25 Janeiro 2018
"Nós testemunhas seremos esquecidos como os migrantes que se afogaram no mar." É triste (ou esclarecedora!) a comparação de Liliana Segre, a sobrevivente de Auschwitz recém-nomeada senadora vitalícia, em uma entrevista com Lucia Ascione para a TV2000: "Nós testemunhas do Holocausto somos agora bem poucos, como os dedos de uma mão, e logo que todos estivermos mortos, o mar vai se fechar completamente sobre nós na indiferença e no esquecimento. Como está sendo feito gora com os corpos que morrem afogados na busca por liberdade e ninguém mais preocupa-se com eles".
A reportagem é de Giulio Isola, publicada por Avvenire, 24-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em sua residência, em Milão, Segre traz à luz os momentos dramáticos do Holocausto, as leis raciais de 1938, a deportação para Auschwitz, a libertação, os anos do silêncio e do testemunho: "Meu silêncio durou 45 anos. Precisei me tornar avó. Foi um momento que me completou, uma grande experiência de vida completo e que me deu a força para abrir-me depois desse silêncio terrivelmente pesado. Auschwitz foi um inferno tão grande, foi um momento de tamanha degradação da humanidade, que eu não conseguia encontrar as palavras. Eu não as encontrava e preferia ficar calada. Mas, finalmente, e devo dizer que foi uma grande libertação, aconteceram eventos que, gradualmente, fizeram com que me tornasse uma testemunha do Holocausto."
A comovente entrevista, que foi ao ar ontem, também abordou questões atuais: "Eu sempre quis viver. E podemos ver o que é esse desejo pela vida nos hospitais. Quando alguém escolhe o suicídio acontece uma discussão sobre o livre arbítrio. Mas, na realidade, quantos são aqueles que no hospital escolhem puxar o plugue da tomada? Aqueles que, já sabendo que no dia seguinte irão ser operados e terão um período doloroso pela frente, quantos são os que escolhem puxar o plugue? Estar plugado à vida é inerente para nós: desde que saímos do útero, chorando, até o último minuto de vida. E eu para os jovens com que costumo regularmente falar, digo sempre que a vida é maravilhosa, que devem amá-la e não perder um minuto dessa vida. A vida pode ter reviravoltas fantásticas e o desejo pela vida que está dentro de cada ser humano é muito grande. É como o girassol que se vira para o sol e o procura."
Na quinta-feira Liliana Segre estará no Quirinale (Palácio do Governo) para a celebração do Dia da Memória: "Lembro-me do silêncio dentro do vagão do trem que nos levava para Auschwitz. Esse silêncio é importante. Eu tento explicar isso quando falo com as crianças e os estudantes que encontro ... que hoje se vive em um mundo de ruídos. Nós não conhecemos mais o silêncio que pode ser tão importante para estar com si próprio, mas também para compartilhar a proximidade da morte. Das 605 pessoas naquele trem, que era apenas um dos muitos, voltamos em 22”.
Leia mais
- Memória do Holocausto - Dia Internacional. Uma rua para os professores que disseram Não
- Memória do Holocausto – Dia internacional. Lia Levi. Entrevista
- Memória do Holocausto - Dia Internacional. "Sou apenas uma avó. Transmito a memória sem ódio nem vingança"
- Memória do Holocausto - Dia Internacional. "Eu, de Auschwitz a senadora vitalícia, mas não esqueço e não perdoo"
- Memória do Holocausto - Dia Internacional. “Eu não gostaria que tudo acabasse em outra Auschwitz”. Entrevista com Di Segni, rabino da sinagoga de Roma
- Não só Holocausto: a loucura do genocídio é uma tentação recorrente da humanidade
- 'Comi cascas de batata do lixo e me cobri com cadáveres para não morrer', diz sobrevivente do Holocausto
- "Cuidado, o horror continua à espreita": a advertência de Bauman sobre o Holocausto
- A banalidade do selfie: o turismo do Holocausto, entre sorrisos e sanduíches
- As raízes comuns do drama do Holocausto
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Memória do Holocausto - Dia Internacional. Liliana Segre: nós, esquecidos como aqueles migrantes no mar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU