26 Março 2021
A chance desse comitê de crise funcionar - com presidentes da Câmara e do Senado, governadores etc e tal - é zero.
Já cumpriu o seu papel ao ser anunciado.
A chance de termos 1 milhão de vacinas aplicadas por dia em curto prazo, tal como anunciado pelo ministro da Saúde, também é zero.
É tudo uma ficção barata, um filme B com atores canastrões.
Na espera de que algo mude de fato nesse país, antes que morram outros 300 mil, o repúdio aos responsáveis por termos alcançado os primeiros 300 mil. É hora de um pacto, a começar por todos dizendo basta. Que caia esse castelo de cartas da realidade paralela desumana, que os jogadores desse truco letal vendem e que tantos ainda aceitam. Peter Schulz
"Meu pai era dono de um prostíbulo muito famoso! Infelizmente, foi com ele que aprendi a cheirar cocaína e com a minha mãe que aprendi a beber...
Hoje, não tenho nada, minha família pegou minha herança e eu estou aqui. O pouco que eu tinha, eu gastei com drogas e vim pras ruas. É errado eu falar pra vocês que eu sou alcoólatra?
Vocês fizeram um bem tremendo pra mim! Antes, eu tinha vergonha de chorar, mas um dia vi que até Jesus chorou. Obrigado por deixarem eu derramar minhas lágrimas, é a única maneira da dor ir embora..."
Jeferson, em situação de rua
Seja a esperança nesta páscoa e ajude-nos a entregar 1.200 kits neste momento crítico de pandemia
"Eu não estou em situação de rua, mas estou quase... Cara, sinceramente? Tô pedindo uma ajuda para as pessoas porque senão vou ser despejado, e aí sim as coisas vão começar a piorar.
Estou devendo 350,00 reais para o rapaz que eu alugo o meu cantinho lá no Brás, eu deixo de comer para juntar esse dinheiro...
Estando desempregado, já não sei mais o que fazer, pensei em ir para as ruas, mas não quero isso, não mereço isso!
Estou buscando um serviço também, trabalho como pedreiro, fiz escola somente até o primeiro grau, sei ler e escrever, tenho boa relação com as pessoas, só estou precisando de uma oportunidade... Deus é bom e vai dar um jeito na minha vida"
José, pessoa em situação de rua, 57 anos
Seja a esperança nesta páscoa e ajude-nos a entregar 1.200 kits neste momento crítico de pandemia
Cartinha de um filho ao pai desempregado, quanta empatia em poucas e simples palavras. Tomara que exista muito Luiz por aí, assim teremos um futuro de luz e esperança.
As Beguinas agosto 2019
Num dos volumes organizados pela ASETT/EATWOT em torno das provocações do pluralismo à teologia da libertação, vemos uma interessante reflexão da teóloga Ivone Gebara. Trata-se do artigo, Pluralismo religioso: uma perspectiva feminista. Está no livro organizado por Luiza Tomita; José Vigil e Marcelo Barros. Teologia latino-americana pluralista da libertação (Paulinas, 2006). Com base em livro precioso de Rosemary Ruether (Visionary Women - 2002), Ivone Gebara faz uma importante alusão à experiência mística vivida por algumas mulheres dos séculos XI e XII, especialmente na Flandria europeia. Que intuição elas trazem de novo, para uma reflexão teológica feminista?
Trata-se de uma intuição que aponta para "uma espécie de fundamento, que inclui a diversidade e a pluralidade de formas de manifestação do chamado princípio absoluto". A divindade, marcadamente feminina, apresenta na sua expressão mais íntima a ideia de "fluidez" (fruitio Dei), de movimento, de abertura. Isso é magnífico. E aqui, a imagem da divindade como Minne.
A amiga e estudiosa das beguinos, Maria José Caldeira do Amaral, fala a respeito num artigo, referindo-se ao livro da beguino Mechthilde von Magdeburg, A luz fluente da divindade (sec XIII):
"Especificamente no Livro I, esse diálogo se dá entre a alma, senhora e rainha (frouwe kúnegin), e o amor, senhora amor (frouwe Minne). De acordo com a análise de alguns estudiosos, especialmente a de Elizabeth Alvilda Petroff, minne (desejo e amor) é um termo feminino e significa o desejo e o anseio por amor e, ao mesmo tempo, a natureza do amor e da alma."
Como mostra Maria José Amaral, "Mechthild, tal qual outras beguinos, destoavam da mística monástica, masculina. Sua linguagem 'erótica e sensual` era ´precisa` para falar da união com Deus, o ´mais justo dos amantes`". Como mostra a autora, O amor "é um elemento epistêmico, não mais importante do que a deidade; é a linguagem própria de Deus mesmo". Sem o "fogo do amor", indica Mechthilde, o conhecimento não é senão "arrogância e hipocrisia".
E conclui Maria Jose: "As mulheres místicas romperam o silêncio no qual estavam reduzidas e abrigaram Deus em si mesmas, em seus corpos e em suas almas à espera do nada. E, nessa espera, tornaram-se vencidas e aniquiladas para encontrar o verdadeiro silêncio emitido pelo abismo e compreender a experiência humana completa, carnal e espiritual e, consequentemente, a denominaram de incompreensível"
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Em sua obra, O florescimento da mística. Homens e mulheres da nova mística (1200-1350), Bernard McGinn aborda a questão da Minne. Trata-se para ele de um "predicado de Deus", mas também "a realidade fundamental de força pela qual todas as coisas participam em Deus e pela qual voltam a ele". É sobretudo "uma forma de consciência relacional procurando encontrar expressão". Minne é "o anseio (begerte) ´ativo` que leva a alma a tentar recuperar a ´pureza e a liberdade`".
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Para as mulheres mística medievais, Deus é entendido sobretudo como movimento, o que me faz lembrar Teilhard de Chardin. Deus é luz, fogo e fonte. Todas imagens que acenam para o movimento. Deus é sobretudo fluir, como diz uma das quatro evangelistas místicas do século XIII, Mechthilde. E o bonito nisso tudo é a visão positiva da corporalidade: A natureza divina inclui carne e osso, corpo e alma.
Como diz McGinn, "a alma com sua carne, consegue participar da mais alta união com Deus, superior à dos anjos, que permanecem puro espírit5o: ´Aí o olho brilha no olho, aí o espírito flui no espírito, aí a mão toca a mão, aí a boca fala à boca, e aí o coração acolhe o coração". Diz ainda Machthilde: "Eu, a menor das almas, vou tomá-lo em meus braços, comê-lo e bebê-lo, e ter poder persuadi-lo. Isso jamais pode acontecer com os anjos". Trata-se de uma grande revolução que rompe com a gramática masculina da mística, até então vigente e dominante. As beguinos são mesmo revolucionárias...
No dia 23 de janeiro de 2018 eu e Reginaldo Moraes (infelizmente falecido) respondemos ao Jornal da Unicamp sobre o julgamento de Luis Inácio da Silva. Pelas nossas respostas pode-se constatar o que pensamos dos juízes e procuradores. Colo aqui a minha resposta.
Roberto Romano: ‘Eles [os juízes] devem dizero direito, não fazer o direito’
Uma fonte moderna dos costumes civilizados encontra-se na Enciclopédia organizada por Denis Diderot. Ela ajudou a edificar sistemas de justiça em Estados que hoje exercem papel hegemônico. Sem ela, a Constituição norte-americana teria vazios insanáveis. No Brasil os seus volumes eram compulsados pelos que sonhavam com a liberdade. Em Ouro Preto o dicionário ajudou a definir a possível república. Nela, o primeiro ato seria instalar fábricas e universidades. O grande dicionário ajuda a entender o pensamento da burguesia e as Revoluções do século 18. Mas ele antecipa visões que ajudaram as lutas socialistas dos séculos 19 e 20.
O Brasil nunca chegou a ser uma república federativa e democrática. Aqui, os poderes dependem do Executivo o qual, por sua vez, compra votos no Congresso e cede privilégios ao Judiciário. A corrupção alimenta os três corpos da vida pública. No dia 19/01/2018 soubemos que a Presidência destina 30 bilhões de reais para captar votos de parlamentares. O alvo da compra é subtração de direitos dos trabalhadores, a “reforma” da previdência, em benefício do capital financeiro com sua previdência privada e outras façanhas e rapinas.
Volto à Enciclopédia: “os juízes foram submetidos às leis. Suas mãos foram atadas, após terem suas vistas cobertas, para os impedir de favorecer alguém. Por tal motivo, seguindo o estilo da jurisprudência, eles devem dizer o direito, não fazer o direito. Eles não são árbitros, mas intérpretes e defensores das leis. Que eles tomem cuidado para não suplantar a lei, sob pretexto de a suplementar. Julgamentos arbitrários cortam os nervos das leis e só lhes deixam a palavra, para nos exprimir com o Chanceler Bacon”.
Em todo o processo no qual se acusa Luiz Inácio da Silva, assistimos a mudança fatal indicada por Bacon e Diderot. Juízes se transformam em árbitros, a lei é subestimada, a defesa se torna impotente. As bases da acusação residem quase que exclusivamente em testemunhos de presos, cujas famílias são ameaçadas. Foi invertido o rumo da norma: não é o Estado a provar a culpa do réu. Cabe ao último evidenciar sua inocência. Semelhante forma de julgamento hostiliza o poder democrático, serve à exceção.
Para desnorteio dos cidadãos, uma dura magistratura superior, no dia 24/01/2018, exercerá o papel lamentável de corte especial de justiça, como em Vichy. Mesmo que, hipótese improvável, o réu seja absolvido, após o espetáculo dos procuradores com seu power point, ficou claro: todo o processo foi contaminado pela ideologia que, desde o “mar de lama” ao putsch de 1964, usa a desculpa da corrupção para retirar direitos da cidadania. No banco dos acusados, temos alguém que hoje reúne as esperanças dos esquecidos pelo judiciário. Na tribuna, tutores da ordem estabelecida. Ainda segundo o Chanceler Bacon, eles são “os leões sob o trono”. E diria Gabriel Naudé: em Porto Alegre “a sentença precede o julgamento”. Algo próprio dos golpes de Estado.
Bom dia com Plínio Marcos
Nesses dias difíceis me lembrei dele novamente. Na adolescência assisti Abajur Lilás e Navalha na Carne em Jundiaí. Depois encontrei-o vendendo seus livros na Praça da República em Sampa e na saída do bandejão da Unicamp. Chegamos a conversar. Mas é um trecho de um conto, que alguém transformou em monólogo, também lá em Jundiaí, que sempre aflora da memória:
“Eram vinte e cinco homens empilhados, espremidos, esmagados de corpo e alma, num cubículo imundo onde mal caberiam oito pessoas. (…) Eram vinte e cinco homens colocados no imundo cubículo para morrer. Para morrer aos poucos. Para morrer de forma que parecesse natural. (…) Para morrer sem estremecer as relações internacionais dos cidadãos contribuintes”
′′A sátira é a arma mais eficaz contra o poder: o poder não suporta o humor, nem mesmo os governantes que se chamam democráticos, porque o riso liberta o homem dos seus medos".
Dário Fo
Alguma dúvida?
Esse foi o gesto realizado pelo assessor internacional, de Bolsonaro, Filipe Martins, durante audiência do chanceler Araújo no Senado Federal. Crime de racismo e símbolo de intolerância supremacista branca da extrema direita nos Estados Unidos e no mundo.
Nossos hermanos têm lembrado, nestes dias, a implantação da ditadura militar argentina, a mais feroz do Cone Sul. Trinta mil mortos, como desejava aqui um certo capitão.
Os militares argentinos demonstraram especial sadismo contra compatriotas civis desarmados. Amarravam dezenas de pessoas e as dinamitavam em terrenos baldios. Ou as jogavam de avião nas águas geladas do Atlântico Sul. Homens e mulheres, adolescentes, jovens e idosos.
Quando tiveram uma oportunidade de demonstrar coragem, ao enfrentar tropas inglesas nas Malvinas, renderam-se como cordeirinhos. Pediram clemência. Afrouxaram. Saíram das trincheiras de mãos para cima, praticamente sem dar um tiro.
Fica o registro.
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