14 Dezembro 2020
"Compete a nós não deixar que o sonho seja apenas sonho errático, mas seja aquilo que ele significa, o “antecipador de realidades futuras e possíveis:” o começo seminal de uma nova forma de habitar juntos, como irmãos e irmãs e com a natureza, na mesma Casa Comum", escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor, em texto apresentado no Seminário ‘Fratelli tutti: A mensagem social global do Papa Francisco', 03-11-2020.
A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) com 120 anos de existência é uma referência internacional em ciência e tecnologia nas ciências biológicas e da saúde, especialmente em saúde pública. Nesse tempo de pandemia do Covid-19, desempenhou um papel fundamental no esclarecimento da ação do vírus e também da produção de vacina em colaboração com a Universidade de Oxford. No âmbito de Seminários Avançados em Saúde Global e Diplomacia da Saúde solicitou-se um debate sobre a encíclica social Fratelli tutti do Papa Francisco.
Os cientistas, animados pela Presidente desta magna instituição, talvez a maior da América Latina, Nísia Trindade de Lima, organizaram um debate sobre a encíclica, conscientes de sua relevância humanitária. No debate estava o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich e a pesquisadora emérita Cecília Minayo, sendo moderador o professor emérito da Fiocruz Paulo Marchiori Buss.
A presidente Nísia Trindade Lima solicitou um apoio do Papa Francisco. Ele veio, rico e minucioso, celebrando a significação da Fiocruz, mas chegou apenas no dia seguinte, quando deveria ser a abertura do evento. Mas valeu a pena este reconhecimento.
A mim foi solicitada uma breve exposição da Fratelli tutti, o que aceitei com honra, dada a alta significação da Fiocruz. O texto que segue publicado representa o que foi apresentado aos presentes. Seguiu-se um breve e inteligente debate, sempre valorando a contribuição da Fratelli tutti para a modelagem de um novo futuro para a humanidade no pós-Covid-19. Segue o texto da palestra.
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Não é difícil de perceber que o Papa Francisco com a encíclica social Fratelli tutti rejeita o atual modo de viver na Casa Comum, pois afirma “Se alguém pensa que se trata apenas de fazer funcionar o que já fazíamos, ou que a única lição a tirar é que devemos melhorar os sistemas e as regras já existentes, está negando a realidade” (n.7).
Diretamente afirma “que é uma ilusão enganadora pensar que podemos ser onipotentes e esquecer que nos encontramos todos no mesmo barco” (n.30). Em função disso adverte: “ninguém se salva sozinho, só é possível salvar-nos juntos” (n.32).) Num twitter em fins de outubro declarou: “Ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”.
Ataca diretamente as quatro pilastras que sustentam o atual sistema mundial: o mercado em termos de economia, o neoliberalismo em termos de política, o individualismo em termos de cultura, e a devastação da natureza, em termos de ecologia: “O mercado, por si só”, afirma o Papa, “não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer neste dogma de fé neoliberal. Trata-se dum pensamento pobre, repetitivo, que propõe sempre as mesmas receitas perante qualquer desafio que surja. O neoliberalismo reproduz-se sempre igual a si mesmo... como única via para resolver os problemas sociais” (n.168). O individualismo é apresentado “como o vírus mais difícil de vencer; não é capaz de gerar um mundo melhor para toda a humanidade... como se, acumulando ambições e seguranças individuais, pudéssemos construir o bem comum” (n.105). Em termos de ecologia, critica a devastação da natureza em razão da ganância e mais e mais acumular e das mortes que produz na humanidade e na natureza.
“A sociedade mundial tem graves carências estruturais que não se resolvem com remendos ou soluções rápidas meramente ocasionais. Há coisas que devem ser mudadas com reajustamentos profundos e transformações importantes” (n.179). O seu propósito é acumular sem limites, no pressuposto de que os recursos naturais também seriam sem limites. Tal pressuposição se revela falsa. A Laudato Si' a denuncia como “uma mentira” (n.161), pois um planeta finito não suporta um projeto infinito.
Conclusão: encontramo-nos atualmente num mundo “sem um projeto para todos” (n.15; n. 31). Sem ele, todos ficamos reféns do projeto privado dos mais fortes que instauram uma perversa opressão econômica, social e cultural sobre todas as sociedades humanas, inaugurando, segundo alguns cientistas, uma nova era geológica, a do antropoceno, na qual o ser humano constitui a grande ameaça à vida.
Esse sistema não se afina com a natureza humana que é essencialmente cooperativa e solidária, como nos ensinam as neurociências e as ciências da vida. O ser humano, de verdade, emerge como um ser de relação, voltado em todas as direções e conectando-se com toda a realidade, também a divina.
Esse modo de habitar a Casa Comum nega uma das constantes cosmológicas, que preside o inteiro universo e que sustenta todos os seres, das galáxias mais distantes, das estrelas, da nossa Terra e até de cada um de nós. Esta constante significa que tudo está relacionado com tudo e que ninguém existe fora da relação (Laudato Si', n. 86; 117).
Tudo isso é rejeitado, prática e teoricamente, por este sistema que atomiza as ciências e as práticas produtivas e que se tornou, nas palavras do grande biólogo Edward Willson, o grande Satã da Terra, ao invés de ser seu anjo bom e cuidador. Fez-se o meteoro rasante que mata e assassina vidas da natureza e da humanidade, expressão usada com frequência pelo Papa Francisco.
É neste contexto de um sistema à deriva, com um futuro sem futuro, que o Papa Francisco propõe uma alternativa, fundada em princípios e valores ausentes na atual ordem, em plena crise sistêmica.
Em que fontes vai beber os princípios e valores que poderão representar uma alternativa à ordem/desordem vigente? Busca-a naquilo que é o mais humano nos humanos, pois só aí se encontra uma base sólida, sustentável e universalizável. Por serem essencialmente humanos, estes valores e princípios estão presentes em todos os homens e mulheres das mais diferentes culturas, ganhando expressões diferentes, próprias de cada tradição cultural mas sempre como articulações deste dado antropológico de base.
Então, o amor deixa de ser uma experiência somente entre dois seres que mutuamente se atraem, para emergir como amor social. Da mesma forma, a amizade ganha uma expressão social, “pois não exclui ninguém” (n.94); a fraternidade entre todos os humanos é sem fronteiras, incluindo, no espírito de São Francisco, os demais seres da natureza que, ele, Francisco chamava com o doce nome de irmãos e irmãs a todas as criaturas por menores que fossem; a cooperação aberta a todos os países e a todas as culturas; o cuidado, começando por si mesmo (n.117) se expande para tudo que existe e vive especialmente da natureza e da Mãe Terra; da mesma forma, a justiça social e a compaixão são universalizadas para com todos os que sofrem na natureza e na humanidade. Todo esse mundo de excelências está presente no ser humano. Aqui reside o novo paradigma que deverá prevalecer no pós-epidemia.
Tais valores eram vividos apenas subjetivamente, nas relações curtas e na privacidade da vida. A novidade do Papa foi generalizar e universalizar o que era subjetivo e individual.
Se bem observamos, o que nos ajudou a enfrentar o Covid-19 não foram os mantras do capitalismo e do neoliberalismo. Foram a centralidade da vida em vez da busca do lucro, a interdependência de todos com todos no lugar do individualismo, a solidariedade e a cooperação entre os povos no lugar da competição, a inclusão de todos na Casa Comum e não a afirmação de um soberanismo ultrapassado pela nova fase planetária da mundialização, o cuidado de uns com os outros, com a natureza e a Mãe Terra no lugar da pilhagem desenfreada dos bens e serviços naturais, a priorização da sociedade no lugar da dominação da economia e da política pelo mercado, um Estado suficientemente apetrechado para atender as demandas da população no lugar do Estado mínimo.
Essa inversão de prioridades e de valores que está salvando a humanidade face aos ataques letais do Covid-19.
Eis a alternativa apresentada na Fratelli tutti: “um novo sonho de fraternidade e amizade social ...que se abre ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade” (n.6).
Importa entender o sonho aqui como muitos psicanalistas o interpretam, como por exemplo, C.G. Jung: ”como a antecipação de realizações futuras” ou “como a antecipação prévia, via inconsciente coletivo, de possibilidades reais.”
Fraternidade e amizade social serão os eixos estruturadores de toda a sua proposta. O Papa se dá conta do inusitado da proposta, reconhecendo: “parece uma utopia ingênua, mas não podemos renunciar a este sublime objetivo” (n.190). De onde senão na natureza humana, sempre relacionada com o todo, buscar a alternativa de um tipo de sociedade desumana e cruel para com seus próprios semelhantes no afã de acumular bens materiais. Ela esquece que o ser humano não é um animal faminto, mas um ser que possui também outra fome, por amor, por reconhecimento, por paz com a natureza, por beleza e diálogo com o Infinito.
Para entender melhor a novidade desta proposta paradigmática, seria esclarecedor se a compararmos com o paradigma subjacente ao atual sistema global e imperante já há mais de dois séculos: o dos tempos modernos.
É assente entre pensadores, filósofos, cientistas sociais e de outras áreas do pensamento que o ideal a ser perseguido e gerador dos tempos modernos, já projetado pelos pais fundadores do século XVI e XVII (Descartes, Galileu Galilei, Newton, Francis Bacon, Copérnico e outros) é o saber como poder e a vontade de poder: poder entendido como dominação do outro, das classes, dos povos, das culturas da África, da Ásia e das Américas, da natureza, das ínfimas partes da matéria, os átomos e os mais ínfimos quarks e da própria vida (código genético).
Para conferir eficácia ao saber e ao poder foi criada a tecnociência. Ela está preponderantemente a serviço do poder econômico, político e ideológico, ao mercado, e somente em seguida à vida. Na Laudato Si' o Papa a submete à rigorosa crítica (nn. 106-114). Na Fratelli tutti afirma com severidade: “a política não deve submeter-se à economia e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia” (n.177). A ciência deve ser feita com consciência e a técnica com critérios éticos em vista do bem comum e da salvaguarda da integridade da natureza e do equilíbrio da Terra.
Há uma afirmação que seguramente se dirige ao corpo dos cientistas: “Atualmente há a convicção de que, além dos progressos científicos especializados, é necessária a comunicação interdisciplinar, uma vez que a realidade é uma só, embora possa ser abordada sob distintas perspectivas e com diferentes metodologias. Não se deve ocultar o risco de um progresso científico ser considerado a única abordagem possível para se entender um aspecto da vida, da sociedade e do mundo” (n.204). Seria o fundamentalismo científico como a única forma de aceder à realidade, sabendo-se que a nova epistemologia, especialmente as reflexões de Ilya Prigogine/Isabelle Stengers, ele prêmio Nobel em química, é a articulação dos muitos saberes que, quais janelas, nos dão dimensões da realidade, desde a mais popular, dos xamãs e de outras tradições.
A figura é do ser humano como dominus, senhor e dono (maître et possesseur de Descartes) de tudo. A natureza e a própria Terra (mera res extensa) não possuem valor algum em si mesmas, apenas na medida em que se ordenam ao ser humano. Ele está acima da natureza e não se entende como parte dela ou ao pé dela. Nas palavras da Fratelli tutti: “é a pretensão de sermos senhores absolutos da própria vida e de tudo o que existe” (n.34).
O poder como dominação violenta significou historicamente uma devastação das culturas como aquelas mesoamericanas e dos povos originários, uma tentativa de homogeneização dos hábitos de pensar, de agir, de fazer política e das diversas culturas, liquidando com as suas diferenças. Tal projeto perturbador encontrou sua máxima expressão na Shoah, “símbolo dos extremos aonde pode chegar a malvadeza humana” (n.247): os seis milhões de judeus e outros condenados às câmaras de gás pelo nazismo. Pesarosamente constata, “no nosso mundo vive-se uma guerra mundial aos pedaços” (n.259).
Em contraposição a este paradigma do dominus, a Fratelli tutti apresenta o paradigma do frater, do irmão/irmã donde se deriva a fraternidade universal. Incluindo os dois gêneros, seria a irmandade universal, todos, homens e mulheres, irmãos e irmãs. Ele se sente parte da natureza, ao pé dela junto aos demais seres, com o imperativo ético de cuidar e guardar essa herança sagrada (cf. Gn 2,15). Um elo de fraternidade une todos os seres como o sustenta a Carta da Terra (UNESCO 2003) e as duas encíclicas ecológicas do Papa Francisco. Esse paradigma é aquele dos povos originários e dos andinos com seu bien vivir y convivir que se sentem profundamente em harmonia com a natureza e com todo o universo. Esse projeto, entretanto, nunca foi realizado historicamente no Ocidente. Daí a sua surpreendente novidade.
Dito numa linguagem pedestre: o paradigma do dominus, do senhor e dono é representado pelo punho cerrado para submeter, enquanto o frater é a mão aberta e estendida para a carícia essencial e para se entrelaçar com outras mãos e viver a colaboração e a ética do cuidado de uns para com os outros e de toda a natureza.
Aqui reside a grande viragem paradigmática proposta pela Fratelli tutti. Não é mera projeção sonhática. Capta as tendências de nossa época e afirma que existe “um anseio mundial de fraternidade” (n.8). Belamente sustenta que “aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura...é juntos que se constroem os sonhos. Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos e filhas desta mesma Terra...todos irmãos e irmãs” (n. 8).
É importante enfatizar esta contraposição de paradigmas. Urge fazer a transição do dominus para o frater se quisermos enfrentar com sucesso as ameaças que pesam sobre o sistema-Terra e o sistema-vida, assinaladas no primeiro e detalhado capítulo “as sombras de um mundo fechado” (nn.9-55).
Na epidemia do Covid-19 “ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto”(n.7); “a sociedade cada vez mais globalizada torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos” (n.12); pode fazer-nos sócios, “aquele que é associado para determinados interesses” (n.102), mas não próximos no sentido da parábola do bom samaritano (n.102) detalhadamente analisada pelo Papa (nn.63-86).
Seria longo identificar as ressonâncias dos valores acima referidos, coisa que fiz num estudo mais alentado.
Concentremo-nos numa questão central: como fazer a transição do paradigma do senhor e dono (dominus) para o paradigma do irmão e da irmã (frater)?
No ensaio de uma resposta, o Papa apela para o princípio esperança (Ernst Bloch) que é mais que uma virtude, pois é ela “que nos fala duma realidade que está enraizada no mais fundo do ser humano, independentemente das circunstâncias concretas e dos condicionamentos históricos em que vive...; ela nos abre aos grandes ideais” (n.55).
Como tem afirmado com frequência aos movimentos sociais: “não esperem nada de cima, pois vem sempre mais do mesmo ou ainda pior”. Mas “não façamos sozinhos, individualmente...; nós estamos chamados a convidar outros e a encontrar-nos num «nós» mais forte do que a soma de pequenas individualidades” (n.78).
Entre outros, assinalo apenas dois pontos absolutamente inéditos: “na política há lugar para o amor com ternura: aos mais pequenos, aos mais débeis, aos mais pobres; sim, são nossos irmãos e como tais temos que amá-los e assim tratá-los” (n.194). A política é mais que a busca do poder. O poder deve ser a mediação para construir o bem comum. A ternura “é o amor que se faz próximo e concreto; é um movimento que procede do coração e chega aos olhos, aos ouvidos, às mãos” (n.196).
E a política é feita não burocrática e friamente, mas com amabilidade: que é “um estado de ânimo que não é áspero, rude, duro, senão afável, suave, que sustenta e fortalece; uma pessoa que possui esta qualidade ajuda aos demais para que sua existência seja mais suportável” (n.223).
Mas voltemos ao tema: como se fará a transição? O Papa não o detalha, seguramente, por saber que muitos são os biomas, para os quais não há uma fórmula única. Deixa isso aos cidadãos e às nações decidirem. Mas avança dois pontos interessantes, um tirado da tradição social da Igreja, o princípio de subsidiariedade e o outro da moderna discussão ecológica: o valor da região ou do biorregionalismo.
Inicialmente afirma: “é possível começar por baixo e caso a caso, lutar pelo mais concreto e local, até ao último rincão da pátria e do mundo” (n.78). Mas acrescenta: “este princípio abrange a participação e a ação das comunidades, a organização de nível menor” (n.175), os movimentos que nascem de baixo: tudo que uma instância inferior puder fazer, não o faça a instância superior. Com isso, abre caminho para iniciativas a todo tipo de de pequenos grupos. É a concretização do princípio de subsidiariedade.
A outra categoria à qual dedica vários parágrafos é o cultivo da região ou do biorregionalismo, pois é “o local, que nos faz caminhar com os pés por terra” (n.142). Há que se articular sempre o local com o global para ter uma experiência integradora nesta fase nova da humanidade: “Não é possível ser saudavelmente local sem uma sincera e cordial abertura ao universal, solidarizar com os dramas dos outros povos”(146).
Esta articulação entre o local com o global permite o surgimento da comunidade mundial que não é o resultado da soma dos vários países, mas sim, a própria comunhão que existe entre eles e a mútua inclusão (n.137). Este foi o grande ideal proposto por Immanuel Kant em sua última obra “Para uma paz perpétua” na qual propõe uma “República mundial” (Weltrepublik) fundada na hospitalidade universal entre todos os habitantes da Terra e no respeito dos direitos humanos “a íris dos olhos de Deus”.
Se tudo isso realiza um sonho viável é o grande ponto de discussão daqui por diante. Mas teremos outra alternativa senão esta fundada no próprio ser do ser humano?
Entretanto, cabe reconhecer que inequivocamente nos encontramos face a uma emergência planetária. Parece que não temos outra alternativa senão consultar o que há de melhor em nossa humanidade e dela extrair um projeto comum que nos poderá garantir um horizonte de esperança.
De todos os modos, estamos diante de um homem, o Papa Francisco, que por seu exemplo e palavra se alçou à altura de um dos maiores líderes espirituais e políticos da humanidade, senão o maior de todos. Despojou-se dos títulos inerentes à sua alta função como Papa e fez-se irmão de todos para falar como irmão entre irmãos.
A exemplo de seu patrono Francisco de Assis, transformou-se também num homem universal, acolhendo a todos e se identificando com os mais vulneráveis e invisíveis de nosso mundo. Ele suscita a esperança de que podemos e devemos alimentar o sonho da fraternidade sem fronteiras e do amor universal. Move-o a fé de que “Deus criou tudo por amor e que é o apaixonado amante da vida” (Sab 11, 26), texto citado três vezes na Laudato Si'.
Espera que esse Deus vivo não permitirá que a humanidade, já entronizada no Reino da Trindade pela ressurreição e ascensão de um irmão nosso, Jesus de Nazaré, desapareça assim tão miseravelmente. Iremos ainda viver e brilhar.
Ele fez a sua parte. Compete a nós não deixar que o sonho seja apenas sonho errático, mas seja aquilo que ele significa, o “antecipador de realidades futuras e possíveis”: o começo seminal de uma nova forma de habitar juntos, como irmãos e irmãs e com a natureza, na mesma Casa Comum.
Teremos tempo e sabedoria para esse salto? O tempo é curto mas ele urge e não podemos chegar tarde, nem errar de caminho por não termos tempo de corrigi-lo. Seguramente continuarão as “sombras vastas” a que o Pontífice se refere na encíclica. Mas temos uma lâmpada na Fratelli tutti. Ela não dissipa todas as “vastas sombras”. Apenas nos ilumina o caminho a ser percorrido por todos. E isto nos basta.
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A Fiocruz, a Fratelli tutti e o Papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU