25 Mai 2021
A parceria entre o Onçafari – projeto dedicado ao estudo e à conservação da vida selvagem – e o Legado das Águas – maior reserva privada de Mata Atlântica do país -, tem gerado importantes registros de fauna, que possibilitam o monitoramento do comportamento, da saúde e, futuramente, também poderão auxiliar na estimativa de população de diferentes espécies.
A reportagem é de Julio Rocha, publicada por EcoDebate, 21-05-2021.
Nos últimos três meses, o monitoramento de fauna, por meio de câmeras automáticas camufladas na floresta, gerou mais de 1.700 registros de animais, de mais de 30 espécies.
Os destaques da temporada foram os pequenos felinos, flagrados interagindo com as câmeras e até mesmo caçando.
O projeto de monitoramento, com 20 câmeras instaladas, fornecidas pela Log Nature, faz parte do Onçafari Science, braço científico da instituição, que tem como objetivo a observação do comportamento de animais, avaliando seu estado de saúde e desenvolvendo pesquisas ecológicas. No Legado das Águas, o projeto visa a realizar o levantamento populacional de onças-pardas e pintadas na Reserva para ações de proteção desses felinos na Mata Atlântica, incluindo atividades de ecoturismo como ferramenta para a conservação. A terceira campanha (período de tempo entre a instalação da câmera e retirada para coleta das imagens) foi realizada entre os dias 8 de dezembro e 24 de fevereiro.
Dentre os destaques, estão as imagens das jaguatiricas (Leopardus pardalis), de porte médio, consideradas o terceiro maior felino das Américas. Foram 34 aparições, possivelmente de mais de uma jaguatirica. Dois registros chamaram mais a atenção: o animal interagindo com a câmera, como se tirasse uma “selfie” (autorretrato), e um outro caçando um roedor no período noturno, hábito típico dessa espécie.
De acordo com Victória Pinheiro, bióloga responsável pelo Onçafari no Legado das Águas, além de interessantes e curiosos, os registros são importantes para observar e monitorar o comportamento das espécies. “As armadilhas fotográficas [como são chamadas as câmeras automáticas camufladas na floresta] permitem observar os animais sem nenhuma interferência direta, já que são automáticas e gravam as imagens por sensor de calor. Isso significa que os registros mostram o comportamento natural dos animais, gerando informações que podem aumentar a compreensão que temos sobre as espécies”, explica.
A bióloga ainda acrescenta que o registro da jaguatirica caçando só foi possível porque as câmeras também conseguem fazer imagens noturnas. “Muitos animais, principalmente os predadores, têm hábitos noturnos. A constante evolução da tecnologia envolvendo esses equipamentos fotográficos automáticos, principalmente depois da sua popularização na década de 1990, é essencial para conseguirmos registros como esse”, diz.
Outro destaque foi o vídeo de três filhotes de gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi), que passaram correndo após a aparição da mãe. “A diversidade de registros e espécies é bastante animadora. Aqui, no Legado das Águas, temos uma combinação bastante promissora para novas descobertas e registros importantes, que é uso da tecnologia dessas armadilhas fotográficas e uma parcela considerável de floresta primária, e grande parte em estágios avançados de regeneração, ou seja, uma mata saudável, que proporciona às espécies as condições favoráveis para sua sobrevivência”, destaca Victória.
Além dos felinos, outros animais, como gaviões, serpentes e outros mamíferos interagiram com as câmeras, resultando em curiosos autorretratos. No total, a terceira temporada rendeu cerca de 500 registros a mais em relação às anteriores. O Tikún, a onça-parda macho que foi destaque na outra temporada, também foi avistado novamente.
Veja alguns registros:
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A jaguatirica tem como característica física o porte médio (podendo chegar a 15kg) e a pelagem amarelada, com manchas que formam rosetas (pintas) abertas e alongadas ou até listras horizontais, além de uma cauda curta. É comum ser confundida com um filhote de onça-pintada, mas, além do tamanho do corpo, as jaguatiricas têm essas “pintas” mais alongadas, diferente das observadas nas onças-pintadas. Outra característica que distingue os dois felinos é o comprimento da cauda, que nas jaguatiricas são bem menores quando comparadas as das primas maiores.
Já o gato-mourisco, ou jaguarundi, é característico por uma variação de cores, apresentando colorações entre preto e tons de cinza, a uma coloração mais marrom, acastanhada. A espécie costuma medir entre 48 e 83cm só de corpo, se destacando pelo tamanho de sua cauda, que pode ir de 27 a 59cm. Em termos de alimentação, esse felino, em geral, se alimenta de qualquer animal que consegue capturar, sendo que pequenos roedores são as presas mais recorrentes, ainda que a espécie também se alimente de cobras, lagartos, aves, peixes e insetos. Diferentemente da maioria dos felinos selvagens, o gato-mourisco tem hábitos diurnos e costuma caçar durante o dia, tendo tendência a caçar no chão, apesar de sua habilidade em se locomover nas árvores.
Acesse as fotos e vídeos, disponível aqui.
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Câmeras fotográficas flagram jaguatiricas caçando nas florestas do Legado das Águas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU