09 Março 2021
No Dia Internacional das Mulheres, 08-03, o superior geral dos jesuítas, Arturo Sosa, anunciou a criação da Comissão sobre o Papel e Responsabilidades das Mulheres na Companhia de Jesus. O padre Sosa explicou em uma declaração que a comissão é o próximo passo nos esforços da Companhia para a inclusão e colaboração total das mulheres, seguindo decretos anteriores de Congregações Gerais (onde jesuítas de todo o mundo se encontram depois da morte de um superior geral, um encontro que é considerado o de maior autoridade na Companhia de Jesus). Uma força tarefa foi estabelecida por Sosa em 2020, e também recomendou a formação de uma comissão desta natureza.
A reportagem é de Molly Cahill, publicada por America, 08-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Comissão sobre o Papel e Responsabilidades das Mulheres na Companhia de Jesus é composta por 10 membros: seis mulheres, três jesuítas e um homem leigo. De acordo com a declaração de Sosa, “a força tarefa desenvolveu uma excelente proposta sobre o caráter, a composição e a forma de escolher os membros da comissão” e então os candidatos potenciais foram sugeridos pelos presidentes das Conferências Superiores Maiores. Os membros representam oito países diferentes e trabalharão juntos por três anos antes de apresentarem um relatório final e uma avaliação ao padre Sosa, que determinará os próximos passos para a Companhia de Jesus baseado nas recomendações da comissão.
Uma das seis mulheres nomeadas para a comissão é Donna Andrade, que trabalhou na Escola Preparatória Fairfield College por mais de 40 anos e que agora serve como ministra na escola. Ela falou que estava “eufórica” por ser selecionada membro do grupo e reconheceu que há muitas “excelentes educadoras” na rede jesuíta.
Em 1987, Andrade iniciou nos Estados Unidos o primeiro programa de diversidade de escolas jesuítas na Fairfield. Gradualmente, esse trabalho foi expandido, e então em 1994 ela estava ajudando a coordenar uma conferência nacional de diversidade para estudantes de escolas jesuítas.
A professora Andrade está animada em ver uma representação significativa promovida pela nova iniciativa; a maioria dos membros da comissão são mulheres e vêm de lugares e contextos culturais muito diferentes. “Não é só da boca para fora”, disse ela. “A representação é impressionante. E não é apenas impressionante para mim como mulher. É emocionante para mim, como educadora jesuíta, porque existam pessoas de todo o mundo, que eu possa conhecê-las e aprender com elas, que eu possa experimentar seus contextos”.
Ela observou que a história será importante nas conversas que ela e seus colegas da comissão terão nos próximos três anos. “Tudo isso é um processo evolutivo. Meu maior objetivo é ter certeza de que não perdemos isso de vista. É a primeira vez que essa pergunta é feita dessa forma, mas só podemos começar a olhar dessa forma por causa de coisas que aconteceram antes de nós”, disse ela. “Minha maior esperança para nós é que não percamos de vista nossa história.”
Como uma mulher negra com um compromisso de longa data com a educação católica, Andrade reconhece que não pode separar suas identidades. “Existem todas essas intersecções... Quero ter certeza de que olhamos todas as intersecções que afetam a vida das mulheres. E no que diz respeito à igreja, olhar para aquelas estruturas que nos impedem de quebrar o teto de vidro”.
A professora Andrade acredita que o trabalho da comissão pode ser um sinal para a igreja em geral sobre o futuro da liderança e das contribuições femininas. “Acho que pode significar alguma reflexão honesta e discernimento sobre as estruturas institucionais e políticas que podem perpetuar o sexismo”, sugeriu ela. “Muitas pessoas podem querer atacar, já que o papel das mulheres em uma estrutura patriarcal como a nossa igreja é politicamente carregada e pode causar muita divisão. Estou particularmente preocupada em ter essas conversas de uma forma que não nos divida, mas nos una”.
O anúncio do padre Sosa detalhou os objetivos para o trabalho da comissão. A primeira é retornar ao Decreto 14, intitulado “Jesuítas e a situação das mulheres na Igreja e na sociedade civil”, da 34ª Congregação Geral dos Jesuítas e avaliar quão relevante continua a ser para o mundo contemporâneo – e quão bem sua missão tem sido realizada nos apostolados da Sociedade. Uma revisão é necessária e importante, pois, como escreve o superior geral, “o decreto foi promulgado em 1995. O mundo mudou substancialmente desde então, incluindo a situação das mulheres”.
Os outros objetivos exigem uma revisão das estruturas de colaboração da Companhia com as mulheres, recomendações para “fortalecer a missão da Companhia com a participação ativa das mulheres” e o incentivo ao “respeito mútuo, cuidado e solidariedade entre homens e mulheres”.
O padre Sosa sinalizou o profundo compromisso dele e da Companhia com a inclusão de todas as mulheres, chamando isso de uma questão de “reconciliação”, de aproximar as obras dos jesuítas do desejo de Deus por justiça na sociedade. Como afirmou em seu depoimento, “Abordar a questão da participação feminina na perspectiva da colaboração na missão é uma oportunidade de compreender mais profundamente para onde o Espírito nos conduz e de dar maior vitalidade à nossa vida, profundamente comprometida com a missão de reconciliação e justiça em todos os nossos apostolados”.
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Jesuítas anunciam nova comissão sobre o papel das mulheres na ordem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU