22 Julho 2021
Para o purpurado alemão, a “clara” intenção de Francisco com seu ‘motu proprio Traditionis Custodes’ é “condenar à extinção a longo prazo a celebração da Missa na Forma Extraordinária”.
A reportagem é de Rubén Cruz, publicada por Vida Nueva Digital, 20-07-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“Sem a mais mínima empatia, ignoram-se os sentimentos religiosos dos (frequentemente jovens) participantes nas missas segundo o Missal de João XXIII. Em vez de apreciar o cheiro das ovelhas, o pastor aqui as golpeia com força com seu cajado”. Assim se expressa o cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Doutrina da Fé, demitido por Francisco em 2017 e ao que este 2021 lhe encarregou de ser membro do Tribunal da Assinatura Apostólica, depois de quatro anos sem encargo vaticano apesar de vivendo em Roma.
Para o purpurado, a intenção “clara” do Papa com o seu ‘motu proprio Traditionis Custodes’ é “condenar à extinção a longo prazo” a celebração da Missa na Forma Extraordinária, introduzida por Bento XVI com ‘Summorum pontificum’ (2007) do Missal que existiu de Pio V (1570) a João XXIII (1962), como afirma um artigo publicado em The Catholic Thing.
Müller recrimina o Papa que em sua ‘Carta aos Bispos’ que acompanha o ‘motu proprio’, “além da apresentação de suas reações subjetivas”, ele perde “um argumento teológico estrito e logicamente compreensível. Pois a autoridade papal não consiste em exigir superficialmente dos fiéis a mera obediência, isto é, a formal submissão da vontade”.
O cardeal alemão aponta a “dicotomia entre boa intenção e má execução”, que “sempre surge quando as objeções de funcionários competentes são percebidas como um obstáculo às intenções de seus superiores e, portanto, nem mesmo oferecidas”. E é que, em sua opinião, “a unidade na celebração dos mistérios da graça não exige de forma alguma uma uniformidade estéril na forma litúrgica externa, como se a Igreja fosse como uma das cadeias hoteleiras internacionais com seu desenho homogêneo”.
Além disso, para o purpurado alemão, as mudanças introduzidas no Pai Nosso “contradizem muito mais a verdade da fé e a unidade da Igreja do que celebrar a Missa segundo o Missal de João XXIII”. No entanto, ele também não parece particularmente preocupado, porque “as disposições de ‘Traditionis Custodes’ são disciplinares por natureza, não dogmáticas, e podem ser modificadas novamente por qualquer futuro papa”.
Além disso, Müller enviou uma mensagem ao cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, e a Arthur Roche, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos: “Espero, com sua nova autoridade, que eles não se embriaguem com o poder e pensem que devem travar uma campanha de destruição contra as comunidades de ritos antigos, com a crença tola de que fazendo isso eles estão prestando um serviço à Igreja e promovendo o Vaticano II”, sentencia.
"Se o cardeal Müller tivesse lido os grandes teólogos, saberia que Von Balthasar falava sobre 'extinção natural do rito de Pio V' já em 1980. Esses cardeais com memória curta e sem respeito pelas decisões sábias..." Tradução do comentário do teólogo italiano Andrea Grillo, em seu facebook.
Por outro lado, aproveitando o fato de que estava escrevendo, o purpurado também acusou seus irmãos do episcopado alemão a respeito do Caminho Sinodal, já que “a maioria dos bispos” nega “hereticamente” e, “em franca contradição com o Concílio Vaticano II, tradição, infalibilidade do magistério, primado do Papa, sacramentalidade da Igreja, dignidade do sacerdócio, santidade e indissolubilidade do matrimônio”.
A Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) também se juntou às críticas a Francisco. Os lefebvrianos têm a “impressão” de que o motu proprio papal é acompanhado por “sectarismo” e “abuso de poder”. Por outro lado, estão convencidos de que este ‘motu proprio’, embora “mais cedo ou mais tarde acabe no esquecimento da história da Igreja”, não é “uma boa notícia em si”, pois “marca um freio, por parte da Igreja, na reapropriação de sua Tradição, e isso atrasará o fim da crise que já dura mais de sessenta anos”.
Desde que a Doutrina da Fé assumiu as atribuições da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei em 2019, uma pesquisa foi realizada em todo o mundo para avaliar como a liturgia celebrada de acordo com o ‘rito extraordinário’ que Bento XVI resgatou em 2007 se desenvolveu após a última edição do Missal Tridentino. Até agora, a Doutrina da Fé havia publicado apenas dois decretos que atualizavam alguns textos que são usados durante esta missa. Uma pequena reforma que agora é complementada por uma etapa mais ousada.
O motu proprio ‘Traditionis Custodes’ está organizado em 8 artigos nos quais os decretos do Vaticano II são exclusivamente confirmados como “a única expressão da lex orandi do Rito Romano”. Também confirma o papel do bispo com o seu “dever de regular as celebrações litúrgicas na sua diocese” como responsável pela aplicação deste decreto que acompanha os fiéis, bem como pela reorganização das paróquias específicas. Ele será responsável por conceder alguma permissão e não a arbitrariedade de um padre.
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O cardeal Müller sobre o Papa: “Em vez de apreciar o cheiro das ovelhas, as golpeia com força” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU