02 Fevereiro 2021
De 18 de março a 3 de dezembro de 2020, a riqueza dos bilionários aumentou em 3,9 trilhões de dólares (cerca de 21,2 trilhões de reais), chegando a um total de 11,95 trilhões de dólares (65 trilhões de reais), valor equivalente ao que os governos do G20 empregaram em resposta à pandemia. Em contraposição, quase a metade da população mundial foi forçada a sobreviver com menos de 5,50 dólares (30 reais) por dia.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Os dados constam no relatório 2020 da Oxfam Internacional. “Estamos em um ponto crucial da história humana”, alerta a organização de ajuda humanitária atuante em 90 países na busca de soluções para o problema da pobreza, desigualdade e da injustiça. “Não pode haver retorno para o onde estávamos antes. Em vez disso, cidadãos e governos devem agir com urgência para criar um mundo mais igualitário e sustentável”.
As desigualdades apontadas no relatório de 89 páginas indicam que bilhões de pessoas já viviam no limite da sobrevivência quando a pandemia iniciou. Mais de 3 bilhões de pessoas não tinham acesso à saúde, três quartos d@s trabalhador@s não tinham acesso à proteção social, como seguro-desemprego ou auxílio-doença, e em países de baixa e média renda mais da metade vivia de trabalhos precários.
“Essa desigualdade é produto de um sistema econômico falho e explorador, que tem suas raízes na economia neoliberal e na captura da política pelas elites”, afirma a Oxfam. “Os governos em todo o mundo têm uma janela de oportunidade pequena e cada vez menor para criar uma economia justa após o covid-19, que seja mais igualitária, inclusiva, que proteja o planeta e acabe com a pobreza”, admoesta a organização mundial.
A crise do coronavírus atingiu um mundo que já era extremamente desigual. “Ela afetou muito mais as pessoas que vivem na pobreza do que os ricos, e teve impactos particularmente graves sobre mulheres, negras e negros, afrodescendentes, povos indígenas e comunidades historicamente marginalizadas e oprimidas em todo o mundo”, aponta o relatório.
Assim, no Brasil pessoas negras têm 40% mais chance de morrer de covid-19 do que pessoas brancas. Se as taxas de mortalidade da doença nos dois grupos fossem as mesmas, até junho de 2020, mais de 9.200 afrodescendentes estariam vivos.
Na região Pan-Amazônica, o número de mortes entre a população indígena aumentou de 113 para 2.139 em apenas seis meses. Dos 400 povos indígenas que vivem na região, até meados de novembro, o vírus havia atingido 238 deles.
As mulheres realizam três quartos de todo o trabalho de cuidado não-remunerado, e representam dois terços da força de trabalho nessa área. Elas são, muitas vezes, mal pagas, embora contribuam com trilhões de dólares para a economia global e permitem que os mais ricos prosperem. Se salários entre homens e mulheres estivesse equilibrado, 112 milhões de mulheres não correriam o risco de perder rendimentos e empregos em setores atingidos de modo negativo pela pandemia.
O Banco Mundial prevê que mais de 501 milhões de pessoas ainda viverão com menos de 5,5 dólares por dia em 2030, se os governos não estancarem o aumento da desigualdade, e o número total de pessoas vivendo na pobreza poderá ser maior do que antes do surgimento do vírus.
O Produto Interno Bruto (PIB) global dobrou desde 1990, mas em países de baixa renda ou renda média mais da metade d@s trabalhador@s ainda vive na pobreza. Pouco dos rendimentos auferidos no crescimento econômico foram divididos com @s trabalhador@s. Em 91 de 133 países os salários não cresceram na mesma rapidez quanto a produtividade entre 1995 e 2014.
O relatório da Oxfam indica cinco passos para um melhor quadro mundial: um mundo mais igualitário, em que as economias de importem com as pessoas, um mundo sem exploração e com segurança financeira, um mundo em que os super ricos paguem uma quantia justa de impostos e um mundo com segurança climática.
A Oxfam admoesta: O colapso do clima é a maior ameaça à existência humana. O relatório completo está disponível aqui.
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Pandemia expõe a oportunidade de construir um outro mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU