22 Junho 2021
Um dia mandei um telegrama a uma dezena de amigos dizendo: “Fuja imediatamente. Descobriram tudo”. Pois bem, todos esses amigos deixaram a cidade sem pensar duas vezes. Em italiano, a expressão "rabo de palha" foi cunhada para indicar aqueles que, embora ostentando segurança e honestidade, sabem que têm uma consciência pesada. A brincadeira feita com os amigos por aquele terrível personagem que era o escritor estadunidense Mark Twain é, a este respeito, emblemática. Assim que receberam a mensagem, todos trataram de correr aos reparos, sabendo muito bem que tinham alguns esqueletos no armário (e esta é também uma frase italiana animada e esclarecedora que tem paralelo também em outras línguas).
O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 20-06-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na base está a hipocrisia, um vício que se autoabsolve e autojustifica, mas que não consegue tranquilizar a consciência quando ela não está limpa. Por outro lado, o próprio Twain zombava das chamadas boas maneiras porque, em última análise, segundo ele "consiste em esconder o quanto pensamos bem de nós mesmos e o quanto pensamos mal dos outros".
Cristo, como se sabe, era severo e contundente com os hipócritas porque o seu orgulho os endurecia, envolvendo-os numa capa dourada intransponível, sob a qual se esconde as vergonhas. Jesus usava a imagem de "sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundície" (Mt 23,27). E então é necessário um exercício implacável: aquele do juízo sincero de si mesmos, sabendo que todos temos alguma mancha escondida.
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Rabo de palha - Instituto Humanitas Unisinos - IHU