A emergência climática, as novas gerações e a Greve Climática Global. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Foto: Unsplash

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Setembro 2021

 

"A maioria dos adultos de hoje não estarão vivos em 2100 e nem vão vivenciar os maiores danos da emergência climática. O impacto da crise climática e ambiental atingirá essencialmente as crianças e adolescentes atuais e, principalmente, as novas gerações que ainda vão nascer", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 07-09-2021.

 

Eis o artigo.

 

Metade das crianças e adolescentes do mundo (1 bilhão de pessoas) está extremamente exposta aos impactos da crise climática e as novas gerações serão, proporcionalmente, as mais penalizadas pelas mudanças climáticas, segundo relatório divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), no dia 20 de agosto de 2021.

A Divisão de População da ONU estima que haja 2,23 bilhões de crianças e adolescentes de 0 a 16 anos e 2,48 bilhões de 0 a 18 anos, em 2020, sendo que a Unicef estima que cerca de 1 bilhão de crianças e adolescentes estão altamente exposta à escassez de água e a níveis extremamente altos de poluição do ar. A apresentação do relatório foi feita pela ativista Greta Thunberg.

Em conformidade com um último relatório do IPCC, o documento mostra que estamos cruzando os principais limites do sistema natural da Terra, incluindo a mudança climática, perda de biodiversidade e aumentando os níveis de poluição no ar, solo, água e oceanos.

Os perigos do clima e do meio ambiente, choques e estresses já estão causando impactos devastadores no bem-estar das crianças ao redor do mundo.

Na medida em que esses limites são violados, o delicado equilíbrio natural, o qual a civilização humana dependeu para crescer e prosperar, também é afetado. As crianças do mundo não podem mais contar com essas condições e devem fazer seu caminho em um mundo que se tornará demasiado perigoso e incerto nos próximos anos e décadas.

Utilizando dados geográficos de alta resolução, o relatório da Unicef apresenta novas evidências globais de quantas crianças estão atualmente expostas a uma variedade de perigos climáticos e ambientais, choques e estresses, conforme mostra o gráfico abaixo.

 

 

Por exemplo, o relatório lista os eventos de início repentino e moderadamente repentino que vão afetar as jovens gerações:

  • 820 milhões de crianças (mais de um terço do total de crianças no mundo) estão atualmente expostas às ondas de calor. É provável que a situação se agrave, na medida em que a temperatura média da Terra aumenta e padrões climáticos se tornam mais erráticos. O ano de 2020 ficou empatado como o ano mais quente já registrado.
  • 400 milhões de crianças (aproximadamente 1 a cada 6 crianças no mundo) estão atualmente expostas aos ciclones. É provável que a situação se agrave, na medida em que ciclones de alta intensidade (isto é, Categorias 4 e 5) aumentaram em frequência, aumentando a intensidade de precipitações, e que faz com que os padrões de ciclone mudem.
  • 330 milhões de crianças (1 a cada 7 crianças no mundo) estão atualmente altamente expostas à inundações fluviais. É provável que a situação se agrave, na medida em que as geleiras derretem e as precipitações aumentam, devido ao alto teor de água na atmosfera, que é resultado de maiores temperaturas médias.
  • 240 milhões de crianças (1 a cada 10 crianças no mundo) estão atualmente altamente expostas à inundações costeiras. É provável que a situação se agrave, ao passo que os níveis do mar continuam aumentando, com os efeitos consideravelmente ampliados quando combinados com tempestades.

No artigo “92% da população mundial de 2100 ainda não nasceu” (ALVES, 04/10/2019) mostrei que: “Somente 0,2% dos adultos de hoje, que nasceram no século XX, devem estar vivos em 2100 e apenas 8% da população de 2100 será composta pelos jovens de 0 a 19 anos atuais. Portanto, as consequências mais drásticas da crise climática e ambiental serão sentidas, em menor grau, pelas crianças e adolescentes atuais e, em maior grau, pelas gerações futuras que ainda nem nasceram”. Os adultos e idosos atuais estão deixando uma lamentável herança maldita para as gerações futuras.

Ou seja, a maioria dos adultos de hoje não estarão vivos em 2100 e nem vão vivenciar os maiores danos da emergência climática. O impacto da crise climática e ambiental atingirá essencialmente as crianças e adolescentes atuais e, principalmente, as novas gerações que ainda vão nascer. Desta forma, os jovens estão indo para as ruas para lutar contra a possibilidade de um colapso ecológico.

No mês que vem a juventude vai para as ruas para protestar contra a situação atual. Neste sentido, vale a pena ver a convocação da Greve climática global em 24 de setembro de 2021:

“Devemos agir agora para conter a crise climática, a extinção global de espécies e para poder cumprir o limite de 1,5 graus estabelecido pelo Acordo de Paris. Quem desejar obter nosso voto nas próximas eleições deve proteger a liberdade das gerações futuras. Deverá entender que oferecer uma solução para a crise climática é uma grande oportunidade de tornar nossa sociedade mais moderna, mais democrática e mais justa, com a criação de milhões de bons empregos e a oferta de uma vida melhor para todos. Solicitamos ao futuro governo que:

  • Abandone o carvão o mais tardar em 2030, e garanta que as populações afetadas por projetos de mineração de carvão não percam suas casas
  • expanda as energias renováveis ​​para pelo menos 80% do consumo bruto de eletricidade até 2030, de uma forma que a geração de energia seja cada vez mais ambiental e socialmente aceitável. O novo governo deve investir em eficiência em alternativas ao gás natural, como o hidrogênio verde.
  • invista mais em transportes públicos locais e amplie a infraestrutura de bicicletas, interrompendo todos os novos projetos de rodovias. Também deverá banir a venda de automóveis movidos a motores de combustão interna. Nossa proposta é a eliminação gradual desses veículos antes de 2030.
  • esteja comprometido com o clima e uma agricultura ecologicamente correta com preços justos para os produtores, bem com uma pecuária ecologicamente responsável. Deve também vincular os subsídios agrícolas predominantemente a prestação de serviços ecológicos.
  • que promova uma transformação socioecológica da economia através de investimentos em tecnologias e processos econômicos climaticamente amigáveis, em vez de continuar a subsidiar ramos da economia que causam danos ao clima.
  • garanta bons salários e crie um estado de bem-estar solidário para que a eletricidade, a habitação, a alimentação e a mobilidade sejam amigas do clima e ao mesmo tempo acessíveis a todos.
  • Defenda a justiça climática no Sul Global e que pelo menos dobre o financiamento climático até 2025.
  • que rejeite acordos multilaterais prejudiciais ao clima”.

A Greve Climática tem números catastróficos para mostrar. A Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou relatório no dia 31 de agosto mostrando que o número de desastres – como inundações e ondas de calor, causados pela mudança climática – aumentou cinco vezes nos últimos 50 anos, matando mais de 2 milhões de pessoas e custando US$ 3,64 trilhões em perdas totais. Ainda de acordo com a OMM, aconteceu em média um desastre vinculado ao clima a cada dia dos últimos 50 anos, provocando o equivalente à morte de 115 pessoas e perdas materiais de US$ 202 milhões por dia. A tendência é que isto piore nos próximos 50 anos e serão os jovens atuais e as novas gerações serão os mais impactados pela crise climática e ambiental.

 

Referências

ALVES, JED. 92% da população mundial de 2100 ainda não nasceu, Ecodebate, 04/10/2019. Disponível aqui.

ALVES, JED. Greta Thunberg pede o fim do uso dos combustíveis fósseis e emissão zero de CO2, Ecodebate, 27/01/2020. Disponível aqui.

UNICEF. A crise climática é uma crise de direitos das crianças. Introduzindo o Index de risco climático para as crianças, 20/08/2021. Disponível aqui.

OMM. Weather-related disasters increase over past 50 years, causing more damage but fewer deaths, 31/08/2021. Disponível aqui.

Greve climática global – 24 de setembro de 2021. Disponível aqui.

Greve climática global em 24 de setembro de 2021. Disponível aqui.

 

Leia mais