04 Outubro 2021
“O próprio Cristo escolheu viver uma vida repleta de muitos relacionamentos e conexões. Ele escolheu laços poderosos de fraternidade. Ele fez conexões profundas em suas amizades com mulheres. Ele nos mostrou com suas ações que o amor não é apenas o dom de um homem e de uma mulher. Portanto, escolhi celebrar isso e viver no espírito de minha oração Lakota, Mitakuye Oyasin. Todas as nossas relações são sagradas.”, escreve Maka Black Elk, mestre em Educação para a Paz na Universidade de Columbia e diretor para a Verdade e Reparação na escola indígena jesuíta Red Cloud, na Dakota do Sul, EUA, em artigo publicado por New Ways Ministry, 03-10-2021.
Na liturgia de hoje (domingo, dia 03-10-2021), nós lembramos que “Deus os fez homem e mulher” quando criou a humanidade (Marcos 10, 6). Quando eu comecei a refletir sobre esse versículo, os primeiros pensamentos que vieram à minha mente foram as formas nas quais essa passagem é tão frequentemente usada para destruir a legitimidade das pessoas LGBTQIA+. Eu quero especialmente reconhecer a comunidade não-binária, que reconhece as limitações dos gêneros binários – a ideia de que há apenas dois tipos de gêneros, opostos entre si – e mostrar como podemos transcender isto. Muitos de nós estão familiarizados com os sentimentos e experiências de quando a escritura é instrumentalizada para negar nossa humanidade e riqueza.
Eu escutei uma vez que Deus primeiro admitiu o erro de ter feito o homem sozinho. Deus disse, “não é bom para o homem ser sozinho” (Gn 2, 18) e então criou muitas coisas que vagam pela terra. Nós todos estamos em relações uns com os outros, e Deus achou que isso é bom. Eu também escutei que em muitos espaços católicos, nós somos feitos para estar em relação um com os outros à imagem de Deus. Embora certamente tenhamos sido feitos um para o outro, está claro nas escrituras que o homem foi feito para ter muitos relacionamentos com muitas coisas.
Venho de origem indígena e também católica. Na minha cultura Lakota, usamos uma frase particular quando oramos, “Mitakuye Oyasin”. Traduzido, significa “todas as nossas relações”. É um lembrete de que estamos conectados com tudo e com todos. Somos presentes uns para os outros, e a Criação traz muitos outros presentes também. A Criação é um ato belo e sagrado e, portanto, o dom do homem e da mulher é lindo. Mas isso não significa que outros relacionamentos não importem. Todos os nossos relacionamentos amorosos são sagrados. Existe beleza em todas as maneiras como encontramos e expressamos amor.
Por causa do dom da Criação, todos nós viemos de uma família, e muitas pessoas LGBTQIA+ criaram novas famílias. Temos o direito inerente de pertencer a uma família, seja ela aquela em que nascemos ou uma que criamos por conta própria. Até a vida religiosa é uma escolha de um novo tipo de família. Nossos relacionamentos são válidos e vivificantes, independentemente de sua capacidade “natural” de produzir vida.
As escrituras de hoje celebram os dons que um homem e uma mulher podem trazer para a Criação. É bom comemorar isso e saber que não é preciso diminuir os dons especiais que as pessoas LGBTQIA+ também trazem para o mundo e para a Igreja: o dom da nossa expansão da família, o dom da nossa abertura, o exemplo do novo e dos diferentes tipos de relacionamento e, acima de tudo, nosso dom de amor.
O próprio Cristo escolheu viver uma vida repleta de muitos relacionamentos e conexões. Ele escolheu laços poderosos de fraternidade. Ele fez conexões profundas em suas amizades com mulheres. Ele nos mostrou com suas ações que o amor não é apenas o dom de um homem e de uma mulher. Portanto, escolhi celebrar isso e viver no espírito de minha oração Lakota, Mitakuye Oyasin. Todas as nossas relações são sagradas.
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Todas as nossas relações são sagradas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU