04 Novembro 2021
A irmã Christine Danel, superiora-geral da Congregação das Xaverianas, focou sobre a santidade à luz dos escândalos de abusos sexuais na Igreja.
A reportagem é de Mélinée Le Priol, publicada por La Croix, 03-11-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Uma superiora religiosa da França esteve sob holofotes esta semana depois de “pregar” para cerca de 7 mil pessoas que se reuniram para a missa na cidade portuária de Marselha, no Mediterrâneo.
“Eu estou impressionada pelo número de pessoas que me agradeceram e me parabenizaram por essa meditação sobre o Dia de Todos os Santos”, disse Christine Danel, superiora-geral das Irmãs Xaverianas ou Missionárias de Jesus Cristo.
A irmã de 55 anos ofereceu uma reflexão sobre a santidade diretamente depois de um bispo proferir a homilia.
A missa, na segunda-feira, concluía a semana de celebrações da Família Inaciana, que inclui os jesuítas, várias congregações religiosas femininas e outros grupos ligados à espiritualidade de Santo Inácio de Loyola.
“Eles não estavam muito interessados no que eu disse, mas no fato de que uma mulher falou naquele momento da missa”, disse Danel ao La Croix.
“É verdade que isso não acontece com frequência”, destacou.
O arcebispo Jean-Marc Aveline, de Marselha, o presidente da liturgia do Dia de Todos os Santos, pregou sobre a passagem do evangelho do dia.
Mas ele então convidou a irmã Christine, cuja congregação religiosa foi fundada em sua diocese há 100 anos, para oferecer “alguns caminhos para a meditação”.
O padre François Boëdec, chefe da província jesuíta da Europa Ocidental, propôs a ideia.
A irmã Christine, que vestia um colete roxo que membros de ordens religiosas de inspiração inaciana vestiram durante o encontro em Marselha, falou por pouco mais de cinco minutos.
“Todos os santos: como ousamos falar de santidade depois de descobrir a extensão dos crimes perpetrados em nossa Igreja?”, começou.
“Como a sexualidade, o poder e o sagrado podem ter se tornado tão desorientados? Precisamos de muita humildade, em nossas palavras, e de muita coragem, em nossas ações, para nos reformarmos”, disse Danel, que já foi superior das Missionárias de Jesus.
Ela exortou aqueles que estavam reunidos a não confundir “santos” com “anjos” e a desconfiar da ilusão de perfeição.
“É uma isca, que pode nos levar à frustração, rancor ou hipocrisia, e a mascarar nossas falhas”, alertou.
Danel ecoou algumas das propostas que a Comissão Independente da França sobre Abuso Sexual na Igreja (CIASE) emitiu no relatório condenatório que publicou no mês passado.
“Temos um longo caminho a percorrer para desenvolver essa alteridade, essa complementaridade, em todas as áreas da Igreja, incluindo o acesso à voz e à governança”, disse ela.
Esse “acesso a ter voz” ainda é um trabalho em andamento, considerando que somente os padres e os diáconos podem pregar a homilia na missa.
É muito raro ouvir uma mulher falar na Igreja após a proclamação do Evangelho, embora, na ausência de um padre, os leigos possam comentar as leituras das escrituras durante a Celebração da Palavra (com ou sem Comunhão) – que é, quando a Eucaristia não é celebrada.
Mas essa questão de abrir o ministério da pregação aos leigos se tornou um tema recorrente em muitas partes da Igreja.
Há um apoio particularmente forte para isso na Alemanha, por exemplo.
O Papa Francisco emitiu um motu proprio em janeiro passado que permite especificamente que as mulheres sejam oficialmente comissionadas para os ministérios de leitoras e acólitas.
Simbolicamente, esse texto magistral afirma que as mulheres têm lugar no altar.
Mas isso é verdade apenas para ministérios menores. Atualmente, as mulheres não podem ser ordenadas diáconas ou sacerdotes, as únicas pessoas que podem pregar a homilia na missa.
Permitir que um leigo ofereça uma meditação logo após a homilia seria um meio-termo satisfatório?
“Possivelmente, poderia responder a uma forte necessidade hoje de ter uma pluralidade de vozes na Igreja e uma visão diferente da Palavra de Deus”, disse irmã Christine.
A Família Inaciana permitiu este e outros gestos simbólicos durante seu encontro em Marselha.
Durante a missa do Dia de Todos os Santos, por exemplo, apenas uma minoria dos padres presentes estava ao redor do altar.
A maioria deles estava espalhada pela assembleia, e até mesmo alguns na última fileira.
O lecionário foi trazido por uma procissão de crianças liderada por uma menina.
E durante a vigília de oração da noite anterior, uma mulher deu a bênção final.
Mais precisamente, ela convidou todos os participantes a levantarem as mãos para abençoar uns aos outros.
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França. Mulher conduz “meditação pós-homilia” na missa de encerramento do encontro da Família Inaciana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU