20 Julho 2021
Jean-Claude Guillebaud, jornalista, escritor e ensaísta, parte do descrente Camus para evocar a sua própria trajetória de cristão, sempre a caminho e sempre à escuta daqueles que o precederam.
A reflexão é de Jean-Claude Guillebaud, jornalista, escritor e editor, publicada por La Vie, 12-07-2021. A tradução é de André Langer.
Este título retoma uma frase de Albert Camus. Eu a encontrei em uma modesta placa de mármore branco na entrada da igreja de Santa Catarina, em Honfleur. Não se sabe quem foi o autor que colocou esta placa entre as promessas. Sabemos muito bem que Camus não era cristão. Isso não o impediu de proferir regularmente frases como essa ou conferências favoráveis aos cristãos. E muitas vezes até muito amigáveis.
Eu continuo encontrando novas. Em 1956, no Le Monde, Camus escreveu: “Eu não acredito em Deus, é verdade, mas tampouco sou um ateu. Eu até concordaria com Benjamin Constant em encontrar na irreligião algo de vulgar e... banal”.
Claro, não sejamos tão tolos a ponto de fazer de Camus um cristão sem sabê-lo. Isto seria mais do que antipático. De minha parte, há vinte anos, tenho tentado modestamente “voltar a ser cristão”. Nem sempre é fácil. Expliquei isso em dois pequenos livros. Digamos que estou no caminho da fé e assim estarei por toda a minha vida. Eu não gosto daqueles que afirmam ser cristãos, como se isso fosse um diploma.
A fé é um projeto. Portanto, como muitos cristãos, às vezes tenho as minhas dúvidas. Mas, o quê! Não aconteceu a mesma coisa com Teresa de Lisieux, esta jovem que faleceu aos 24 anos e que foi proclamada doutora da Igreja pelo Papa João Paulo II em 1997, no centenário de sua morte?
Portanto, cada um de nós leva o projeto cristão à sua maneira, enquanto tenta permanecer fiel à mensagem do Evangelho. Eu, que sou escritor, jornalista e editor, tenho que ler e devorar grande quantidade de livros. É meu trabalho. Por isso, anoto constantemente passagens, frases, fórmulas que se tornam preciosas para mim. São como aquelas pedras que se alinham na água para atravessar um rio.
Às vezes, elas são tomadas do Novo Testamento. Em Lucas (17, 21), por exemplo: “O Reino de Deus está entre vós”. Ou na primeira carta de João (4, 4): “Aquele que está em vós é mais poderoso do aquele que está no mundo”. Ou ainda em Mateus (10, 28): “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode acabar com corpo e alma no fogo”. Em Marcos (6, 31): “Vinde vós, sozinhos, a um lugar despovoado, para descansar um pouco”.
No Cântico dos Cânticos (5, 2), fico impressionado com esta breve frase de amor: “Eu estava dormindo, meu coração vigiando”. Houve um tempo em que lia e relia as cartas de Paulo. Essa, por exemplo, que dirigiu aos Romanos (12, 16): “Não aspireis grandezas, mas igualai-vos aos humildes”.
Quando eu estava no colégio, o professor de francês às vezes nos dizia: o melhor texto escrito na língua francesa é o Código Civil estabelecido por Napoleão em março de 1804. Deve-se admitir que a concisão e a clareza de alguns artigos demonstram-no.
Mas também tenho grande consideração pela escrita dos quatro evangelistas. Ela sobreviveu a todas as traduções e ainda nos fala. Finalmente, não me furto a tomar emprestado de alguns grandes escritores. Tolstoi, por exemplo: “Só deve escrever quando, toda vez que mergulha sua pena na tinta, um pedaço de sua carne permanece no tinteiro”.
Não, não se desculpe por ser cristão! Permaneça feliz no caminho...
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Não se desculpe por ser cristão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU