16 Março 2021
O Papa Francisco começou o processo de consulta para ajudá-lo a indicar um novo líder para o escritório de liturgia da Santa Sé e orientar sua direção futura.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 15-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A decisão de Francisco de realizar uma visita mostra a seriedade com que ele vê o trabalho da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos na supervisão da prática litúrgica pelo mundo. Isso também sugere que o Papa ainda não definiu quem deve substituir o cardeal Robert Sarah.
Embora a consulta seja uma visita, ainda não é totalmente uma “visita canônica”, pois, esta é um processo, embora nem sempre, usado para investigar comunidades ou instituições onde ocorreram violações de disciplina ou abusos.
O arcebispo Arthur Roche, secretário da congregação, disse ao The Tablet: “Esta não é uma visita canônica”. Ele confirmou que uma “visita consultiva” à congregação está ocorrendo e comparou isso a um bispo recebendo conselhos antes de finalizar uma nomeação. As visitas podem ocorrer formal ou informalmente e são usadas pelos superiores da Igreja para avaliar as comunidades pelas quais são responsáveis.
“É mais da natureza das consultas que um bispo diocesano teria com seu Vigário Geral e outros quando está nomeando um novo pároco”, explicou o arcebispo. “Nesse caso, a ideia é conhecer as necessidades da paróquia, a situação atual, bem como ter um olhar para a sua futura direção”.
Durante seu mandato, o cardeal guineense, amplamente admirado nos círculos tradicionalistas, fez inúmeras intervenções em desacordo com o desejo do Papa de implementar as reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II de 1962-65.
O cardeal falou sobre uma “reconciliação” entre as formas da Missa pré-Vaticano II e pós-Vaticano II, exortou os padres a começar a celebrar a Missa ad orientem, ou de costas para a povo, e alegou que a relação entre a Santa Sé e os bispos sobre as traduções litúrgicas é como de um pai com um filho sobre o dever de casa ou um orientador acadêmico com um aluno. No início do mandato do cardeal Sarah, a Congregação levou mais de um ano para redigir um decreto de 370 palavras que permitia que as mulheres fossem incluídas no rito de Lava-Pés da Quinta-Feira Santa, algo que Francisco havia especificamente solicitado.
Apesar de ter sido repreendido publicamente, o cardeal de 75 anos permaneceu no cargo por mais de seis anos até que sua renúncia foi aceita pelo papa no mês passado, depois que o cardeal Sarah chegou à idade de aposentadoria para bispos.
A visita à Congregação será conduzida por dom Claudio Maniago, que é o responsável pela liturgia da Conferência Episcopal Italiana. Ele ajudou a supervisionar uma nova tradução italiana dos textos da missa, dizendo que os textos litúrgicos devem colocar as reformas do concílio em prática.
A notícia da visita vem após um anúncio de mudanças nas celebrações litúrgicas na Basílica de São Pedro. Uma decisão da Secretaria de Estado encerra as múltiplas celebrações privadas da forma extraordinária da Missa, o rito litúrgico usado antes do Vaticano II.
Os frequentadores da missa matinal na Basílica de São Pedro encontravam padres e coroinhas celebrando liturgias – muitas vezes no rito antigo – por conta própria nas capelas laterais da basílica. A decisão visa garantir que a liturgia em São Pedro esteja de acordo com as reformas do Concílio, embora as missas na forma extraordinária continuem a ser oferecidas quatro vezes por dia em uma das capelas.
O processo de consulta na congregação e a decisão na Basílica de São Pedro sublinham que, para o Papa e seus colaboradores, o Vaticano II é normativo. Como diz o velho lema latino: lex orandi, lex credendi; a regra da oração é a regra da crença.
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Visita à Congregação para o Culto Divino ajudará o Papa a escolher o sucessor de Robert Sarah - Instituto Humanitas Unisinos - IHU