03 Julho 2020
"Precisamos estar cientes de que as mudanças culturais são muito rápidas e muitas vezes fluidas as identidades, e tudo isso deve ser respeitado e reconhecido. Não podemos estar ancorados no passado. Mas também não são necessárias as superestruturas ideológicas. Devemos estar abertos com as nossas mentes e procurar os caminhos mais adequados. Lutar pelos direitos é um grande desafio e também é muito complexo", escreve Linda Laura Sabbadini, diretora central do Istat, em artigo publicado por La Repubblica, 02-07-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há vários anos tenta-se aprovar uma lei contra a homofobia e a transfobia. A Istat confirmou em 2011 a existência de uma situação de discriminação mais grave para as pessoas transexuais devido a uma orientação sexual. Portanto, é absolutamente desejável que a questão seja tratada de maneira decisiva também do ponto de vista normativo. A homotransfobia deve ser eliminada, todos os cidadãos devem ser livres para viver sua sexualidade como acreditam, como sentem, exceto no caso de cometer crimes como violência sexual, física, psicológica e pedófila.
Por um motivo ou outro, a lei sempre foi bloqueada e agora é preciso fazer uma virada. No entanto, uma pergunta cria muitos problemas, especialmente entre as mulheres: devemos chamar de sexo ou gênero? Não é uma questão menor e, de fato, a discussão é muito animada, não apenas na Itália, mas também em outros países avançados.
O termo sexo, de fato, refere-se às características biológicas e genéticas com as quais se nasce. Mas quando se fala de gênero, identifica-se algo que os movimentos de mulheres sempre combateram, ou seja, aquela gaiola de estereótipos em base aos quais os privilégios masculinos são construídos. O debate é muito acalorado, a ponto que o grupo "Se non ora quando" lançou uma carta-apelo aos signatários e signatárias do projeto de lei para eliminar a referência à identidade de gênero.
As pessoas transgênero, no entanto, quando falam sobre gênero, se referem a uma experiência como a sentem, pessoalmente, independentemente do sexo do nascimento. Mas muitas mulheres consideram que essa definição coloca em risco seus direitos conquistados com muito esforço.
No Reino Unido, acaba de ser rejeitada uma norma que prevê a livre autoatribuição de gênero.
Nos EUA, a preocupação das mulheres está ligada à possibilidade de os homens abusarem dessas normas, por exemplo, apoderando-se das cotas reservadas para o sexo feminino, que foram arduamente conquistadas.
Na Espanha, houve uma discussão semelhante no PSOE. E é absolutamente compreensível, porque estamos falando da metade da humanidade que tenta se libertar das correntes dos estereótipos e da prepotência masculina.
Vivemos, por outro lado, em uma sociedade complexa, onde emergem estilos de vida variegados, um mundo global no qual as identidades são multiformes e até fluidas. A identidade é uma construção social em devir, as vidas não são mais prescritas de maneira rígida. Uma sociedade democrática precisa se confrontar com isso, deve saber dar respostas, identificar vias de saída e, acima de tudo, garantir direitos. A todos, ninguém excluído, mesmo que os comportamentos não agradem. Assim como os garantimos àqueles que pensam diferente de nós, professam uma religião diferente ou têm outra cor de pele.
A Constituição proíbe a discriminação. Legislamos para tornar a realidade mais próxima dos ditames constitucionais. Então, coloco uma pergunta: por que usar termos que podem causar divisão como identidade de gênero e causam preocupação em muitas mulheres que também são contra qualquer discriminação? Não é hora de se dividir. Aliás, é hora de estarmos unidos nessa batalha dos direitos. Precisamos estar cientes de que as mudanças culturais são muito rápidas e muitas vezes fluidas as identidades, e tudo isso deve ser respeitado e reconhecido. Não podemos estar ancorados no passado.
Mas também não são necessárias as superestruturas ideológicas. Devemos estar abertos com as nossas mentes e procurar os caminhos mais adequados. Lutar pelos direitos é um grande desafio e também é muito complexo. Ora, muitas mulheres temem afirmações em detrimento de seus direitos. E como certamente não é essa a intenção de quem apresentou lei, vamos encontrar a solução no interesse de todos. Vamos encontrar a síntese. Vamos respeitar os diferentes pontos de vista. Isso pode ser feito respeitando as exigências de todos.
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A última batalha feminista - Instituto Humanitas Unisinos - IHU