08 Setembro 2020
O Cardeal Jean-Claude Hollerich, presidente da COMECE, também acredita que o papel tradicional de liderança ocidental no mundo continuará a diminuir após a pandemia.
A reportagem é de Jean-Baptiste Ghins, publicada por La Croix International, 07-09-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“O número de pessoas que irão à igreja vai diminuir”.
Uma simples observação que diz muito.
O Cardeal Jean-Claude Hollerich, presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia – COMECE, está convencido de que a prática católica sairá como uma das grandes perdedoras no confronto pós-pandemia de coronavírus.
Em entrevista para a edição de 2 de setembro do L’Osservatore Romano, o religioso disse que prevê dias difíceis para o catolicismo nos países ocidentais.
Mas o jesuíta de 62 anos, arcebispo de Luxemburgo desde 2011, disse também acreditar que estamos diante de uma oportunidade de ouro no sentido da renovação religiosa.
As proibições dos cultos públicos, as missas on-line, o fechamento de igrejas, a suspensão das aulas de catequese e o acesso limitado aos sacramentos... Hollerich afirma que são tudo efeitos da pandemia que não deixarão a Igreja incólume.
O cardeal acrescentou que essa situação soa como uma sentença de morte para, pelo menos, a prática religiosa dos “católicos culturais”, aqueles que iam à missa por costume ou somente por hábito.
“Eles notaram que a vida é muito mais confortável, e que podem viver confortavelmente sem ir à igreja”, destacou.
Porém, aqui o cardeal não está se queixando. Segundo ele, o coronavírus veio para acelerar um processo de secularização latente, o qual a Igreja deve reconhecer com humildade.
“É uma grande oportunidade para a Igreja”, insistiu ele. “Precisamos entender os desafios do presente. Precisamos agir e pôr em marcha novas estruturas missionárias”, advertiu.
Uma mudança real poderá acontecer? Hollerich disse que sim, e falou do seu sonho de uma Igreja que seja “mais cristã, mais simples e economicamente mais pobre”.
Além da Igreja, o religioso diz acreditar que a Europa e os EUA verão sua influência diminuir no cenário internacional.
Ele prevê que, com o coronavírus agindo como um acelerador mundial, veremos o crescimento de “outros países, outras economias”.
Longe de considerar uma derrota, Hollerich manifestou a convicção de que se trata de uma oportunidade para “abandonarmos o eucocentrismo presente em nosso pensamento” e aprender a “trabalhar com humildade junto dos outros países pelo futuro da humanidade e para uma maior justiça”.
Segundo ele, a solidariedade internacional deve olhar atentamente para a África, onde a economia vem sendo afetada severamente pela pandemia.
“Se somos ricos na Europa, é porque nos beneficiamos da riqueza da África”, disse o cardeal.
De acordo com ele também, hoje, mais do que nunca, os europeus podem agir como irmãos e irmãs dos africanos, porque a doença se tornou um fato da vida cotidiana. O religioso observou que a pobreza está também aumentando no Ocidente e, quando falam dos que morrem, os europeus agora “falam de si mesmos”.
“Deus ama igualmente o povo da África e o da Europa. Deus não tem preferência pela Europa”, acrescentou Hollerich, insistindo que a “solidariedade não deve ter fronteiras”.
O cardeal declarou que a força motriz por trás desta solidariedade deve servir como um despertar da “consciência europeia”, herdeira de um espírito cristão altruísta que não necessariamente se limita aos fiéis.
Ele apontou para o apelo feito na encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente, Laudato Si’, dizendo que a ressonância deste documento, para muito além dos muros da Igreja, é um testemunho desta herança.
Mas Hollerich alertou que a ligação estreita entre o cristianismo e a Europa não deve fazer surgir um “carnaval”, que consistiria em vestir figurinos cristãos sem integrarmos a substância da mensagem evangélica.
“Querer compartilhar a sua riqueza com os mais pobres, respeitar os direitos humanos: eis os elementos distintivos do cristianismo”, enfatizou o cardeal.
Ele disse que se os cristãos quiserem encontrar vida após a pandemia, isso acontecerá “antes de mais nada através de ações”, as quais são, em si, inspiradas pela “voz de Cristo”.
O luto por um catolicismo cultural que é “sem força vital” é um passo necessário para se poder colocar a “salvação da pessoa em Jesus Cristo”.
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Cardeal prevê que “o número de pessoas que irão à igreja vai diminuir” na Europa pós-covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU