27 Novembro 2020
“Todos estamos cansados do vírus, mas ele não está cansado de nós”, diz Temporão, que atribui aceleração de casos de covid-19 em São Paulo a flexibilização precipitada de atividades.
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual, 23-11-2020.
O Brasil chegou a 168.197 mortes pela Covid-19, no último domingo, e segue registrando um aumento de casos do vírus. A média móvel de mortes no país, nos últimos sete dias, foi de 484. Em São Paulo, o crescimento de mortos pela doença está em alta há três semanas.
O médico sanitarista e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, afirma que o Brasil, tecnicamente, não está numa segunda onda, pois não saiu da primeira. “Teve um pico, mas a queda foi muito lenta. A segunda onda só começa após uma brusca queda na primeira, o que nunca houve no Brasil”, explicou, durante participação do programa Brasil TVT, neste domingo (22).
Na variação de sete dias, comparação entre as mortes ocorridas em uma semana com a semana anterior, a cidade de São Paulo registrou um crescimento de 24,5% nos óbitos nesse período, segundo o Boletim Diário Covid-19, publicado pela Secretaria Municipal da Saúde. Temporão afirma que esse aumento é resultado da reabertura das atividades econômicas e a volta de eventos coletivos.
O negacionismo, falta de liderança e sabotagem por parte do próprio governo de Jair Bolsonaro, somados ao cansaço da população com a quarentena, são outros fatores que levaram o país aos quase 170 mil mortos, na avaliação do especialista. Neste domingo, a RBA noticiou que o governo federal deixará 6,8 milhões de testes para diagnóstico da covid-19 perderem a validade.
“Todos nós estamos cansados do vírus, mas ele não está cansado de nós. Grande parte da população ainda não teve contato com o vírus e estamos vendo o resultado de uma catástrofe anunciada. Houve a falta de planejamento do Ministério da Saúde que, até hoje, não apresentou um plano de combate à Covid-19. Estamos com falta de liderança nacional. O Brasil chegou a fazer 30 mil testes por dias, enquanto outros países fazem 150 mil. Temos uma medida precária sobre o grau de circulação do vírus”, criticou Temporão.
A reabertura do comércio e a flexibilização da quarentena criaram uma “normalização” do vírus. O ex-ministro da Saúde vê governos estaduais e municipais, responsáveis pelo aumento de casos da covid-19, pois promovem uma “deseducação continuada da sociedade”.
Outro ponto que resulta no relaxamento, consequentemente no aumento de casos da covid-19, é a possibilidade de uma vacina. Atualmente, são mais de 200 imunizantes em estudo, sendo que 11 estão em fase final de testes. São quatro fases que compreendem o protocolo científico de desenvolvimento dos imunizantes. Trata-se de um caminho para averiguar eficácia do produto, segurança em humanos, efeitos colaterais, porcentagem de eficácia, entre outras.
José Gomes Temporão se diz otimista com a chegada dos medicamentos até o final do primeiro trimestre de 2021, porém critica as informações divulgadas pelas farmacêuticas. “Elas têm uma preocupação maior mercadológica. Você vê que, após a divulgação dos resultados, as ações das empresas subiram na bolsa. Só vai ter validade essas notícias quando os resultados de fase três serem finalizados e publicados numa revista científica internacional, com aprovação das agências sanitárias”, disse.
No Brasil, existem acordos de parcerias com duas vacinas de covid-19. O estado de São Paulo, por meio do Instituto Butantan, participa dos testes da Coronavac, elaborada em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. Existe uma parceria para transferência de tecnologia entre os países. Atualmente já existem resultados das fases 1 e 2 que apontam para 97% de impacto positivo na produção de anticorpos. A fase 3 caminha com grande expectativa de sucesso. A qualquer momento podem sair os resultados de eficácia.
“Uma notícia boa é que o Brasil irá produzir duas vacinas que chegarão ao mercado, feito por duas entidades públicas. Além disso, o nosso país tem uma experiência enorme na vacinação em massa, um dos poucos países no mundo que vacina 10 milhões de crianças em um dia. Temos expertise que será último nesse momento”, defendeu.
Entretanto, o ex-ministro da Saúde acredita que a população em geral só será vacinada em 2022. “Como a vacina será feita em duas doses, não teremos como oferecer imunização para a população inteira. O primeiro grupo vacinado é quem participou dos testes e tomou placebo. Em seguida, os profissionais de saúde. Depois, vem os trabalhadores dos serviços essenciais, seguidos pelos idosos. Isso já vai ajudar na redução da circulação do vírus, porém a maior parte do povo não será vacinado em primeiro momento”, finalizou.
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Aumento de casos de covid-19 é reflexo de ‘sabotagem’ do governo, diz ex-ministro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU