Vinho novo, odres novos. Igreja, evangelização e pandemia em debate

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02 Dezembro 2020

Os Cadernos Teologia Pública, na sua 149ª edição, apresentam a terceira parte do resultado do projeto editorial intitulado “Igreja e evangelização: provocações da pandemia”, organizado pelo Grupo de PesquisaTeologia e Pastoral” – do Programa de Pós-Graduação em Teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE.

O Grupo reúne pastoralistas, pesquisadores/as e estudantes das Instituições Católicas de ensino e formação em teologia e pastoral de Belo Horizonte: Instituto Santo Tomas de Aquino - ISTA, Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas, Centro Loyola de Espiritualidade, Fé e Cultura. O trabalho surgiu como uma possível ajuda para pensar a pastoral durante e após a pandemia.

O projeto foi articulado em torno de três eixos. Cada eixo é, por sua vez, composto de três capítulos.

1. “O fim de um mundo?”;

2. “As dores do parto”;

3. “Vinho novo, odres novos”.

 

Igreja e evangelização: provocações da pandemia. Parte III - Vinho novo, odres novos. Cadernos Teologia Pública Nº 149

 

O terceiro eixo, ao qual o/a leitor/a tem acesso neste número dos Cadernos de Teologia Pública do IHU, aponta para o futuro. O primeiro capítulo, “Fermento para uma nova cultura”, escrito por Moema Miranda (ITF/REPAM), Rosana Manzini (ITESP) e Francys Silvestrini Adão (FAJE), explora de modo criativo a metáfora do fermento, mostrando como ela pode ajudar a pensar uma nova cultura a partir do que se aprendeu nesse tempo da Covid-19.

“Se a Igreja é chamada a ser, neste mundo, um sacramento da humanidade reconciliada, podemos sonhar que, na nova Cultura emergente, a humanidade poderá realizar-se mais plenamente ao assumir sua condição de fermento neste mundo. Integrando com leveza e cuidado a comunidade da vida, a humanidade pode ser porta-voz do louvor a Deus que se expressa em toda a Criação, escutando e dando voz às sutis boas notícias dos seres silenciosos e às dores de todos os seres brutalmente silenciados”, apontam os autores.

Ademais, Miranda, Manzini e Silvestrini argumentam que é necessário “devolver a saúde pneumática ao mundo, sem temer os possíveis conflitos. Devemos reconhecer que a pandemia atual traz consigo uma poderosa metáfora. A enfermidade que este vírus provoca afeta o sistema respiratório, provocando uma espécie de asfixia. O parasita, inconsciente e inconsequente, sufoca seu hospedeiro, decretando, ao mesmo tempo, o fim de sua própria existência. Não tem sido esse o comportamento da humanidade, nos últimos séculos, em relação aos recursos de nosso planeta?”

O segundo capítulo, “Igreja doméstica e em saída digital. Horizontes novos para a vivência da fé cristã”, de autoria de Edward Guimarães (PUC Minas) e Moisés Sbardelotto (Unisinos), explora duas perspectivas promissoras para o futuro da pastoral: a da igreja nas casas e a da cultura digital.

Guimarães e Sbardelotto apontam a importância da “Igreja Doméstica” como “a vivência cotidiana da fé cristã de forma autônoma e corresponsável, no dinamismo concreto da vida dos convertidos e convertidas ao Reino de Deus”.

E afirmam que “a ‘Igreja doméstica’, como expressão da inquieta e criativa vivência da fé cristã no cotidiano da vida das pessoas, está muito presente nas origens. Primeiro, o próprio Jesus, de muitas maneiras, deixou-se fecundar pelo húmus da experiência doméstica cotidiana para expressar o dinamismo do Reino de Deus presente e atuante no meio de nós (Mt 7, 24-27; 13, 33). Ele muitas vezes utilizou o espaço da casa, o círculo familiar, para vivenciar a fé com seus discípulos e discípulas (Mc 14, 12-25)”.

O terceiro e último capítulo, “Sopradores de brasas”, uma entrevista com Dom Joaquim Mol (PUC Minas, Arquidiocese de Belo Horizonte), recolhe, à luz da metáfora do “sopro das brasas”, os ensinamentos da pandemia para a evangelização, apontando as possíveis mudanças a serem feitas, as oportunidades abertas, além de evocar as reações de pessoas e grupos que buscam um retorno ao “antigo normal”, como se nada tivessem aprendido desse tempo.

Segundo Dom Joaquim Mol, “os conservadores de todos os segmentos e dimensões da sociedade sempre estiveram por aí. O que há de novo, agora, é que eles estão se organizando em movimentos conservadores, alinhados entre si, naturalmente com maior visibilidade. O conservadorismo está associado não unicamente a uma visão conservadora da sociedade e do mundo, mas também à ideia de fechamento a novas conquistas, ao futuro da humanidade, e ao mesmo tempo preconizam o retorno ao passado, retrocessos e negação das conquistas científicas”.

Ademais, Dom Joaquim Mol aponta que o problema do “ultraconservadorismo, infelizmente, está também presente na Igreja. Não são poucas as expressões claras e amplamente divulgadas de ultraconservadorismo na Igreja. Aquele que emperra o caminhar eclesial, dificulta as reformas e os processos de conversão pastoral, opõe-se nitidamente ao papa Francisco e sua reforma fundada no Concílio Vaticano II, mas principalmente no Evangelho do Reino, anunciado por Jesus”.

Oxalá esta terceira parte também possa fecundar a pastoral da Igreja no Brasil.

Os organizadores.

 

A segunda parte de “Igreja e evangelização: provocações da pandemia. Parte III – Vinho novo, odres novos” pode ser acessada integralmente aqui.

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