11 Dezembro 2020
No Vaticano, continua-se discutindo sobre a figura do “papa emérito”. Agora, surge uma proposta para regulamentar as faculdades de Ratzinger como papa emérito.
A reportagem é de Francesco Boezi, publicada em Il Giornale, 10-12-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Joseph Ratzinger criou a figura do pontífice emérito, mas a novidade introduzida não é compartilhada por todos na Igreja. Bento XVI esclareceu o porquê da sua escolha tempos atrás, em uma carta destinada ao cardeal Walter Brandmüller.
Ao instituir o pontificado emérito, o teólogo alemão queria evitar que se fizesse “confusão”. Porque, assim, ficaria claro que o papa é um só, e é Francisco.
Nem todos, porém, concordam. Alguns acham que alguns detalhes estilísticos causaram precisamente o caos dentro dos ambientes eclesiásticos. Outros consideram que um pontífice renunciante deve perder o direito de palavra. Não é de hoje que algumas pessoas consagradas pressionam para que a figura do pontífice emérito seja regulamentada por meio de regras precisas. Também para evitar que, no futuro, alguém possa voltar a falar de “dois papas”.
Os rumores ressurgem há alguns anos: mais ou menos todas as vezes que Bento XVI diz algo em público, algum teólogo apresenta argumentos contrariados. O ex-pontífice – também se afirmou isto – havia prometido silêncio. Na realidade, Joseph Ratzinger nunca jurou sobre nada que dissesse respeito ao silêncio. O Vaticano também discutiu sobre a reforma do pontificado emérito. Depois, não se fez mais nada.
Agora, porém, a questão voltou à tona por causa das considerações apresentadas claramente pelo cardeal George Pell, o australiano que Bergoglio havia escolhido para liderar o Secretaria para a Economia antes que um escândalo abalasse o trabalho do purpurado.
O cardeal George Pell, depois de todos os graus de julgamento, foi declarado inocente. A prisão a que foi forçado já entrou de direito para a história como um exemplo de martírio ou perseguição, segundo alguns católicos. Pell é um conservador e, do ponto de vista das alas vaticanas, um ratzingeriano. Por isso, o fato de o próprio australiano ter refletido sobre como um emérito deve se comportar pode gerar discussão, e muita.
Como repercutido pelo jornal Il Messaggero, Pell, que certamente não era um opositor do ex-papa, apresentou algumas teses sobre o assunto em um de seus livros. Para o ex-prefeito da Secretaria para a Economia, o emérito deveria se despir do branco papal, não “ensinar” e ser excluído da assembleia cardinalícia. Basicamente, um pontífice que prefere renunciar deveria ser rebaixado a cardeal sem direito a voto e não se exprimir mais.
Bento XVI, nestes sete anos e meio, se expressou, e muito. Como quando o emérito reiterou o seu firme “não” à abolição do celibato sacerdotal. Um tema delicado que foi discutido durante o Sínodo Pan-Amazônico. Muitas vezes houve a sensação de que Ratzinger tinha algo a dizer sobre a doutrina promovida por este pontificado. E essa sensação circulou apesar da narrativa sobre a “continuidade” entre o emérito e o reinante.
O tema é sensível porque Bento XVI pode não ser o último papa emérito da história. Com a sua renúncia, Ratzinger abriu um novo caminho, que permite que os sucessores de Pedro deem um passo atrás quando as coisas a enfrentar são complexas e a idade não permite reinar com a força necessária.
Ninguém até hoje pode excluir outra renúncia. Tanto que é levantada a hipótese de que até Francisco pode, mais cedo ou mais tarde, pensar na renúncia.
Alguns dias atrás, o cardeal Mario Grech – novo cardeal criado pelo ex-arcebispo de Buenos Aires – comunicou ao mundo as dificuldades de Ratzinger para falar. Dom Georg Gänswein, no entanto, que é o secretário particular do emérito, parece ter desmentido a reconstrução de Grech. Bento XVI, portanto, não teria perdido a voz.
Entre os católicos, alguns começaram a supor que aquela mensagem – “O Senhor tirou a minha palavra para me fazer apreciar o silêncio” – esconde algum significado. Pesquisas alegóricas que muitas vezes acompanha as proposições que Ratzinger pronunciou de fevereiro de 2013 até hoje. E as interpretações são outro motivo pelo qual os progressistas estão convencidos da necessidade de disposições que regulem os direitos de um ex-papa.
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Polêmica no Vaticano: “Ratzinger não deve se vestir de branco” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU