18 Dezembro 2020
Diante da disseminação da homofobia e transfobia, grupos de Católicos LGBTS tem avançado no desenvolvimento de comunidades e conexões com a comunidade queer, outros católicos e um com o outro.
A reportagem é de Mac Svolos, publicada por New Ways Ministry, 18-12-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O movimento católico LGBT no Brasil é menor e mais invisibilizado que nos Estados Unidos, relatou Crux, embora o Brasil, como maior nação católica no mundo, tenha uma população católica per capita muito maior. A associação Diversidade Católica, a mais antiga associação de LGBTs católicos, foi fundada em 2006, no Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do país. Desde então, grupos similares foram aparecendo pelo país para atender aos católicos que não são aceitos por suas paróquias. Uma rede nacional de 23 grupos de LGBTs católicos foi iniciada em 2014.
A maioria dos grupos são relativamente independente da Igreja, de acordo com Crux:
“Exceto por [poucas] comissões pastorais, a maioria dos outros grupos não estão recebem seus encontros em paróquias ou espaços pertencentes às Igrejas, preferindo se reunir em locais independentes. Muitos deles optam por não publicar o anúncio de encontros, a fim de evitar atrair atenção indesejada, com potenciais participantes sendo entrevistados antes de receberem mais informações sobre os encontros”.
A rede permite aos Católicos LGBTs encontrarem um lugar seguro para oração, levando-os a padres que os afirmam e a encontrar comunidades. Pelo menos um grupo de apoio para pais de Católicos LGBTs também apareceu.
Politicamente, é um tempo difícil para o movimento LGBT no Brasil, com apoiadores da extrema-direita, do presidente autoritário Jair Bolsonaro, conquistando muita influência. Cris Serra, coordenadora da rede, falou ao Crux que “a direita católica no Brasil atualmente tem um grande poder para mobilizar pessoas e exercer pressão financeira sobre a Igreja”. Diante dos ataques de apoiadores de Bolsonaro, o presidente da Conferência dos Bispos do Brasil tentou distanciar a Igreja dos LGBTs católicos. De acordo com Crux:
“Em maio de 2019, logo depois do arcebispo de Belo Horizonte Walmor Oliveira de Azevedo ser eleito o novo presidente da CNBB, um youtuber bolsonarista lançou um vídeo o atacando devido à existência de uma Pastoral da Diversidade na sua arquidiocese”.
“Dom Walmor negou que o grupo era para LGBTs católicos em Belo Horizionte, dizendo que era um serviço pastoral para famílias com problemas de relação”.
Além da falta de apoio, os católicos LGBTs no Brasil tem sido torturados pelas mãos da própria Igreja. Serra, que é não-binária, falou ao Crux, “na Igreja nós estamos frequentemente silenciados e demonizados. Alguns de nós somos assediados fisicamente durante práticas de exorcismo e outras similares”.
João Victor Oliveira, historiador, comentou sobre o trauma profundo que muitos católicos LGBTs vivenciam no Brasil:
“A maior de nós de tem cicatrizes profundas. Processos extremamente violentos moldaram nossa subjetividade na Igreja. É como ter ressentimento profundo e acreditar sempre que somos naturalmente pecadores... Ninguém está apto a identificar como um católico LGBT sem uma rede de segurança”.
Por causa da profunda necessidade de apoio e cura entre os católicos LGBTs, a construção de uma comunidade de acolhida tem sido o foco de Oliveira. Ele comentou:
“Nós não estamos muito preocupados em justificar nossas posições ou pedir permissão para entrar na Igreja. Nós sabemos que somos filhos e filhas amados de Deus e que somos seguidores de Cristo”.
Os católicos têm motivos para lamentar quando nossa Igreja prioriza a respeitabilidade social sobre a segurança e o bem-estar de seus próprios membros. A negação de dom Walmor de um grupo que ele estabeleceu é uma reminiscência da negação de Pedro a Jesus no Evangelho. As palavras de Cris Serra e João Victor Oliveira falam do trauma sofrido pela comunidade católica LGBT e também da nossa profunda resiliência. Diante da extrema homofobia e transfobia, os membros dessas comunidades no Brasil desenvolveram uma fé e um senso de autoestima que não depende da aprovação da igreja institucional.
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Grupos de LGBTs católicos do Brasil avançam na construção de comunidades e conexões - Instituto Humanitas Unisinos - IHU