30 Março 2021
Durante o último ano, a comissão papal de especialistas tem trabalhado com organizações internacionais para ajudar a planejar um “mundo melhor” depois da covid-19.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 26-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Nesta semana o Papa Francisco realizou um encontro com os líderes do grupo chamado “Comissão Vaticana Covid-19”, um ano depois de criado para ajudar a planejar o “mundo pós-covid”.
Era 20 de março de 2020 – alguns dias depois da Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmar que o surto de coronavírus era uma pandemia global –, quando o papa pediu ao Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (DSDHI) para criar a comissão.
Isso foi feito em colaboração com outros dicastérios e departamentos da Cúria Romana, assim como outras organizações.
O objetivo era expressar a disposição da Igreja e o cuidado para com toda a família humana em face da covid-19 e mapear estratégias para criação de um “mundo melhor”.
A comissão estabeleceu cinco grupos de trabalho e apresentou sua equipe em 27 de março.
Papa Francisco rapidamente percebeu que a crise sanitária oferecia uma oportunidade histórica para executar reformas profundas que ele tem pedido desde o início do seu pontificado.
Em particular, sobre a ecologia, mas também no mundo das finanças.
Ele falou cada vez mais sobre esses tópicos e até mesmo reescreveu em partes de sua última encíclica, Fratelli Tutti, na qual insiste que a fraternidade global é a única via de saída da crise.
Ao longo dos últimos 12 meses, Francisco seguiu o trabalho da Comissão Vaticana Covid-19 de perto. Toda sexta-feira ele recebia um resumo das atividades e progressos.
Nesta semana, as mais altas autoridades da comissão apresentaram a ele o relatório anual.
O padre Augusto Zampini, que está encarregado do projeto, falou a La Croix que a comissão focou em três prioridades – “saúde para todos, especialmente na área das vacinas”, “comida para todos” e “empregos para todos”.
Os cinco grupos de trabalho da comissão reúnem os melhores especialistas, como a irmã salesiana Alessandra Smerilli, economista experiente que acaba de ser nomeada esta semana como nova subsecretária do DSDHI.
Outra especialista que tem feito parte do trabalho da comissão é a irmã Carol Keehan, presidente da Catholic Health Association dos Estados Unidos entre 2005-2019.
Keeehan, que é religiosa das Filhas da Caridade, foi nomeada pela Timemagazine em 2010 como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Ela tem se concentrado principalmente em questões relacionadas à vacina.
“Temos trabalhado em guias, por exemplo para as famílias, para explicar que a vacinação é, como diz o papa, um dever moral e também um ato de caridade para com os outros”, explicou ela de sua casa em Washington.
Até o final de março, por exemplo, um desses documentos deve ser enviado a todas as conferências episcopais do mundo.
A religiosa estadunidense, que mantém contato regular com a OMS e a Fundação Gates, tem defendido que as vacinas sejam distribuídas de forma equitativa e não apenas aos países mais ricos.
Ela disse que eles responderam positivamente.
“Devo confessar que estou bastante surpresa com a forma como as pessoas responderam às palavras do papa, mesmo em círculos muito seculares”, ela confessou.
Ela demonstrou isso com uma anedota.
“Não faz muito tempo, um importante cientista me disse: 'Existem muitos lugares no mundo onde as palavras dos melhores cientistas ou políticos não têm valor. As pessoas precisam de uma instituição em que possam confiar, que existisse antes da crise e que vai estar lá depois. É por isso que precisamos da Igreja para promover a vacinação'”, disse ela.
Junto com a reflexão sobre o mundo pós-Covid, o Vaticano também distribuiu ajuda de curto prazo por meio da Caritas Internationalis (CI).
Num ano, 3,6 milhões de euros foram atribuídos a cerca de 40 projetos, como campanhas de higiene, apoio alimentar em alguns países do Sul ou ajuda a migrantes na Índia.
“Basicamente, estamos trabalhando na implementação concreta do cancelamento da dívida. Esse dinheiro deve ser usado para implementar iniciativas de desenvolvimento sustentável”, explica Aloysius John, secretário-geral da CI.
“Levar a vacina aos países do Norte não é suficiente para que tudo se resolva de repente”, alertou.
“A Igreja continua proclamando que Deus não se esquece de nós, mesmo nas crises mais graves, e por isso tem o dever de participar na construção de soluções para o futuro”, disse o padre Renzo Pegoraro, chanceler da Pontifícia Academia para a Vida.
A academia tem participado ativamente da reflexão da comissão do Vaticano sobre a vacinação e como a epidemia afeta cuidadores e pessoas com deficiência.
O método de trabalho interdicasterial da Comissão Covid-19 representa uma pequena revolução em um Vaticano onde os numerosos departamentos estão acostumados a trabalhar isoladamente.
“Aprendemos a trabalhar juntos, a fertilizar nossas áreas de atuação”, admitiu o padre Pegoraro.
“Médicos, economistas e teólogos, em conjunto com organismos internacionais. Espero que continue assim”, acrescentou.
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Papa Francisco e o Vaticano preparam o mundo pós-covid - Instituto Humanitas Unisinos - IHU