13 Janeiro 2021
Muitos católicos, de bispos a religiosos, das mídias eclesiais aos movimentos pró-life, são "cúmplices" do ataque ao Capitólio pelos partidários de Donald Trump. Se a hierarquia eclesiástica dos EUA silenciar ou se limitar a palavras circunstanciais para condenar violência sem qualquer autocrítica e quase sem mencionar Trump - como, por exemplo, o presidente da Conferência Episcopal e Bispo de Los Angeles, Dom José Horacio Gómez -, as associações de base e pela reforma da Igreja (reunidas na rede Cor, Catholics Organisations for Renewal) expressam um severo juízo sobre os acontecimentos de 6 de janeiro e, sobretudo, sobre as responsabilidades dos católicos.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 12-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Condenamos a cumplicidade e a participação da comunidade católica estadunidense na promoção do clima que encorajou e possibilitou tal violência”, afirmam em comunicado conjunto assinado por onze associações. "O caos e a violência que aterrorizaram nossa nação na quarta-feira foram o resultado direto e previsível de mais de quatro anos de retórica violenta, racista, xenófoba e misógina do presidente Trump", uma retórica "que muitos bispos dos EUA repetidamente deixaram de nomear e condenar, tanto individual quanto coletivamente”. As pesquisas mostram que 52% dos católicos votaram em Trump: divididos pela metade, como a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos.
E vários bispos, apesar de John Biden ser católico - o segundo presidente católico dos EUA, depois de Kennedy - apoiaram Trump, especialmente por suas políticas antiaborto, contra os direitos das pessoas LGBTQ e a favor das escolas católicas. Muitos bispos, como o cardeal de Nova York Timothy Michael Dolan, e muitos católicos colocaram esses "princípios não negociáveis" na frente da "defesa da vida e da dignidade dos mais pobres e vulneráveis" e se desinteressaram pelos "efeitos desastrosos da mudança climática e das ideologias opressoras baseadas na supremacia dos brancos e no nacionalismo”, denunciam as associações da rede Cor.
Uma postura semelhante àquela assumida pelo movimento We Are Church: “A Igreja Católica deve ser um exemplo para o mundo na promoção da justiça, igualdade e paz, mas não é”. A esperança é que o assalto ao Capitólio seja uma "nova epifania", a partir da qual "a comunidade católica aprenda a se empenhar com maior diligência para se tornar uma comunidade de agentes da justiça".
E Johnny Zokovitch, diretor executivo da Pax Christi Usa: "Os eventos de 6 de janeiro são o resultado da demagogia de um homem, o presidente Trump, e do fracasso de todos aqueles que desculparam, negligenciaram, rejeitaram ou estimularam o ódio e a retórica divisionista que caracterizou o mandato deste presidente", inclusive os católicos, "são o triste e previsível resultado desta abdicação de responsabilidades". A conclusão é quase apocalíptica: “No livro do profeta Oséias, Deus avisa: Quando semearem o vento, colherão a tempestade”. Esperamos, conclui o diretor executivo da Pax Christi, que esses fatos “sirvam como um momento de conversão para muitos”.
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“Católicos cúmplices de Trump”. Mas o mea culpa não aparece - Instituto Humanitas Unisinos - IHU