Guatemala. Companhia de Jesus se manifesta diante da delicada situação nacional

Foto: Unsplash

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

04 Agosto 2021

 

A Companhia de Jesus na Guatemala, pertencente à Província Centro-Americana, pronunciou-se “diante da preocupante situação nacional que vem ocorrendo nos últimos meses”.

A carta é publicada por Jesuítas da América Latina, 30-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

 

Eis a carta.

 

Companhia de Jesus na Guatemala
Província Centro-Americana da Companhia de Jesus.

Viver com dignidade não deve ser uma utopia, nem um privilégio.

 

As diferentes obras e redes apostólicas da Companhia de Jesus na Guatemala, reunidas em Assembleia Nacional para celebrar a festa de seu patrono, Santo Inácio de Loyola, queremos nos pronunciar diante da preocupante situação nacional que vem ocorrendo nos últimos meses.

Percebemos com preocupação a deterioração da vida da maioria das e dos guatemaltecos, que se produz não apenas pela crise da pandemia, mas por uma crise estrutural que estamos sofrendo há muito tempo e que se agudizou nestes últimos anos.

Uma das preferências apostólicas universais da Companhia de Jesus é caminhar juntos aos empobrecidos, os descartados, os vulneráveis em sua dignidade em uma missão de reconciliação e justiça. Preocupa-nos a deterioração e desinteresse das autoridades do governo e alguns setores privilegiados do país, pelo combate à corrupção e à impunidade. Os acontecimentos recentes assim o evidenciam.

A destituição repentina do advogado Juan Francisco Sandoval, que se desempenhou com exemplar valentia, ética e profissionalismo como titular da Procuradoria Especial Contra a Impunidade (FECI) do Ministério Público (MP), é a última manifestação da cooptação do Sistema de Justiça em nosso país.

Queremos manifestar nossa solidariedade com o procurador, pois seu exílio forçado nos recorda da bem-aventurança dos “perseguidos por causa da justiça”.

Diversos especialistas em direito manifestaram sua desaprovação do modo em que se procedeu e se manifestou a possível ilegalidade. A Conferência Episcopal da Guatemala (CEG) também manifestou sua preocupação por este fato que significa um retrocesso na busca da verdade e da transparência, e abre o caminho para a corrupção e as alianças criminosas.

Consideramos que a Procuradora-Geral e Chefe do Ministério Público tenha tomado uma decisão arbitrária que favorece os interesses dos grupos de poder que corromperam e cooptaram todas as instituições do Estado e principalmente o setor de justiça.

O descontentamento popular cresce dia a dia frente a um governo indolente às necessidades dos empobrecidos, assim como a uma ineficiente gestão da pandemia que já cobrou a morte de mais de 10 mil pessoas, enquanto um escuro contrato de vacinas envolve altos funcionários públicos, incluindo o próprio Presidente da República.

Toda reivindicação de justiça e demanda de melhoras no sistema judicial, o organismo legislativo e o próprio organismo executivo desqualificado e criminalizado pelas autoridades e seus netcenters.

Reavivou-se um discurso de ódio e confronto, cuja única intenção é dividir e confundir a população, tal como se sucedeu durante o governo anterior. Assim, não se constrói um país que pretende unidade, ainda que em comunicados e conferências de imprensa se chame a esta unidade.

Crentes em uma missão de justiça e reconciliação, convidamos a todos os setores do país a dialogar e se unir em uma causa comum: a construção de um país sem corrupção, em que reinem a verdade e a justiça. Somente desde aí é possível a reconciliação de uma Guatemala que leva duzentos anos querendo ser livre e soberana.

Movidos pelo Evangelho e coerentes com nossa missão apostólica, fazemos um chamado a toda a sociedade para manifestar sua inconformidade de forma pacífica, para que o governo e os setores dos poderes restabeleçam o destino do país em função das necessidades da maioria da população. Não vamos pelo bom caminho e cada vez mais nos distanciamos do bem comum.

Viver com dignidade na Guatemala não deve ser uma utopia, nem privilégio. É o direito de todos e todas. Deve se encerrar o enfraquecimento da luta contra a corrupção e a impunidade, que enviou ao exílio profissionais valentes e probos. Devemos nos unir e construir sem descanso um Estado de Direito que possibilite um país justo, equitativo e seguro no qual caibamos todos.

Conselho Nacional Apostólico
Guatemala da Assunção, 30 de julho de 2021

 

Mapa da Guatemala (Foto: Google Maps | Reprodução)

 

Mapa da América Central (Foto: Google Maps | Reprodução)

 

Leia mais