17 Julho 2020
"A Vida Religiosa Consagrada surgiu como uma resposta concreta a uma determinada conjuntura, ainda hoje ela com os seus diferentes carismas é convocada constantemente a lançar luzes sobre as mais diferentes situações nas quais ela e seus membros estão inseridos. Em virtude de sua importância, a Vida Religiosa Consagrada foi objeto de diferentes documentos da Igreja", escreve Fábio Pereira Feitosa, historiador especialista em Educação.
Ao recompormos a História da Igreja é impossível não fazermos menção à Vida Religiosa Consagrada, considerando a sua importância para esta instituição, bem como para todo o Povo de Deus ao longo dos séculos.
Quando nos aproximamos deste tema, percebemos a sua significativa amplidão, que se manifesta por meio de suas diferentes vertentes, desta forma, é preciso delimitá-lo conceitualmente. Assim, ao nos referirmos aqui à Vida Religiosa Consagrada, estamos fazendo menção direta ao movimento religioso que teve sua origem por volta do século IV com o surgimento dos chamados Padres do Deserto.
Tal movimento não possuía um cunho cismático com a Igreja, muito pelo contrário, estes homens e mulheres “fugiram” para os desertos afim de escaparem das “distrações” dos grandes centros urbanos da época e desta forma aprofundarem sua fé no seguimento de Jesus Obediente, Pobre e Casto.
Inicialmente, este movimento não possuía uma sistematização, todavia com o seu crescimento foi necessário organizar aqueles homens e mulheres que iam aos desertos, assim, tal sistematização desencadeou o surgimento do monarquismo ocidental e no aparecimento das mais diferentes Ordens, Congregações e Institutos Religiosos e Seculares.
A Vida Religiosa Consagrada surgiu como uma resposta concreta a uma determinada conjuntura, ainda hoje ela com os seus diferentes carismas é convocada constantemente a lançar luzes sobre as mais diferentes situações nas quais ela e seus membros estão inseridos. Em virtude de sua importância, a Vida Religiosa Consagrada foi objeto de diferentes documentos da Igreja.
A Lumem Gentium, Constituição Dogmática do Concílio Ecumênico Vaticano II, possui um capítulo destinado aos Religiosos. Em seu quarto capítulo, este importante documento da Igreja reconhece que os Conselhos Evangélicos são fundados sobre a palavra e o exemplo de Cristo e como tal são recomendados pelos Apóstolos, pelos Padres, Doutores e Pastores da Igreja, assim, tais conselhos são um dom divino que a Igreja recebeu do Senhor.
O Vaticano II não se limitou a tratar da Vida Religiosa Consagrada apenas na Lumem Gentium, considerando que este Concílio também produziu o Decreto Perfectae Caritatis sobre a conveniente renovação da Vida Religiosa. Analisando o processo de atualização deste segmento, este decreto afirma que o mesmo consiste em um retorno contínuo às fontes de toda vida cristã, bem como um retorno à inspiração fundante dos institutos e uma continua adaptação do carisma aos novos tempos nos quais estão inseridos. Assim, o processo de atualização se mantem em total consonância com a Igreja, com o carisma fundante e desta forma conseguem atuar no mais diferentes contextos e situações, tendo em vista a inculturação dos carismas.
Outro importante documento produzido pela Igreja direcionada à Vida Religiosa foi a Exortação Apostólica Vita Consecrata, escrita pelo então Papa João Paulo II. Nesta, o Papa reconhece que a Vida Consagrada, profundamente inspirada nos exemplos de Cristo é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espírito Santo.
Poderíamos elencar aqui uma grande quantidade de documentos direcionados à Vida Religiosa Consagrada, porém, os três documentos mencionados por nós anteriormente já são mais que necessários para mostrar a importância deste segmento para a Igreja e para o Povo de Deus.
Como bem sabemos, vivemos em uma sociedade plural, tal pluralidade manifesta-se também no interior da vida religiosa consagrada, considerando as diversas origens e personalidades de seus membros que inspirados pelos Espírito Santo deixaram tudo para seguir e imitar de mais perto Jesus Cristo.
Como dito anteriormente, a Vida Religiosa é constantemente chamada a lançar luzes nas mais diferentes conjunturas nas quais ela esteja inserida. Porém, seus membros como homens e mulheres limitados, são frágeis e muitas vezes de forma inconsciente acabam caindo em certos erros, tais como a projeção do eu no outro.
A Projeção é um conceito da psicologia que em linhas breves, é visto como um mecanismo de defesa responsável por deslocar nossos defeitos, nossos problemas para o outro, considerando que este são muitas vezes insuportáveis e como tal não conseguimos admitir que os possuímos e logo os deslocamos para o outro.
A projeção encontra-se ligada diretamente a não aceitação de quem se é. Tal conceito é auto prejudicial, porém, também acaba por minar as relações interpessoais, considerando que o outro passa a ser alvo das nossas frustrações e desta forma não conseguimos ver as inúmeras virtudes que o outro possui.
Este fenômeno antievangélico também atinge a Vida Religiosa Consagrada, dando àquele que se projeta no outro a impressão de uma autoperfeição, o que o impede de ver as inúmeras qualidades dos seus irmãos, principalmente de seus possíveis desafetos. Este conceito é extremamente prejudicial para a vida comunitária e fraterna, tornando nossas comunidades espaços de julgamentos e de intriga, expulsando assim destas o espírito de amor e de fraternidade tão sonhada e desejada por nossos fundadores, além de eliminar por completo a empatia e a solidariedade evangélica do seio de nossas comunidades.
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A Projeção nas relações interpessoais na Vida Religiosa Consagrada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU