26 Fevereiro 2021
Proteger o ambiente e encorajar urgentemente os líderes mundiais a agirem para combater as mudanças climáticas foram algumas das marcas registradas do papado de Francisco.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada por The Tablet, 25-02-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco cronometrou a publicação da sua histórica encíclica ecológica, Laudato si’, para influenciar na cúpula do clima em Paris em 2015, a COP-21, que levou a um acordo histórico para reduzir as emissões globais de carbono.
De 1º a 12 de novembro de 2021, o Reino Unido, em parceria com a Itália, sediará a conferência da ONU sobre as mudanças climáticas COP-26 em Glasgow. Será o encontro mais importante de líderes mundiais para tratar do aquecimento global desde Paris, e os organizadores estão planejando que seja um evento presencial.
Visto que as viagens papais vão recomeçar na semana que vem, será que o papa poderia fazer uma visita a Glasgow? Fontes da Igreja disseram à The Tablet que a ideia está sendo avaliada.
Vale ressaltar que, no dia 15 de janeiro de 2021, a embaixadora do Reino Unido junto à Santa Sé, Sally Axworthy, foi recebida em audiência privada por Francisco. Presume-se que a COP-26 fez parte da conversa, embora não se saiba se uma visita foi discutida.
Obviamente, a programação da COP ainda não foi confirmada, e planejar qualquer viagem durante uma pandemia é algo cheio de incertezas. Neste momento, os escritórios vaticanos relevantes estão focados na próxima visita do papa ao Iraque. No entanto, Francisco não precisa de convite para ir à COP.
Todos os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima têm o direito de participar do evento em Glasgow, incluindo a Santa Sé, Estado observador da ONU. No entanto, cabe a cada Estado decidir que nível de representação enviará. O cardeal Pietro Parolin, o diplomata mais importante do Vaticano, liderou as delegações da Santa Sé nas cúpulas anteriores.
Uma viagem papal a Glasgow também estaria de acordo com o papel mais ativo que a Santa Sé desempenhou na ONU durante o pontificado de Francisco e apoiaria o “multilateralismo”.
O papa nunca quis que a Igreja ficasse à margem do debate sobre as mudanças climáticas. Falando aos diplomatas no Vaticano no início deste mês, ele disse esperar que “a próxima Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-26), prevista para Glasgow em novembro próximo, permita encontrar um entendimento eficaz para enfrentar as consequências das mudanças climáticas. Esta é a hora de agir, pois já podemos tocar com as mãos os efeitos de uma inação prolongada”.
Dias antes da COP de Paris, Francisco fez um discurso no escritório da ONU em Nairóbi, alertando que o fracasso em chegar a um acordo para proteger o planeta seria uma catástrofe. Mais tarde, após a realização da cúpula, houve rumores de que ele ajudou a resolver o impasse, ao telefonar para o presidente da Nicarágua, encorajando-o a assinar o acordo.
A mudança para uma diplomacia vaticana mais pró-ativa também foi mencionada recentemente pelo cardeal Parolin, que descreveu o papel da Santa Sé no cenário mundial como de “neutralidade positiva”, que não se limita a olhar pela janela, mas constrói um diálogo entre os países.
Do ponto de vista do governo do Reino Unido, uma visita do papa teria vantagens óbvias. A presença de Francisco tornaria a cúpula uma ocasião histórica e ajudaria a construir um consenso sobre os esforços para proteger o planeta.
Para o primeiro-ministro, Boris Johnson, a presença do papa poderia desviar a atenção do outro convidado especial esperado em Glasgow, o presidente Joe Biden. A relação de Johnson com o presidente dos EUA não tem sido tranquila, enquanto Biden, um cético em relação ao Brexit, supostamente teria descrito Johnson como “um clone físico e emocional” do ex-presidente Donald Trump. Um papa em Glasgow tiraria o foco das dificuldades de Johnson com Biden.
Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia e líder do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), pode não estar tão entusiasmada com esse cenário. No entanto, suas objeções seriam temperadas pelo apoio católico que o SNP recebeu.
Se o papa realmente viajar para a Escócia, é provável que seja algo curto, e o voo de três horas e meia entre Roma e Glasgow possibilitaria uma viagem de um dia. O papa já fez esse tipo de visitas antes, quando voou para Estrasburgo para discursar no Parlamento Europeu e à Suíça para comemorar o 70º aniversário do Conselho Mundial de Igrejas. Ambas foram viagens de um dia.
Se o papa for à Grã-Bretanha para encorajar as negociações sobre as mudanças climáticas, ele será apoiado pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby, que trabalha em estreita colaboração com Francisco. Nessa quarta-feira, 24, ele anunciou que o bispo de Norwich, Graham Usher, assumiria o comando do esforço ambiental da Igreja da Inglaterra.
Quando se trata de proteger o planeta, Francisco tem se mostrado disposto a usar todas as alavancas disponíveis para fazer mudanças. Por esse motivo, uma viagem papal a Glasgow, a segunda de um papa em uma década, não deve ser descartada.
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Papa Francisco visitará Glasgow para as negociações climáticas da COP-26? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU