11 Fevereiro 2020
A Igreja da Amazônia vive um tempo de espera e esperança. Os novos caminhos sinodais colocam a Igreja da região numa atitude de expectativa diante das provocações que o Papa Francisco deve formular em “Querida Amazônia”, a exortação pós-sinodal que será apresentada à Igreja e ao mundo amanhã, 12 de fevereiro.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Essa atitude também está presente nos novos missionários chegados na Amazônia nos últimos meses. Eles estão se preparando para sua nova missão, participando do Curso de Realidade Amazônica, que desde há mais de 20 anos acontece em diferentes locais da região. Em Manaus, 34 missionários e missionárias participam do curso organizado pelo Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Superior da Amazônia – ITEPES. Eles procedem da República Democrática do Congo, Moçambique, Tanzânia, Romênia, Itália, Chile, Argentina, Quênia e diferentes estados do Brasil.
De 5 a 20 de fevereiro, padres, religiosas e religiosos, leigas e leigos estão realizando um curso onde, partindo da realidade política, econômica e socioambiental, são abordadas diferentes temáticas em relação com a antropologia, as diferentes tradições religiosas, a espiritualidade, a leitura bíblica na Amazônia, os ministérios, a prática pastoral. Também aparece a reflexão sobre fenômenos presentes na região como é a migração e o tráfico de pessoas.
Na atual conjuntura eclesial, o Sínodo para a Amazônia está sendo elemento presente ao longo dos diferentes debates. Segundo o padre Ricardo Castro, diretor do ITEPES, “o Sínodo, desde a preparação, fez um grande levantamento das realidades, das experiências, e também da reflexão que está sendo feita já bastante tempo no contexto amazônico, tanto no nível das ciências, como no nível também de Igreja, de teologia”. Ele destaca o Documento Final como texto que “passou a ser, nesse período de transição, um pouco a base para a gente pensar e preparar os missionários para se inserir na realidade amazônica”.
No curso estão aparecendo, segundo o diretor do ITEPES, “aquilo que foi trabalhado ao longo da preparação do Sínodo e no contexto do Sínodo”. Nesse sentido, a segunda semana do curso, “ela vai ser muito mais voltada para essa questão dos elementos sinodais, levando em conta também que nós já vamos ter aí a exortação”. Ele considera o Sínodo para a Amazônia como “um grande recipiente de elementos para trabalhar dentro do contexto do curso de preparação”.
Entre os participantes do curso está o padre Oscar Liofo, missionário da Consolata, nascido na República Democrática do Congo, e que há três meses trabalha na Raposa Serra do Sol, reserva indígena do povo Macuxi, no estado de Roraima. Segundo ele, “chegar na Amazônia e trabalhar com os povos da Amazônia, para mim é um grande processo de conversão”. Essa atitude nasce do fato de “muita gente no mundo, não tem uma informação concreta da realidade da Amazônia”, segundo o religioso da Consolata. “Aquilo que passa na mídia, às vezes é muito diferente daquilo que se vive”, afirma o padre Oscar. Segundo ele, “estando aqui nesta terra sagrada da Amazônia, eu percebo que estou fazendo esse processo mesmo de conversão, porque as informações que eu tinha recebido ao longo da formação, ao longo do tempo, é um pouquinho diferente daquilo que estou vivendo atualmente aqui na Amazônia”.
Padre Oscar Liofo. (Foto: Luis Miguel Modino)
Nascida na Amazônia, na cidade de Santarém, Pará, Elisandra Oliveira é formanda da Congregação das Adoradoras do Sangue de Cristo. Ela destaca “a grandiosidade das discussões do Sínodo, a discussão das mulheres, dos indígenas, dos afrodescendentes, dos ribeirinhos”. Se referindo aos participantes do curso, ela afirma que “a nossa expectativa é que realmente isso se aplique nas comunidades onde nós trabalhamos”. Por isso, “a expectativa desse curso é imensa, poder trabalhar, poder difundir ainda mais essa ideia, poder elaborar ainda mais essa conceição”, segundo a jovem.
Elisandra Oliveira. (Foto: Luis Miguel Modino)
Ela diz acreditar “que isso implica em um conhecimento sem precedentes nas nossas comunidades aonde nós trabalhamos”, destacando que o trabalho direto com o povo indígena, com os ribeirinhos, “aumenta essa nossa visão de como eles são”. Elisandra insiste na importância, “da gente não perder essa essência deles, a gente trabalhar junto, vendo que esses povos originários já estão aqui há muito tempo”. Ela, que é ribeirinha, destaca “essa troca de ideias, essa troca de vivências”.
Entre os participantes do curso tem quem chegou na Amazônia a pedido da sua congregação. É o que aconteceu com o jesuíta Claudio Barriga Domíngues, chileno, que está trabalhando em Roraima desde há seis meses atrás. Ele pediu ser enviado para um serviço onde houvesse mais necessidade, “e o provincial decidiu me enviar aqui”, que é onde “na América Latina, vê-se que há maior urgência e necessidade de acompanhamento”.
Claudio Barriga Domíngues. (Foto: Luis Miguel Modino)
Aos 60 anos de idade, estar na Amazônia “é um grande desafio, um desafio cultural e de aprendizado para mim”. Ao mesmo tempo, o jesuíta reconhece que “é também uma presença muito boa e bonita, de uma Igreja que quer estar próxima dos indígenas, de situações de maior vulnerabilidade e maior necessidade”. Ao falar sobre a exortação pós-sinodal, ele espera “que isso nos ajude a melhorar nosso trabalho de evangelização”. Ele diz sustentar “que não é apenas a promoção humana. É muito bom promover os direitos, mas também anunciando Jesus Cristo”. Por isso, ele diz acreditar “que a exortação nos ajudará a fortalecer o papel específico da Igreja em um mundo que precisa ouvir a Boa Nova de Jesus Cristo”.
Yesenia Blanco. (Foto: Luis Miguel Modino)
No grupo também tem missionários leigos. Yesenia Blanco, nasceu em El Salvador, e ela faz parte da Sociedade de Missões Estrangeiras de Quebec. Desde há nove meses, ela é missionária junto com seu esposo em Manaus. Nesse tempo tem descoberto que “trabalhar na Amazônia agora é um desafio”. Segundo ela, no contexto da nova etapa que se apresenta com a publicação da exortação pós-sinodal, “me vem à mente como será a preparação de toda a Igreja amazônica para trabalhar em conjunto, e como eles treinarão essas pessoas para implementar esses novos resultados que foram dados pelo Sínodo”. Junto com seu esposo, ela diz estar “muito atentos e com uma grande abertura realmente para poder acolher esses novos desafios que nos chegam, também a nós, como estrangeiros nesta terra da Amazônia”.
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Curso de realidade amazônica: formar quem chega para trilhar os novos caminhos sinodais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU