, de uma 'uniformidade', mas do mistério de comunhão que é a Igreja em Cristo e no Espírito Santo, a Igreja como Corpo vivo, como povo em caminho na história e ao mesmo tempo para além da história”. Diante das “sombras de um mundo fechado” - acrescentou - onde tantos sonhos de unidade “se despedaçam”, onde falta “um projeto para todos” e a globalização navega “sem uma rota comum”, onde o flagelo da pandemia corre o risco de exasperar as desigualdades, o Espírito nos chama a "ter a audácia de ser um".
"Bem-aventurado o Bispo que pelo Evangelho não teme ir contra a corrente, endurecendo o seu rosto como o de Cristo rumo a Jerusalém, sem se deixar deter pelas incompreensões e os obstáculos porque sabe que o Reino de Deus avança na contradição do mundo”.
Francisco repetidamente exortou a colocar em Deus a confiança quando se sente medo, sem buscar refúgio no mundo, em suas gratificações, porque somente Nele "todo o medo é afastado", a pessoa fica livre "de toda escravidão e de toda tentação mundana". Na Missa celebrada a 29 de junho de 2014 ele concluiu a homilia com uma oração intensa:
O Senhor repete hoje a mim, a vós e a todos os Pastores: Siga-me! Não perca tempo com perguntas ou conversas inúteis; não se demore nas coisas secundárias, mas olhe para o essencial e siga-me. Siga-me apesar das dificuldades. Siga-me na pregação do Evangelho. Siga-me no testemunho de uma vida correspondente ao dom da graça do Batismo e da Ordenação. Siga-me falando de mim mesmo àqueles com quem você convive, dia após dia, no esforço do trabalho, do diálogo e da amizade. Siga-me no anúncio do Evangelho a todos, especialmente aos últimos, para que a ninguém falte a Palavra de vida, que nos liberta de todo o medo e doa confiança na fidelidade de Deus.
Siga-me!
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O presente do Papa aos bispos italianos em nome das Bem-aventuranças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU