A inquietude diante da repetição de “2 de junhos” no Brasil

Foto: Roberto Parizotti | Fotos Públicas

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20 Novembro 2021

 

"A vida pode ser efêmera, como escancarado pelo caso do pequeno Miguel Otávio, mas a arte não é. Ela, assim como as coberturas jornalísticas de episódios de racismo, entra para a história como um registro da nossa inquietude diante de tanta dor e preconceito", escreve Marina Tusset, estagiária e aluna do curso de Jornalismo da Unisinos, 20-11-2021.

 

Eis o artigo.

 

Incontáveis vidas que importam, perdidas. No país negro e racista no coração da América Latina, assim descrito por Adriana Calcanhotto, assistir às notícias e se deparar com mais uma morte negra faz parte do cotidiano brasileiro, que tem sido racista desde que o Brasil se conhece por país.

Manchada com o terrível marco de último território da América Latina a abolir a escravatura, a história brasileira registra inúmeros casos de injúria racial nas suas páginas, sem contar aqueles que nunca sequer foram reportados. Já se passaram 133 anos desde a Lei Áurea, mas os direitos dos atuais 54% dos brasileiros que se consideram negros (de acordo com dados do IBGE divulgados pelo Jornal da USP), foram conquistados em marcha lenta, e essa população ainda sofre com a cultura racista que perpetua no Brasil.

Por que nos chocamos quando assistimos a um noticiário e vemos um jornalista negro na bancada? Por que é preciso uma morte tão brutal como a de George Floyd ou a de Miguel Otávio para que episódios de racismo recebam a devida atenção da mídia? Por que nos chocamos toda vez que o racismo é noticiado com uma roupagem diferente? Seja Matheus Pires, o entregador por aplicativo que foi agredido verbalmente por um morador branco de um condomínio; seja Maíza de Oliveira, vítima de comentários racistas em grupos de WhatsApp depois de vencer um concurso de beleza em sua cidade ou qualquer uma das crianças e gestantes mortas por balas perdidas nas favelas, notas de repúdio e de lamento não são suficientes para proteger os negros brasileiros.

São “2 de junhos” que se repetem, e repetem, e repetem até que se tornam comuns. Se 84% dos brasileiros consideram o seu país como racista (segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva encomendada pelo Carrefour e divulgada em 2021), onde estão as políticas necessárias para erradicar o racismo estrutural no Brasil?

A vida pode ser efêmera, como escancarado pelo caso do pequeno Miguel Otávio, mas a arte não é. Ela, assim como as coberturas jornalísticas de episódios de racismo, entra para a história como um registro da nossa inquietude diante de tanta dor e preconceito. E Adriana Calcanhotto faz um belíssimo trabalho ao garantir que essa inquietação não caia no esquecimento, do mesmo jeito que Ícaro e Miguel caíram quando tentaram voar.

 

 

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