10 Julho 2020
A crise na saúde impactou diretamente a presença dos fiéis às missas e a vitalidade das paróquias.
A reportagem é de Florence Pagneux, publicada por La Croix International, 09-07-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A Diocese de Nantes, na região oeste da França, reabriu suas igrejas, mas de uma paróquia para outra os padres notaram que nem todo o povo voltou à missa de domingo.
“Desde o final do confinamento social, tivemos a presença da metade dos fiéis”, diz Patrice Eon, pároco de Châteaubriant, comunidade situada na zona rural, com uma população bastante idosa.
“Os idosos, que assistem a missa via televisão, não voltarão porque não têm mais como se locomover. Outros sentem que ainda estão confinados e temem o vírus”, observa ele.
Também há quem se recuse a voltar até que o governo relaxe os protocolos de saúde, como o uso de máscaras e a manutenção do distanciamento social. “Para eles, esse aspecto de uma comunidade truncada é contrário ao espírito da Eucaristia”, explica o padre.
Segundo o Pe. Eon, a paróquia está precisando lidar com a ausência contínua de alguns que trabalham regularmente para a comunidade, como dois ou três sacristãos, voluntários de associações de caridade e outros.
Mas o padre está feliz por ver de volta às missas muitos dos voluntários que trabalharam distribuindo cestas básicas no período de quarentena. “Para eles, é se como as férias tivesse acabado. Esta situação proporcionou a oportunidade de um engajamento e as pessoas deram continuidade às ações”, diz ele.
Essa situação não difere muito de Nantes, que conta com quase um milhão de pessoas na região metropolitana. “Ainda não voltamos aos números que tínhamos antes de meados de março”, observa Édouard Roblot, capelão universitário e padre da Paróquia de Notre-Dame de Nantes, no centro da cidade.
“Para muitos dos fiéis, a missa é um momento agradável, com belos hinos, momentos de silêncio e recolhimento que os confortam em sua fé. Mas, tão logo acrescentamos restrições como a máscara facial, daí ela deixa de ser tão atraente”, confessa o padre.
E isso o leva a refletir sobre a profundidade da fé das pessoas.
“A Eucaristia, certamente. Mas quanto à caridade e à solidariedade para com os mais necessitados? As nossas belas liturgias de domingo tendiam a ocultar uma situação que já se fazia presente antes deste confinamento: a de que temos inúmeras abordagens à fé”, diz ele.
No momento, como capelão universitário o Pe. Roblot não tem muito o que fazer, uma vez que as instituições de ensino superior continuam fechadas.
“Os jovens não voltaram e será uma questão de como recomeçar em setembro”, diz ele.
Há dúvidas semelhantes sobre as atividades da igreja para crianças.
Na Paróquia de Sainte-Marie de Doulon, também no centro de Nantes, a catequista Catherine Deterre conseguiu organizar três sessões em junho, antes do recesso. Mas os grupos foram muito menores que o normal.
“Foi muito legal porque as crianças realmente queriam voltar. Mas quanto ao início do novo ano letivo, não está claro vamos fazer”, diz ela.
Alguns paroquianos estão preocupados com os aspectos práticos da volta de algumas das atividades, pois muitas delas dependem de idosos que prestam seus serviços.
“Estamos particularmente preocupados com quem poderemos contar para o início do ano letivo, para o ensino do catecismo”, diz Françoise Coquereau, responsável pelo serviço catequético diocesano. “Essa questão é especialmente verdade, já que as nossas equipes terão que trabalhar duas vezes mais, com todas as cerimônias adiadas para o outono”, ressalta.
Este período de incerteza é também um período de invenção de novas práticas resultantes do confinamento social. O Pe. Jérôme Hamon, pároco de Saint-Gabriel-sur-Maine, no sul de Nantes, planeja continuar usando vídeos. Ele diz que a ideia é “alcançar um público mais jovem” e manter vivas as iniciativas de solidariedade entre os vizinhos.
Na Paróquia de Saint-Sébastien, o Pe. René Pennetier sugere avaliar a realização de momentos de oração no lado de fora da missa dominical, como a oração em família. O religioso continua publicando artigos com forma de ajudar nas reflexões intergeracionais sobre a vida cotidiana. O padre diz que a crise do coronavírus revelou a importância de fazer isso.
Na comunidade de Châteaubriant, o Pe. Eon pretende continuar prestando visitas domiciliares. Ele diz que o confinamento imposto pelas autoridades civis o convenceu da “importância da proximidade e das conexões físicas”.
Recentemente, a diocese enviou um questionário a todos os católicos relativo à experiência deles com a covid-19. Ela já recebeu várias centenas de respostas individuais e grupais.
Nantes está sem bispo desde novembro passado.
Mas, tão logo o novo bispo chegar, ele receberá uma síntese das respostas ao questionário, as quais o ajudarão a decidir as prioridades pastorais.
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A volta difícil à Igreja após a quarentena domiciliar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU