17 Junho 2021
Há uma grande maioria que avalia negativamente o presidente Iván Duque, tanto a sua gestão (76,3%), como a sua imagem (77,5%). Os cidadãos sofrem uma crise econômica que foi agravada pela pandemia, mas que vem de muito tempo atrás”, escreve Alfredo Serrano Mancilla, economista, diretor do CELAG - Centro Estratégico Latino-Americano de Geopolítica, em artigo publicado por Página/12, 16-06-2021. A tradução é do Cepat.
Todo marco político é resultado de um processo, de um acúmulo de causas. Se no domingo, 29 de maio do próximo ano, Gustavo Petro fosse eleito presidente da Colômbia, esse fato se explicaria por uma multiplicidade de razões que vêm de longe.
Um dos aspectos mais interessantes que uma pesquisa pode contribuir é que nos permite detectar a tempo aquelas transformações subjetivas que depois levam aos resultados eleitorais. No entanto, caímos no constante erro de interpretar as pesquisas somente com base no dado de intenção de voto dos diferentes candidatos. Ou seja, somos muito mais seduzidos a prever como será o desenlace final, em vez de desfrutar tudo o que acontece em cada capítulo de uma boa série. A cultura do atalho está na moda.
A última pesquisa do CELAG para a Colômbia (em todo o território nacional, com quase 2.000 casos amostrais) nos proporciona uma fotografia muito nítida de um país em disputa, que vive uma época de grandes mudanças, com uma maioria que sofre, pensa e sente de forma muito diferente daquela que os grandes meios de comunicação mostram.
O melhor exemplo é o tema da paralisação nacional prolongada: três quartos da Colômbia a aprova, e seis em cada dez consideram que as forças de segurança reprimem de maneira excessiva.
Há uma grande maioria que avalia negativamente o presidente Iván Duque, tanto a sua gestão (76,3%), como a sua imagem (77,5%). Os cidadãos sofrem uma crise econômica que foi agravada pela pandemia, mas que vem de muito tempo atrás. Uma altíssima porcentagem das famílias com menos de um milhão de pesos colombianos por mês não tem como dar conta dos gastos básicos (75%) e, consequentemente, está apelando ao endividamento privado como mecanismo habitual para enfrentar esta situação tão crítica (66%).
O Estado vira as costas tanto para eles como para a cada vez mais raquítica classe média. E os cidadãos querem mais Estado em tudo o que concerne às políticas sociais. Também querem um sistema tributário que aumente os impostos dos mais ricos (74%). Na Colômbia, muito poucos ‘compram a história’ de que os ricos conseguiram sua riqueza graças ao esforço (apenas 18%).
O neoliberalismo fracassado na Colômbia também pode ser visto na percepção sobre um de seus pilares: o bancário. A maioria avalia de forma muito negativa o seu desempenho (70%) e, além disso, existe cansaço e raiva por seus abusos na cobrança de comissões.
Para onde quer que se olhe, o modelo colombiano afunda por todas as partes. A Promotoria Geral do Estado também não goza de uma boa imagem (66% negativa), nem os meios de comunicação têm grande credibilidade (por exemplo, Caracol e Semana têm uma desconfiança de 74% e 64%, respectivamente).
Dito de outro modo, tudo o que deveria sustentar o projeto neoliberal vem desaparecendo progressivamente, inclusive o uribismo. A imagem do ex-presidente segue em queda livre (sua negativa é de 76%).
Hoje, na Colômbia, o antiuribismo se tornou a principal identidade política. Quase metade da população se declara assim, frente aos 11% que se dizem uribistas. A grande maioria da população acredita que Uribe é corrupto, é coisa do passado e está ligado aos paramilitares.
Em pleno processo acelerado de mudança, todo ocaso tem a sua contrapartida na consolidação de outro horizonte. Na Colômbia, esta nova alternativa é liderada por Gustavo Petro e Colômbia Humana. Se em 2018 a irrupção de Petro na cena nacional pegou muitos de surpresa, agora, quase 60% acreditam que ele será o próximo presidente.
O líder progressista tem a imagem positiva mais alta em comparação com os outros dirigentes. Também possui o teto eleitoral mais alto, e em provável intenção de voto possui vantagem muito significativa sobre os demais (30 pontos frente aos 14 de quem o segue, Sergio Fajardo).
Petro encarna a mudança em múltiplas dimensões: na proposta econômica, no papel do Estado, em matéria de direitos sociais, nas formas, nos valores e na conexão com a juventude. Hoje, Petro está no centro da política colombiana.
De agora em diante, muita água correrá sob a ponte. Qualquer análise conclusiva e fechada sobre a questão eleitoral será tão irresponsável como sem rigor. Ainda não sabemos sequer os nomes dos candidatos.
Mas a única coisa que, sim, podemos afirmar com certeza é que se vislumbra uma disputa com três lados: um bloco majoritário, liderado por Petro, e outros dois que disputarão o segundo lugar: o uribismo e o espaço centrista Coalizão da Esperança (formado pelos verdes e um setor dos liberais).
A incógnita é saber se Petro conseguirá vencer no primeiro turno, como Fernández, na Argentina, AMLO, no México, e Arce, na Bolívia. Se fará isso no segundo turno contra todos os poderes fáticos unidos, como Castillo, no Peru, ou se, ao contrário, acontecerá o mesmo que com Lasso, no Equador.
Veremos. Ainda falta muito nesta Colômbia que muda. Continuará.
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A Colômbia muda: pesquisa do CELAG - Instituto Humanitas Unisinos - IHU