27 Julho 2021
O novo ministro super poderoso do governo de Jair Bolsonaro, Ciro Nogueira, nomeado para a Casa Civil, toma posse esta semana. Apesar de todo o fisiologismo, a analista Graziella Testa, da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV, acredita que o centrão pode ser um contrapeso a uma tentativa de golpe político.
A reportagem é de Raquel Miura, publicada por Radio França Internacional - RFI, 26-07-2021.
A cerimônia de posse de Ciro Nogueira na Casa Civil, com palácio cheio e comemorações em jantares e recepções políticas como seus colegas e assessores estão planejando, visa dar mostras da força de quem hoje está deitado em berço esplêndido no governo Bolsonaro. Desde que pedidos de impeachment começaram a pairar sobre o Congresso, o centrão, esse aglomerado de siglas que apoia governo de direita ou de esquerda, passou a se lambuzar com emendas parlamentares e mesmo a comandar cargos de orçamento gordo, porém de poder decisório periférico.
Por isso, a alçada do senador do Progressistas para o posto até aqui comandado por um general, num cargo que coordena todas as demais áreas e controla tudo o que sai no Diário Oficial, evidencia o desespero político do presidente.
“Sempre no presidencialismo de coalizão quem venceu nas urnas constrói sua base de apoio quando tem grande apoio popular, em geral no começo do mandato. E Bolsonaro não fez isso quando tinha aprovação dos eleitores. Ele tenta isso agora, mas num cenário diferente, de alta reprovação popular, onde ele não dá os anéis, mas os dedos para tentar salvar o braço”, disse à RFI a cientista política Graziella Testa, da FGV. Para ela, “a ida de Ciro Nogueira, uma pessoa com muito peso político, para a Casa Civil é uma atitude arriscada do presidente. "Há uma frase no meio político de que não se contrata quem você não pode demitir”, recorda a professora da FGV.
A decisão de agraciar o centrão do Senado vem num momento em que a CPI da Covid-19 avança nas apurações, ao mesmo tempo que assuntos sensíveis para o governo tramitam na Casa, como a aprovação do nome de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal.
Ainda que pese todo o "toma lá dá cá" embutido no cerne dessa relação, a analista avalia que o centrão hoje acaba se colocando como um obstáculo a um projeto antidemocrático de poder, justamente por se beneficiar do atual modelo. “Por mais que seja negativo esse fisiologismo, esses atores foram eleitos por esse sistema, e é positivo que eles sejam um contrapeso", argumenta Testa. "É assim que as instituições devem funcionar”, acrescenta.
Em Brasília ainda ecoam as repercussões em torno do episódio envolvendo o ministro da Defesa, Braga Netto, e o presidente da Câmara, Arthur Lira, também do Progessistas. O militar fez chegar aos ouvidos do deputado que, sem voto impresso, não haverá eleição, como publicou o jornal “O Estado de S.Paulo”. Para muitos, ao tornar pública essa situação, Arthur Lira alertou que uma ordem fardada vinda de cima nesses moldes não virará lei no Legislativo.
Mas, no fim de semana, Bolsonaro voltou a dizer, em tom de ameaça, que um pleito apenas com eleição eletrônica pode significar confusão.
“Eleição limpa, todos queremos. Eleição suja não é democracia. E nós estamos com bastante antecedência falando dos riscos que isso pode levar, justamente para evitarmos lá na frente”, afirmou o presidente brasileiro.
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“Bolsonaro não está dando os anéis, mas os dedos para tentar salvar o braço”, diz cientista política - Instituto Humanitas Unisinos - IHU