13 Agosto 2020
"Uma teologia que não habita outros lugares do saber é inevitavelmente levada a não sentir o 'sopro no pescoço' de outras instâncias de pensamento, e isso porque, já ao nível de simples espaços, não se encontra coabitando os mesmos lugares onde estão presentes outros cursos de graduação", escreve Giuseppe Guglielmi, presbítero e professor de Teologia Fundamental na Faculdade de Teologia da Itália Meridional, seção de San Luigi (Nápoles), em artigo publicado por Settimana News, 07-08-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Tomei conhecimento através de alguns artigos, por exemplo, sobre o fenômeno dos cristãos que na Alemanha abandonam a Igreja Católica ou Protestante por vários motivos, entre os quais a recusa em continuar a pagar impostos à Igreja. Com efeito, os Kirchensteuer (impostos sobre a Igreja) representam um assunto complexo, porque se, por um lado, aportam inúmeras vantagens ao sistema eclesial, pelo outro, suscitam problemas inevitáveis. Em outro artigo, tomei ciência também do projeto (novamente em âmbito alemão) de unificação do percurso dos futuros presbíteros (seminaristas) em algumas casas de formação (seminários). Aqui também, os prós e os contras se alternam.
Geralmente, após essas leituras, volto com o pensamento para a nossa casa, fazendo algumas comparações e me perguntando sobre o futuro de algumas de nossas instituições. Em especial, minhas perguntas se concentram sobre a situação da teologia na Itália. Confesso que um certo desânimo me assalta. Eu gostaria de mencionar apenas duas questões que nos últimos meses, sempre em SettimanaNews, já foram discutidos por alguns colegas teólogos.
Vou partir de uma situação efetiva: isto é, da ausência da teologia italiana nos lugares de saber universitário e, portanto, de seu único enraizamento (e entrincheiramento) no âmbito eclesiástico.
Sobre esse ponto, constato a natureza excepcional do caso italiano em comparação com muitos estados europeus. Não me refiro apenas ao mundo alemão, onde uma tradição cultural diferente sempre fez com que a teologia constituísse um dos âmbitos do saber público; mas também penso no mundo francófono, hispânico ou em alguns países do Leste Europeu. Também aqui, como em nossa casa, os efeitos da Revolução Francesa levaram à expulsão da teologia da universidade de estado (acrescentaria apenas que na Itália tal decisão não pegou despreparadas ou preocupadas as hierarquias católicas. Estas, já algum tempo olhavam com desconfiança a universidade e, portanto, haviam aberto suas próprias escolas de teologia). Ao contrário de nossa situação, porém, nesses países a teologia (entendida como um curso específico de formação) está pelo menos presente nas universidades católicas.
A nossa teologia conhece, ao contrário, como o único lugar de produção de seu saber aquele eclesiástico. Pois bem, entre as numerosas consequências tal colocação, quero apenas citar uma: a ausência de uma teologia que cultive uma dimensão "pública" (cf. o artigo em SettimanaNews de M. Nardello de 23 de junho de 2019).
A nossa teologia nasceu e se desenvolveu quase exclusivamente intra moenia, com a consequência que se dirige principalmente aos que fazem parte dos nossos recintos, em primeiro lugar os candidatos ao sacerdócio (seminaristas e religiosos), seguido de um número menor de jovens leigos que pretendem obter o título para o ensino da religião católica e um número ainda menor daqueles que pretendem aprofundar sua fé através do estudo da teologia.
Sem querer diminuir a função eclesial da teologia, e sem descurar que a qualquer lugar pertença (estado e/ou Igreja), a teologia obedece às relações de força que em todo caso a sustentam, porém me pergunto quais estímulos – em primeiro lugar, em nível de pesquisa e de métodos - possa receber uma teologia elaborada somente dentro de muros eclesiásticos. Uma teologia que não habita outros lugares do saber é inevitavelmente levada a não sentir o "sopro no pescoço" de outras instâncias de pensamento, e isso porque, já ao nível de simples espaços, não se encontra coabitando os mesmos lugares onde estão presentes outros cursos de graduação.
Isso também significa que os próprios teólogos não estão concretamente em contato com outros colegas de outras disciplinas. O confronto, portanto, permanece apenas aquele (sem dúvida imprescindível) amadurecido nos livros ou, no máximo, em algumas ocasiões de estudo.
Não sei como será possível recuperar terreno a esse respeito. Por outro lado, nem sei quantos alunos poderiam se matricular em uma faculdade de teologia, visto que as oportunidades de trabalho estão quase que exclusivamente ligadas ao ensino da religião católica nas escolas de primeiro e segundo graus.
No entanto, considerando justamente esse dado, eu me pergunto se em um novo acordo/concordata Igreja-Estado não seria positiva a instituição de cursos de graduação em "ciências religiosas e teologia" dentro dos departamentos de humanidades da universidade. Claro, poder-se-ia objetar que dessa forma a teologia feita nas faculdades eclesiásticas voltaria a ser para uso exclusivo dos seminários, mas, francamente, não acredito que a atual hibridização tenha ditado uma verdadeira virada.
Outro ponto sensível é representado pela falta de fundos, que sempre torna precário o empenho teológico. Essa situação aflige todos os professores das faculdades de teologia: leigos e sacerdotes. É bem sabido que os leigos que ensinam nas faculdades teológicas italianas constituem apenas um pequeno número. Dentre eles, apenas alguns são efetivamente contratados pelas próprias instituições acadêmicas com um salário que lhes permite viver desse trabalho; a maioria deles precisa trabalhar em duas frentes. Em muitos casos, o ensino teológico é acompanhado pelo ensino nas escolas de primeiro e segundo grau.
A situação não é animadora nem para a maior parte do corpo docente, que é constituído por sacerdotes. Geralmente são retribuídos por meio do sistema de sustentação ao clero. É uma remuneração que, no entanto, não permite aos teólogos sacerdotes dispor de uma segurança econômica que lhes possibilite empenhar-se em tempo integral, talvez com a oportunidade de viagens de estudo ou situações outras que possam favorecer uma pesquisa séria. Disso decorre um apoio motivacional nem sempre claro, com o consequente risco de que o empenho acadêmico pode simplesmente se transformar em uma oportunidade para cultivar outras aspirações e carreiras eclesiásticas.
Quanto à pesquisa, tenho a impressão de que nem sempre a produção teológica se combina com uma profunda pesquisa científica. Não gostaria de parecer pedante (e eventualmente peço desculpas antecipadamente), mas, como costumo dizer quase como brincadeira, “fazer pesquisa” não significa “fazer papel”. Produzir textos (livros, contribuições, artigos) deveria significar escrever no papel o que foi elaborado no próprio percurso de estudos amadurecido ao longo dos anos, ou seja, em torno de problemáticas sobre as quais um autor se questionou repetidamente e das quais, portanto, conhece as dificuldades e complexidades.
Não se trata de fazer esporádicas incursões em âmbitos logo abandonados para se direcionar para outro lugar, ou em qualquer caso produzir escritos muitas vezes ditados por eventos comemorativos e/ou apoiados por eventuais contribuições econômicas que se tenha conseguido obter. Caso contrário, corre-se o risco é publicar obras genéricas, com pouco sentido de erudição e de pesquisa historiográfica ou vinculadas mais simplesmente ao gênero manualístico.
Também sobre este segundo ponto não sei se será possível inverter o curso. Claro, poder-se-ia partir de um maior investimento em professores permanentes nas faculdades de teologia, com a consequente redução de professores convidados. Os primeiros constituem efetivamente a espinha dorsal de uma instituição acadêmica, enquanto no segundo caso trata-se de colaborações certamente profícuas, mas que, se estendidas excessivamente, comportam um desperdício dos já escassos recursos econômicos.
Estou ciente de que essas duas questões levantadas não são as únicas questões relativas ao futuro da teologia na Itália. Mas quis concentrar estas minhas ideias no terreno da concretude. Porém, para não dar a impressão de ter sido excessivamente redutivo, concluo esta rápida reflexão com um último (mas talvez pudesse ser o primeiro) ponto.
Seria necessário refletir, especialmente em nível eclesial, sobre o perfil do teólogo, ou seja, sobre sua vocação/profissão (não é por acaso que em alemão se usa o mesmo termo Beruf). A partir dessa discussão (e, claro, caso tomasse uma determinada orientação) se deveria depois prosseguir questionando-se se o teólogo deva continuar a se desdobrar entre os vários compromissos (cf. o artigo em SettimanaNews de M. Neri de 12 de dezembro de 2017) ou se - mesmo não abdicando de outras colaborações frutuosas para o seu próprio empenho teológico (ver, por exemplo, a colaboração no âmbito pastoral, formativo, etc.) – deva concentre os seus esforços, além do ensino, sobretudo no estudo e na investigação, ajudando assim a comunidade cristã a se deixar provocar pelas instâncias da nossa cultura, definitivamente marcada por um pluralismo que impulsiona os próprios fiéis a viver na unidade da fé, mas não na uniformidade do pensamento.
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Teologia, hoje: problemas práticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU