22 Setembro 2020
A história do cristianismo é regada com o sangue de mártires, de homens e mulheres que deram suas vidas pelo Reino. A Amazônia também tem sido uma terra onde muitas pessoas deram suas vidas em defesa dos povos e da casa comum. Colecionar algumas dessas vidas é o objetivo da série "A Vida pela Amazônia", produzida pela REPAM, em coordenação com a SIGNIS ALC, que apresentou neste 21 de setembro seu sexto documentário, com original em espanhol e legendas em português, que reúne a vida de Nicolasa Nosa.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
A série, que inicialmente terá 10 documentários, começou em abril de 2017, com Dom Alejando Labaka, e desde então vem mostrando a vida do Irmão Vicente Cañas (Kiwxi), da Irmã Cleusa Rody, do Padre Ezequiel Ramin e do Padre Alcides Jiménez, viajando através da Amazônia equatoriana, brasileira e colombiana. Nesta ocasião, o documentário conta a vida de um indígena Mojenha, Nicolasa Nosa de Cuvene, uma mártir boliviana assassinada em 1887, junto com outros líderes que promoveram a rebelião Mojenha, para libertar seu povo da escravidão nos gomales dos rios Amazônicos.
Foto: enviada por Luis Miguel Modino.
A novidade deste sexto documentário é que pela primeira vez se trata de uma mulher leiga, como lembrou Carlos Ferraro, presidente de SIGNIS LAC, que vê na indígena Mojenha alguém que "faz parte da amostra do que foi o compromisso da vida e suas consequências, como a de todo lutador pela justiça em nossa América Latina". Nicolasa combina duas questões muito importantes para SIGNIS LAC, a questão dos povos indígenas e das mulheres.
Poderíamos dizer que a figura de Nicolasa "continua a animar a luta de todas as mulheres do território", algo que foi insistido por Julio Caldeira, coordenador de comunicação da REPAM, que afirmou a necessidade de que "com base no testemunho de tantas pessoas como Nicolasa, nos motivem a continuar construindo juntos este Reino de Deus". É um documento vivo, uma discussão ainda presente, que mostra a importância de mostrar a história do povo para que o processo possa ser compreendido, algo que Marcos Loayza, da Alma Films, destacou, que junto com Santiago Loayza Grisi, que vê o documentário como uma história maravilhosa, tem sido o responsável pela parte técnica.
Nesse sentido, "Nicolasa é o emblema da luta das mulheres há 140 anos, mas é também uma luta que continua hoje no território", como afirma María Eugenia Carrizo, missionária leiga em San Ignacio de Mojos desde 2012. Ela insistiu que "no território há muitas Nicolasas, que contam sua história de forma silenciosa e discreta, as mulheres estão em pé de luta e resistência". Neste sentido, "Nicolasa não é uma mulher extraordinária em termos de poder, formação ou recursos econômicos, Nicolasa é uma mulher indígena, como todas aquelas que habitam o território hoje, que têm em seus corações o desejo de cuidar dos seus", segundo Maria Eugenia, que vê que Nicolasa "é o que todas as mulheres são, mãe, lutadora, esposa, membro de um povo".
Segundo a missionária leiga, "Nicolasa fez o que tinha que fazer, ela não era uma heroína, Nicolasa defendeu seu marido, sua família, seus filhos, seus amigos". Nas comunidades mojenhas, a mulher é a primeira linha de defesa: "A mulher é a que defende e lança as bases de sua comunidade, e é ela quem transmite os valores a seu povo", diz Maria Eugenia Carrizo. Por esta razão, na figura de Nicolasa ela vê "uma homenagem a todas as mulheres que dia após dia, em todo o território amazônico, dão suas vidas por seu povo", pedindo que ela seja "um exemplo de luta, de resistência e do desejo de construir um mundo melhor".
O documentário mostra a luta das mulheres, que permaneceram invisíveis, assim como o trabalho dos jesuítas na região de Mojos. Na verdade, pode-se dizer que a luta das mulheres indígenas sempre foi fundamental, pois como nos diz o documentário, no mesmo dia em que Nicolasa morreu, muitas mulheres morreram, dando suas vidas pela mesma causa. Esta é uma figura que destaca a mulher e a mulher indígena, relacionando o que aconteceu em uma rebelião na qual toda a família estava envolvida.
Falar de Nicolasa é falar de alguém que nos abre para a história, para um contexto concreto e para povos bem identificados, de uma mulher que se recusou a delatar o que estava acontecendo. Ela, que pertencia a uma família de notáveis indígenas e participou de atividades governamentais com seu marido, estava ciente de que a exploração do povo indígena não poderia continuar, e ela morreu devido ao flagelo, embora o documentário mostre a existência de diferentes versões.
O documentário nos mostra que as pessoas construíram em torno dela todo um simbolismo da importância da mulher no povo mojenho, sendo sua coragem, um protótipo do que a mulher deve ser a partir de agora. Nicolasa, com seu martírio, nomeia a realidade das mulheres para o povo mojenho, algo que hoje permanece presente nas próprias mulheres que a veem como uma heroína.
Como Carlos Ferraro lembrou, as mulheres dos povos originários podiam ver em Nicolasa um paradigma, um exemplo na luta, ver justificada, definida, uma imagem até agora distante, que "pode servir para fortalecer todas aquelas mulheres de nossos povos originários que lutam por causas não tão distantes daquelas que Nicolasa teve que enfrentar em seu tempo", segundo o presidente de SIGNIS LAC. Ferraro espera que ela seja divulgada especialmente para as mulheres jovens, "para que elas saibam que há muitas pessoas que no passado deram e comprometeram suas vidas por causas que podem não ter sido historicamente reconhecidas, mas que suas vidas não foram em vão".
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Nicolasa Nosa, alguém que deu sua vida para defender seu povo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU