10 Fevereiro 2021
Mais de 600 membros da Universidade de Georgetown, incluindo mais de 30 organizações estudantis, assinaram uma petição pedindo à universidade para cancelar a Conferência sobre a Vida Cardeal O'Connor (The Cardinal O'Connor Conference on Life), que ocorre anualmente. Em parte, o pedido ocorre porque o homenageado no título do evento tem um histórico negativo para a comunidade LGBTQ.
A reportagem é de Angela Howard-McParland, publicada por New Ways Ministry, 09-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Fundada em 2000 pelos estudantes da Georgetown, a conferência atrai, a cada ano, centenas de participantes de faculdades e escolas como parte da Marcha pela Vida, um protesto contra o aborto, em Washington D.C. Essa é a maior conferência estudantil contra o aborto nos EUA.
A petição circulou através da organização estudantil H*yas for Choice e foca tanto no elenco de palestrantes quando no homenageado no título da conferência, de acordo com Lauryn Ping, membro do H*yas for Choice e principal autora da petição. Os organizadores pedem para que a universidade condene as posições de O'Connor contrárias aos LGBTQs, e troque o nome da conferência, que ocorreu no último dia 30 de janeiro, e tem sua próxima edição marcada para dezembro de 2021.
Em uma entrevista ao The Hoya, Ping explica: “essas são as questões de maior urgência que temos com a conferência. Dado nosso atual clima político, eu penso que é mais importante do que nunca realmente rejeitar a homofobia e a transfobia, assim como o racismo”.
O cardeal John O'Connor, ex-arcebispo de Nova York, tem um histórico de firme posições contra o aborto, assim como continuamente apoiou ideias e políticas contrárias aos LGBTQs. Ainda, baniu as missas promovidas pela Dignity, uma organização de católicos LGBTQs, criticou a lei nova-iorquina de 1986 que garantiria proteção legal à comunidade LGBTQ. No auge da epidemia de AIDS, ele se opôs aos programas de distribuição de preservativos, aos de educação e de prevenção da AIDS. Ele falou abertamente sobre excluir uma organização LGBTQ irlandesa de uma festa de São Patrício (St. Patrick’s Day) na cidade de Nova York. Mesmo em relação a seus colegas bispos, O'Connor era extremista nas visões anti-LGBTQ, como em sua proposta de uma emenda se referindo à homossexualidade como “objetivamente desordenada” para um documento da Conferência dos Bispos dos EUA, em 1990 – a emenda foi rejeitada em votação.
“Ano após ano, essa conferência glorifica o cardeal O'Connor – um famoso homofóbico e misógino – e provê uma plataforma para palestrantes extremamente racistas, sexistas, anti-LGBTQs para doutrinar centenas de jovens e adolescentes com suas ideologias de ódio”, acusa a petição. “O fato de que Georgetown continua a sediar a Conferência O'Connor demonstra sua falta de preocupação com os estudantes marginalizados e seus interesses”.
Vários dos palestrantes do passado e do presente também são notórios por defenderem visões anti-LGBTQ. Entre os palestrantes de 2021 incluíram-se Alveda King e Valerie Huber. King é sobrinha de Martin Luther King Jr. e se opõe abertamente ao casamento homossexual, comparando-o ao genocídio. Huber, nomeada por Trump para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, promoveu educação sexual exclusivamente para a abstinência e argumentou contra o ensino do consentimento e prevenção de agressão sexual a adolescentes.
Jacob Bernard, que falou em nome da Associação de Estudantes da Universidade de Georgetown, disse que o compromisso da escola com os alunos marginalizados, incluindo a comunidade LGBTQ, é razão suficiente para tomar medidas contra a conferência: “Gostaríamos de ver a universidade tomar medidas significativas para apoiar mulheres e a comunidade LGBTQ+ apoiando a Iniciativa H*yas for Choice, combatendo a homofobia e investindo em melhores serviços de saúde mental”.
Um editorial no jornal estudantil The Hoya argumenta que “Georgetown tem um dever claro, de acordo com seus valores jesuítas, de elevar as vozes dos alunos marginalizados e rejeitar aqueles que trazem o fanatismo ao campus”. Citando a declaração de missão e os valores declarados da universidade, o editorial afirma: “Esses palestrantes envergonham os valores jesuítas de Georgetown. A universidade não pode ‘afirmar e promover’ uma ‘comunidade na diversidade’ quando apoia o preconceito no campus. Nem pode a Georgetown oferecer uma ‘fé que faz justiça’ para os ‘marginalizados e vulneráveis’ em nossa comunidade quando atribui seu nome a tal fanatismo”.
A política de fala e expressão de Georgetown permite que os alunos convidem qualquer palestrante escolhido para o campus, esclarecendo que permissão não significa endosso. Em declarações ao The Hoya, um porta-voz da Universidade afirmou que a política “guiou nossa abordagem ao discurso, mantendo o direito fundamental dos membros de nossa comunidade à liberdade de expressão, diálogo e pesquisa acadêmica”.
No entanto, como os objetores apontam, há uma diferença entre permitir palestrantes no campus e financiar e endossá-los diretamente. O site da Conferência O'Connor lista vários departamentos da Universidade como patrocinadores, incluindo o Gabinete do Presidente, Reitoria e a Capelania Católica. O apoio institucional de Georgetown à conferência mina seus compromissos declarados com a dignidade humana e a justiça social enraizada na fé. Oradores centralizadores e um cardeal cujo legado é repleto de retórica prejudicial às comunidades marginalizadas dificilmente representa uma opção preferencial pelos mais vulneráveis, nem defende o bem comum do campus e das comunidades mais amplas.
Mudar o nome da conferência e examinar com mais cuidado os palestrantes continuaria a permitir a livre troca de ideias e diálogo sem criar simultaneamente um ambiente inseguro para alunos, professores e funcionários LGBTQ. Caso contrário, a Universidade deve deixar de promover o evento com publicidade e recursos, sinalizando o seu compromisso com a diversidade e a inclusão num verdadeiro espírito jesuíta.
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Estudantes da Universidade de Georgetown opõem-se à conferência em homenagem a bispo contrário à pauta LGBTQs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU