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Os gritos silenciosos do meu pai quando voltou do campo de concentração

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19 Janeiro 2021

Il Profumo di mio padre

“Nós, filhos dos sobreviventes das câmaras de gás de Birkenau, não somos normais. E nunca seremos. Nós, dos nossos pais, não ouvimos apenas palavras ternas, mas sim o silêncio misturado com lágrimas e gritos”. Do que se trata essa "não normalidade", do lento e doloroso processo de metabolizar um legado único, oferece um belíssimo testemunho Emanuele Fiano, arquiteto, parlamentar do Partido Democrata e filho de Nedo, falecido há um mês aos 95 anos. O livro O perfume de meu pai (em tradução livre) é fruto de uma dolorosa autoanálise, expressão de um grande amor filiar - como escreve Liliana Segre no prefácio – e, ao mesmo tempo, um ato libertador que se realiza na transmissão da memória e na elaboração das feridas ligadas a essa memória.

O caçula de três irmãos, nascido em 1963 em uma Milão que havia se tornado elétrica pelo boom econômico e pela criatividade da fábrica, o Emanuele criança percebe uma sombra escondida naquele pai muito vivaz engajado na carreira industrial, fascinado pelo nascente design e as mil oportunidades de Nova York, sempre arrumado e cheirando a Lifebuoy, o aroma do sabonete cor de laranja que se espalha pela casa com o efeito de um bálsamo. E justamente naquela fragrância estava guardado um pedaço da história nunca contada. "Só mais tarde eu descobriria que era o perfume do soldado estadunidense negro que o havia libertado em Buchenwald."

A entrevista com Emanuele Fiano é de Simonetta Fiori, publicada por La Repubblica, 18-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Em sua família, bem como nas famílias de muitos sobreviventes, ninguém falava sobre o Holocausto por um longo tempo.

Era um tabu, para usar um termo psicanalítico que se encaixa neste meu trabalho de escavação. Em casa, Auschwitz era uma palavra desconhecida, mas a memória flutuava no ar mesmo através de sinais não verbais, e eu percebia todo o seu horror. Tínhamos muito poucas fotos da família paterna, mas as paredes eram cobertas de livros em todas as línguas que falavam do extermínio. Imagens assustadoras que comunicavam muito, mas ninguém me explicava nada.

Seu pai suavizava até as feridas mais evidentes.

O pequeno número no braço, os buracos nas pernas, o dedão cortado: ele me contava histórias tranquilizadoras sobre cada coisa. ‘É o número do telefone, pais esquecidos o anotam assim’, dizia ele, apontando para a tatuagem. E eu perguntava aos meus colegas: o teu pai também faz isso?.

Parece uma das saídas do personagem de Benigni em "A vida é bela".

Papai atuou como consultor para ele, mas não sei dizer mais nada. Sei que a jaqueta que Roberto usou foi costurada sobre aquela que meu pai guardava. E é claro que ele teve o cuidado de não me mostrar.

Mas também havia as repentinas explosões de raiva.

Numa viagem, ele começou a reclamar dos arranhões causados pelos espinhos ao tentar colher amoras. E eu com a inocência tola de uma criança perguntei: ‘Papai, é pior que Auschwitz?’. Fiquei surpreso com a reação dele: palavras muito duras, de um pai sempre muito doce. Não entendi o que tinha dito de tão grave.

Você também fala sobre sua mania de organização obsessiva.

A mesa tinha de ser posta com precisão, nunca um talher fora do lugar. Também a arrumação de sua cama. Sempre fiquei impressionado com um hábito que ele mantinha enquanto esteve consciente: ele sempre tinha as unhas bem cuidadas. Eu só teria entendido o motivo quando ele me disse que em Auschwitz enlouquecia vendo os restos de terra sob as unhas: ele sabia que aquela terra estava misturada com as cinzas de seus pais, de seu irmão, de seus tios. A mania de organização era um remédio contra a bolgia do campo de concentração, precisamente no sentido dantesco.

Ele era um pai que não admitia lágrimas em seus filhos. No entanto, vocês o viam chorar na frente de Hitler ou Mussolini na TV.

Nunca se devias chorar. Mas a sua dura lição foi contrariada pelo sofrimento em que o via cair em certas ocasiões.

Aconteceu durante a cerimônia de Páscoa judaica, na casa do rabino em Milão.

Pediram a meu pai que lesse uma passagem sobre a escravidão dos judeus no Egito. Foi escolhido porque encarnava a escravidão dos campos de concentração, portanto com uma intenção pedagógica positiva. Ele se derretia em uma emoção irrefreável, sentindo-se vítima em suas feridas mais profundas. E sofria junto com ele, porque sentia a sua dor e porque não é fácil testemunhar a transfiguração do pai de super-herói em vítima chorosa.

Você carregou consigo um sentimento de inadequação por muito tempo.

Até o fim da sua vida - e talvez até agora - senti o dever de o compensá-lo por tudo o que lhe foi tirado. Era como se todos nós - sua amada nova família, aquela que ele construiu do zero depois da guerra - tivéssemos que ser o que havia desaparecido, mas isso era impossível. E você fica com a sensação de inadequação para um vazio intransponível.

É difícil confrontar-se não apenas com um pai que sobreviveu a Auschwitz, mas com um pai que encontrou forças para resistir até mesmo ao deserto depois do inferno: depois da guerra, ele havia ficado completamente sozinho.

Sua vida foi uma vida difícil, enfrentada com uma força vital inigualável. A psicanálise me ajudou a entender que eu não precisava competir com meu pai. E que eu não tinha que ressarci-lo por nada: não é minha culpa o que aconteceu. Eu tinha que - sim - viver de forma consequente a lição que ele me ensinou. E a experiência política foi em parte um remédio. Ainda que a princípio não tenha apreciado a minha escolha: talvez porque a política tivesse traído seu pai Olderigo, um fascista devoto que foi depois mandado para a câmara de gás por Mussolini.

A transição da memória privada para a memória pública não foi indolor: você teve conhecimento dos detalhes dramáticos de sua história durante uma conferência.

Eu tinha 14 anos. Claro que eu sabia que meu pai havia sobrevivido ao campo de concentração, mas até então ele ainda não havia me contado sobre a tragédia de sua família. No início da conferência, ele disse que de Auschwitz trouxera uma mala fechada com ele e que a partir daquele momento ele teria começado a abri-la. Era legítimo da sua parte: escolhia se tornar testemunha, portanto, partilhar a sua experiência para o bem de todos. Mas aquela mala fechada era o nosso não dito, algo que pertencia à complexidade e intensidade do nosso amor. Senti confusão e talvez um pouco de ciúme.

Depois você o entenderia como um sentimento especular.

Quando comecei a fazer política, sofria porque minha memória privada não era reconhecida como um elemento da história nacional. Depois me livrei disso também.

Manter os documentos históricos de seu pai em suas mãos também não foi fácil.

Eles representaram a irrupção da história trágica naquilo que na minha vida de criança tinha sido um conto mítico, com as características reconfortantes da lenda. Havia uma dimensão fantasmagórica que me ligava ao meu pai - a dor dele era minha, até seu perfume passou a ser meu - e era como se tudo isso se fragmentasse diante dos papéis escritos em caracteres góticos ou com os escritos dos libertadores estadunidenses.

Seu pai, tão cheio de memória, viveu os últimos anos numa espécie de ausência cognitiva. Como você experimentou a sua perda de memória?

Foi uma fase completamente nova do nosso amor. Por um lado, tive um sentimento positivo porque, ao não se lembrar mais, ele havia parado de sofrer. Por outro lado, no entanto, senti falta do pai das histórias e da conversa. E talvez disso surgiu a urgência de fixar a lembrança num livro, juntamente com a elaboração das feridas. Comecei a escrever quando meu pai perdeu a memória.

Você encerra seu testemunho com as palavras de seu pai ressoando em você.

Não me esqueça, não deixe que me esqueçam, não te esqueça das ruínas fumegantes às tuas costas, saiba que é filho da força sobre-humana de quem não se deu por vencido e continuou a ter esperança. Seu legado não consiste apenas em cultivar a memória, mas em continuar o trabalho dos escavadores da alma humana. Aprendi também com o que ele não conseguiu me dizer, talvez por delicadeza: a abjeção alcançada não só pelos SS, mas também pelo ser humano levado ao grau último de sua condição.

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