13 Julho 2021
"O respeito pela dignidade fundamenta-se, de fato, na nossa indignidade comum: a dignidade humana, de fato, não é um atributo do indivíduo, mas sim uma relação, e como tal se manifesta no gesto com que nos relacionamos com o outro que conhece a brutalização e a desumanidade", escreve Enzo Bianchi, monge italiano fundador da Comunidade de Bose, na Itália, em artigo publicado por La Repubblica, 12-07-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Está quase acabando o tempo do necessário distanciamento dos corpos, o medo de qualquer contato físico que pudesse ser contagioso, e chegou o momento em que os corpos em sua quase total nudez são exibidas nas praias e em muitos locais de férias. O corpo é a nossa forma de estar no mundo, de participar nele, de responder aos seus múltiplos apelos e às solicitações que nos pedem para acolher alegria e prazer, dor e cansaço, abertura para comunicar e fechamento que, como um muro, cria uma barreira intransponível.
Sim, precisamente este nosso corpo, construído por nós a cada dia, mas também moldado pelos outros e pelos acontecimentos da vida, é muitas vezes reduzido a uma imagem, ou melhor, a diversas imagens que a sociedade nos veicula e nos oferece. Especialmente os meios de comunicação apresentam visões e imagens privilegiadas de corpos livres de dor, não deformados pela doença, não afetados pela feiura. Somos assim instigados à exaltação do corpo perfeito, a uma idolatria da juventude, a uma exibição do que pode provocar prazer. Corpo sedutor, sempre saudável, cuja beleza nos desperta e fere, mas um corpo silencioso, não eloquente, sem profundidade, homologado aos cânones estéticos dominantes, muitas vezes fragmentado e coisificado.
Sem possibilidade de perceber o carácter simbólico do corpo, que na realidade é sempre um apelo, uma vocação para ser uma ponte ou um muro, capaz de acolher ou rejeitar. Existe, portanto, a exigência de reassumir a relação com o próprio corpo e com o corpo do outro não através de imagens idealizadas do corpo, mas a partir do aspecto menos agradável, aquele do sofrimento. É o que não queremos ver, no corpo dos prisioneiros espancados e torturados, no corpo de mulheres violentadas, no corpo dos descartados da sociedade que não podemos deixar de encontrar.
Para nós, existem de fato corpos considerados "indignos", mas também o humano que perdeu a sua forma e assumiu a indignidade exige que nele se reconheça a dignidade humana. É especialmente o humano "sem qualidade" que conserva aquela dignidade que invoca respeito. De fato, a dignidade deve ser reconhecida a cada um não por motivos religiosos, nem por obrigação penal vinculante, mas simplesmente porque reduzido a nada: o ser humano desfigurado gera a dignidade em quem está à sua frente e aceita encontrá-lo, assumir o peso de uma humanidade aviltada, desprovida dos traços considerados necessários à qualidade determinada pela maioria.
O respeito pela dignidade fundamenta-se, de fato, na nossa indignidade comum: a dignidade humana, de fato, não é um atributo do indivíduo, mas sim uma relação, e como tal se manifesta no gesto com que nos relacionamos com o outro que conhece a brutalização e a desumanidade.
O corpo, não o esqueçamos, continua a ser o "lugar" da nossa inscrição no "sentido" da vida. Minha singularidade e meu chamado a existir com e graças aos outros estão gravados no corpo que me torna similar a cada ser humano e que me diferencia e me personaliza de cada ser humano. O corpo, não escolhido, no entanto, continua a ser uma tarefa a realizar e isso representa um grande desafio que exige liberdade, responsabilidade e acolhimento por parte dos outros. Assim falou Zaratustra: "Há mais razão em teu corpo do que na tua melhor sabedoria!".
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A dignidade do corpo. Artigo de Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU