27 Junho 2020
O texto do novo “Diretório para a Catequese”, aprovado pelo papa no dia 23 de março, foi apresentado pelo presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Fisichella, e pelo secretário, Ruiz Arenas.
A reportagem é de HuffPost.it, 25-06-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mais conectada, atenta aos migrantes, evitando abusos. Essas são as regras para a Catequese 2.0. Sobretudo, a atenção à linguagem digital e à cultura da globalização estão no centro do “Diretório para a Catequese”, um volume de mais de 320 páginas que segue os anteriores análogos de 1971 e 1997, aprovado pelo papa no dia 23 de março e apresentado nessa sexta-feira, 26, no Vaticano.
Entre as “novas problemáticas que a Igreja é chamada a viver” na missão evangelizadora e que levaram o Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização a elaborar o novo “Diretório”, destacam-se “particularmente duas”: “A primeira é o fenômeno da cultura digital que traz consigo a segunda conotação, a globalização da cultura”.
“Tanto uma quanto a outra – afirma-se na apresentação, a respeito da cultura digital e da globalização – estão tão interconectadas que se determinam reciprocamente e produzem fenômenos que evidenciam uma transformação radical na existência das pessoas. A exigência de uma formação que esteja atenta a cada pessoa parece muitas vezes obscurecida diante dos modelos globais que se impõem. A tentação de se adequar a formas de homologação internacional é um risco que não deve ser subestimado, sobretudo no contexto da formação para a vida de fé.”
“A catequese permanece inserida na sólida tradição que tem caracterizado a história do cristianismo desde as suas origens”, explica o presidente do Pontifício Conselho, Dom Rino Fisichella, e o secretário, Dom José Octavio Ruiz Arenas. “Ela permanece como uma particular atividade formativa da Igreja, que, no respeito das diversas faixas etárias dos fiéis, se esforça para tornar sempre atual o Evangelho de Jesus Cristo, para que seja o sustento para um testemunho coerente.”
O novo “Diretório para a Catequese” está “em uma dinâmica de continuidade” com os dois que o antecederam, o “Diretório Catequístico Geral”, aprovado por Paulo VI no dia 18 de março de 1971, e o “Diretório Geral para a Catequese”, aprovado por João Paulo II no dia 15 de agosto de 1997.
O documento, que assume muitas das indicações dadas pelo Papa Francisco à Igreja na sua Evangelii gaudium, “representa mais uma etapa na renovação dinâmica que a catequese está realizando”. Por outro lado, “os estudos catequéticos e o esforço constante de tantas Conferências Episcopais permitiram alcançar objetivos altamente significativos para a vida da Igreja e o amadurecimento dos fiéis, que requerem uma nova sistematização”.
“Os Bispos, que são os primeiros destinatários deste documento, em união com as Conferências Episcopais, as Comissões para a catequese e os numerosos catequistas, terão a possibilidade de verificar a elaboração sistemática que se quis compor de modo a tornar mais evidente a finalidade da catequese, que é o encontro vivo com o Senhor, que transforma a vida”, explica-se. “O processo da catequese – afirma-se – foi descrito com insistência no tecido existencial que envolve as várias categorias de pessoas no seu ambiente vital.” Deu-se ainda um amplo espaço ao tema da “formação dos catequistas, porque parece urgente que se recupere o seu ministério na comunidade cristã”.
O texto – um verdadeiro manual enciclopédico, repleto de sugestões, fontes, referência aos documentos magisteriais – não tem “qualquer pretensão de estar completo, porque, por sua natureza, se destina às Igrejas particulares, de modo que estas sejam estimuladas e auxiliadas na redação do seu próprio Diretório”.
Além de reconhecer “o papel fundamental dos batizados”, uma vez que “todos os fiéis são sujeitos ativos da proposta catequética, não receptores passivos ou destinatários de um serviço; por essa razão, são chamados a se tornar autênticos discípulos missionários”, a referência também é ao “compromisso e responsabilidade para identificar as novas linguagens com as quais comunicar a fé”. E, em suma, ao “eixo” bergogliano da “transformação missionária” da Igreja, que motiva a sua “conversão pastoral”.
Portanto, em vista da nova evangelização, a Igreja “é chamada a se realizar ‘em saída’” e “se coloca em um estado permanente de missão”. “Esse impulso missionário – afirma o número 40 – leva também a uma verdadeira reforma das estruturas e das dinâmicas eclesiais, de modo que todas elas se tornem mais missionárias” e, “como ‘discípulo missionário’, cada batizado é um sujeito ativo dessa missão eclesial”.
Uma das novidades da “metodologia da catequese” que se destacam no novo diretório publicado pela Santa Sé é a referente às “linguagens e os instrumentos digitais”. “No espaço ‘virtual’, que muitos consideram não menos importante do que o mundo real, as pessoas adquirem notícias e informações, desenvolvem e exprimem opiniões, comprometem-se em debates, dialogam e procuram respostas para as suas perguntas”, afirma o número 213. “Não avaliar esses fenômenos de forma adequada leva ao risco de parecerem insignificantes para muitas pessoas.”
Na Igreja, “muitas vezes, é habitual uma comunicação unidirecional: prega-se, ensina-se e apresentam-se sínteses dogmáticas. Além disso, só com o texto escrito é difícil falar aos mais jovens, habituados a uma linguagem que consiste na convergência da palavra escrita, som e imagens”.
“As formas da comunicação digital – explica o ponto 214 – oferecem, pelo contrário, maiores possibilidades, na medida em que estão abertas à interação. Por isso, além do conhecimento tecnológico, é necessário aprender
modalidades comunicativas eficazes, além de garantir uma presença na rede que dê testemunho dos valores evangélicos.”
É assim que “as tecnologias de informação e de comunicação, as redes sociais e os dispositivos digitais favorecem os esforços de colaboração e de trabalho em comum, o intercâmbio de experiências e de conhecimento mútuo” (n. 215).
Portanto, é bom que “as comunidades se comprometam não apenas a enfrentar esse novo desafio cultural, mas também a corresponder às novas gerações com os instrumentos que já são de uso comum na didática” (n. 216).
Também é prioritário para a catequese “educar para o bom uso desses instrumentos e para uma compreensão mais profunda da cultura digital, ajudando a discernir os aspetos positivos dos aspetos ambíguos. Hoje em dia, o catequista deve estar consciente de como o mundo virtual pode deixar marcas profundas, especialmente nas pessoas mais jovens ou mais frágeis, e de quanta influência pode ter na gestão das emoções ou no processo de construção da identidade”.
Entre as muitas perspectivas abordadas pelo documento do Dicastério para a Nova Evangelização, também está a “Catequese com os migrantes”. Sempre que possível, “a oferta de uma catequese que leve em conta os modos de compreender e praticar a fé típicos dos países de origem constitui um precioso apoio para a vida cristã dos migrantes, sobretudo para a primeira geração” (n. 275).
“Reveste-se de grande importância – afirma-se – o uso da língua materna porque é a primeira forma de expressão da identidade de cada um.” A Igreja tem “uma pastoral específica para os migrantes, que leve em conta a sua tipicidade cultural e religiosa. Seria injusto acrescentar aos vários desenraizamentos que eles já viveram também a perda dos seus ritos e da sua identidade religiosa”.
Além disso, “os migrantes cristãos, vivendo a sua fé, tornam-se anunciadores do Evangelho nos países de acolhimento, enriquecendo deste modo o tesouro espiritual da Igreja local e reforçando a sua missão com a sua tradição cultural e religiosa”.
Além disso, é preciso cuidar para evitar qualquer tipo de abuso. Os catequistas, afirma o texto, são ajudados “a identificar a modalidade correta para viver a sua autoridade unicamente como serviço dos irmãos” (n. 142). “O catequista, por causa do seu serviço, desempenha um papel para com as pessoas que acompanha na fé e é visto por essas mesmas pessoas como uma pessoa de referência, que exerce uma certa forma de autoridade.” Por isso, faz-se necessário que esse papel “seja vivido com o mais absoluto respeito pela consciência e pela pessoa do outro, de modo a evitar qualquer gênero de abuso, seja ele de poder, de consciência, econômico ou sexual”.
Ao reafirmar o compromisso “a favor do amadurecimento humano e cristão dos catequistas, a Igreja chama a atenção para a responsabilidade de vigiar com determinação para que, na realização da sua missão, seja garantida a todas as pessoas, especialmente aos menores e às pessoas vulneráveis, a proteção absoluta de toda a forma de abuso” (n. 141). Em seus caminhos formativos e através de “um diálogo honesto com o seu diretor espiritual, os catequistas devem ser ajudados a identificar a modalidade correta para viver a sua autoridade unicamente como serviço dos irmãos” (n. 142). Além disso, “para não trair a confiança das pessoas que lhes são confiadas, devem saber distinguir entre foro externo e foro interno e aprendam a ter grande respeito pela liberdade sagrada do outro, sem a violar nem manipular de modo algum”.
"Honesto com seu guia espiritual, são ajudados a identificar a maneira correta de viver sua própria autoridade apenas como um serviço aos irmãos". Além disso, "para não trair a confiança das pessoas a eles confiadas, eles devem ser capazes de distinguir entre o fórum externo e o fórum interno e aprender a ter grande respeito pela liberdade sagrada do outro, sem violá-la ou manipulá-la de qualquer forma".
Nota do IHU: Uma tradução de trabalho, não finalizada, do novo “Diretório para a Catequese” em português está disponível aqui.
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Mais conectada, atenta aos migrantes, evitando abusos: as regras para a Catequese 2.0 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU