“Todo fechamento afasta quem não pensa como nós. O Espírito Santo quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja espaço para todos”

Papa Francisco no Angelus, em 26-09. (Foto: Vatican Media)

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27 Setembro 2021

 

"Todo fechamento, de fato, afasta quem não pensa como nós e isso - sabemos - está na raiz de muitos males da história: do absolutismo que tantas vezes gerou ditaduras e de tantas violências contra eles quem é diferente", alertou o Papa Francisco no Angelus com os fieis e os peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, em Roma, no dia de 26-09-2021.

 

Segundo Francisco, "também é preciso zelar sobre o fechamento na Igreja. Porque o diabo, que é o divisor - isso significa a palavra “diabo”, que faz a divisão - sempre insinua suspeitas para dividir e excluir as pessoas. Tenta astuciosamente, e pode acontecer como com aqueles discípulos, que chegam a excluir até mesmo quem havia expulsado o próprio diabo! Às vezes também nós, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de ser “os primeiros da classe” e manter os outros à distância; em vez de tentar caminhar com todos, podemos exibir a nossa “licença de crente”: “eu sou crente”, “eu sou católico”, “eu sou católica”, “eu pertenço a esta associação, à outra... "; e os outros pobrezinhos não. Este é um pecado".

 

A texto é publicado por Vatican News, 26-09-2021. A tradução é de Luisa Rabolini

"Que Deus nos proteja da mentalidade do "ninho", - suplicou o Papa - a de nos cuidar zelosamente no pequeno grupo daqueles que se consideram bons: o padre com seus fidelíssimos, os agentes pastorais fechados entre si para que ninguém se infiltre, os movimentos e as associações em seu carisma particular, e assim por diante. Fechados".

E com força afirmou: "O Espírito Santo não quer fechamentos; quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja espaço para todos".

 

Eis o texto.

 

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

 

O Evangelho da liturgia de hoje nos fala de um breve diálogo entre Jesus e o apóstolo João, que fala em nome de todo o grupo dos discípulos. Eles viram um homem expulsando demônios em nome do Senhor, mas o impediram de fazer isso porque ele não fazia parte do seu grupo. Nesse ponto, Jesus convida-os a não criar obstáculos aos que se empenham pelo bem, porque contribuem para a realização do desígnio de Deus (cf. Mc 9,38-41). Depois adverte: em vez de dividir as pessoas em boas e más, todos somos chamados a zelar pelo nosso coração, para não sucumbir ao mal e gerar escândalo aos outros (cf. vv. 42-45.47-48).

As palavras de Jesus revelam uma tentação e oferecem uma exortação. A tentação é a do fechamento. Os discípulos gostariam de impedir uma obre de bem apenas porque aquele que o fez não pertencia ao seu grupo. Eles pensam que têm "direitos exclusivos sobre Jesus" e que são os únicos autorizados a trabalhar pelo Reino de Deus, mas assim acabam por se sentir prediletos e consideram os outros como estranhos, até se tornarem hostis para com eles. Irmãos e irmãs, todo fechamento, de fato, afasta quem não pensa como nós e isso - sabemos - está na raiz de muitos males da história: do absolutismo que tantas vezes gerou ditaduras e de tantas violências contra eles quem é diferente.

Mas também é preciso zelar sobre o fechamento na Igreja. Porque o diabo, que é o divisor - isso significa a palavra “diabo”, que faz a divisão - sempre insinua suspeitas para dividir e excluir as pessoas. Tenta astuciosamente, e pode acontecer como com aqueles discípulos, que chegam a excluir até mesmo quem havia expulsado o próprio diabo! Às vezes também nós, em vez de sermos comunidades humildes e abertas, podemos dar a impressão de ser “os primeiros da classe” e manter os outros à distância; em vez de tentar caminhar com todos, podemos exibir a nossa “licença de crente”: “eu sou crente”, “eu sou católico”, “eu sou católica”, “eu pertenço a esta associação, à outra... "; e os outros pobrezinhos não. Este é um pecado. Exibir a "licença de crentes" para julgar e excluir. Vamos pedir a graça de superar a tentação de julgar e catalogar, e que Deus nos proteja da mentalidade do "ninho", a de nos cuidar zelosamente no pequeno grupo daqueles que se consideram bons: o padre com seus fidelíssimos, os agentes pastorais fechados entre si para que ninguém se infiltre, os movimentos e as associações em seu carisma particular, e assim por diante. Fechados. Tudo isso corre o risco de tornar as comunidades cristãs lugares de separação e não de comunhão. O Espírito Santo não quer fechamentos; quer abertura, comunidades acolhedoras onde haja espaço para todos.

E depois, no Evangelho, há a exortação de Jesus: em vez de julgar a tudo e a todos, prestemos atenção a nós mesmos! De fato, o risco é sermos inflexíveis com os outros e indulgentes conosco. E Jesus exorta-nos a não nos compactuar com o mal, com imagens contundentes: "Se algo em ti causa é motivo de escândalo, corta-o!" (cf. vv. 43-48). Se é ruim para você, corte-o! Não diz: “Se algo é motivo de escândalo, pare, pense a respeito, melhore um pouco ...”. Não: “Corte-o! Imediatamente!". Jesus é radical nisso, exigente, mas para o nosso bem, como um bom médico. Cada corte, cada poda, é para crescer melhor e gerar fruto no amor. Perguntemo-nos então: o que há em mim que contrasta com o Evangelho? O que, concretamente, Jesus quer que eu corte em minha vida?

 

 

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