04 Julho 2020
"Tudo indica que a pandemia vai continuar impactando o Brasil e o mundo no segundo semestre de 2020. O número de casos e de óbitos deve crescer entre 2 e 3 vezes nos próximos 6 meses. Por conta de tudo isto, no dia 29 de junho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, alertou para o fato de que 'O pior ainda está por vir'. O mundo vive uma situação desafiadora", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 26-06-2020.
“É melhor ser infeliz, mas estar inteirado disso, do que ser feliz e viver como um idiota” - Fiódor Dostoiévski (1821-1881)
A pandemia do novo coronavírus teve como epicentro inicial a China nos meses de janeiro e fevereiro. Mas a partir de meados de março a Europa e os Estados Unidos (EUA) passaram a concentrar a maior parte dos novos casos provocados pela covid-19. Em meados de abril, cerca de 90% dos casos diários aconteciam na Europa e nos EUA, mas ambas regiões foram perdendo participação percentual nos meses seguintes e houve um crescimento da América Latina.
O gráfico abaixo, da BBC, mostra que a Ásia teve um pico em fevereiro, mas com o controle da pandemia na China houve uma diminuição no número de casos, mas a partir de abril a pandemia voltou a crescer na Ásia devido ao aumento do número de casos, principalmente, na Índia, Paquistão e Bangladesh. Na Europa o pico foi em abril e nos meses seguintes o número de casos diminuiu. A Oceania nem aparece no gráfico por conta do pequeno número de casos.
Na América do Norte (principalmente EUA) houve um pico em abril, uma queda subsequente e depois uma nova subida em junho. A tendência atual é de subida. A África e o Oriente Médio também apresentam tendência de aumento e não atravessaram o pico da curva epidemiológica. Mas o grande destaque é a América Latina que apresenta cerca de 60 mil novos casos diários, na frente de todos os outros continentes.
Comparação do número de casos da covid-19 por continente. (Fonte: ECDC)
O gráfico abaixo, da BBC, com dados da Johns Hopkins University, mostra a distribuição do número de casos no mundo, sendo que os continentes americano e europeu são os destaques. Na América Latina os quatro países mais afetados são Brasil, México, Peru e Chile.
Distribuição do número de pessoas infectadas pela covid-19 no mundo. (Fonte: Johns Hopkins University)
O gráfico abaixo, também da BBC, mostra a distribuição do número de mortes no mundo, sendo que os continentes americano e europeu são os destaques, com os EUA na liderança. Na América Latina os quatro países mais afetados são Brasil, México, Peru, Chile e Equador.
Distribuição do número de mortes pela covid-19 no mundo: óbitos. (Fonte: Johns Hopkins University)
A tabela abaixo mostra que dos 12 países com maior número de casos do mundo, quatro são da América Latina: Brasil, Peru, Chile e México. Mas os países com maior coeficiente de mortalidade do número acumulado de mortes são o Reino Unido com 644 mortes por milhão de habitantes, a Espanha com 606 mortes por milhão, a Itália com 575 mortes por milhão e os EUA com 393 mortes por milhão de habitantes.
Porém, os países da América Latina estão apresentando um maior ritmo de mortes diárias e já possuem coeficientes de mortalidade elevados, como o Chile com 298 mortes por milhão de habitantes, o Peru com 294 mortes por milhão, o Brasil com 281 mortes por milhão e o México com 210 mortes por milhão.
A Índia e o Paquistão estão tendo um ritmo elevado de mortes, mas possuem coeficientes de mortalidade baixos, sendo 13 mortes por milhão na Índia e 19 mortes por milhão no Paquistão. Na Rússia o coeficiente é de 64 mortes por milhão de habitantes.
Covid-19 - os 12 países com maior número de casos. (Fonte: Worldometer)
A pandemia do novo coronavírus se transformou numa emergência sanitária que causa danos na saúde de todo o mundo e paralisou a economia global. A comunidade internacional está passando pela maior crise econômica da história do capitalismo.
No mundo, o primeiro semestre de 2020 terminou com a curva de casos em ascensão e a curva de óbitos em desaceleração. Até 31 de março havia 858 mil pessoas infectadas e 42,3 mil óbitos no mundo. No mês de abril houve um aumento de 2,4 milhões de casos e de 192 mil óbitos. No mês de maio o aumento de novos casos foi de 2,9 milhões e o número de novos óbitos caiu para 141 mil. No mês de junho o número de casos aumentou em ritmo mais acelerado e foi de 4,3 milhões de novos infectados, mas o número de novas mortes continuou diminuindo, apesar de acrescentar 138 mil vítimas fatais (sendo que na segunda quinzena de junho o número de mortes foi maior do que na primeira quinzena).
No Brasil a pandemia segue avançando, mas de maneira diferenciada no território nacional. No acumulado do semestre, a região Norte é a mais impactada com um coeficiente de incidência de 14.054 casos por milhão de habitantes e um coeficiente de mortalidade de 510 mortes por milhão de habitantes. A segunda região com maior número de casos proporcionais é o Sudeste com 27.456 casos por milhão, mas a região Nordeste é a segunda em mortalidade, com 337 óbitos por milhão. A região Sul é a menos impactada, seguida do Centro-Oeste. As Unidades da Federação (UFs) com menores impactos são Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Os maiores coeficientes de mortalidade estão no Amazonas e no Ceará.
População e coeficientes de incidência e de mortalidade da covid-19. (Fonte: IBGE e Ministério da Saúde)
Tudo indica que a pandemia vai continuar impactando o Brasil e o mundo no segundo semestre de 2020. O número de casos e de óbitos deve crescer entre 2 e 3 vezes nos próximos 6 meses. Por conta de tudo isto, no dia 29 de junho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, alertou para o fato de que “O pior ainda está por vir”. O mundo vive uma situação desafiadora.
Referência:
BBC News. Coronavirus pandemic: Tracking the global outbreak, 01/07/2020.
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A covid-19 no primeiro semestre de 2020 e o Brasil e a América Latina como epicentros. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU