31 Janeiro 2020
"Em 1917, Mendes pretende contar uma página da história recente, precisamente o conflito mundial, tema repetidamente proposto na história do cinema, usando uma história 'pequena', mas com um forte impacto visual, com movimentos envolventes e até imersivos da câmera, tecendo em geral um relato atemporal de forte atualidade", escrevem Massimo Giraldi e Sergio Perugini, em comentário publicado por Settimana News, 25-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ele se impôs quase em surdina na cerimônia do Globo de Ouro, no início de janeiro de 2020, vencendo o prêmio na categoria de drama e a direção, enquanto hoje é um dos títulos mais fortes na disputa pelo Oscar (domingo, 9 de fevereiro), com 10 indicações, apenas um passo atrás do Coringa de Todd Phillips. Estamos falando de “1917” do diretor Sam Mendes, uma história evocativa da Grande Guerra vivida por dois jovens soldados britânicos nas trincheiras da França.
Uma prova imensa para Mendes, diretor nascido em 1965 e originário de Reading, na Inglaterra, vencedor de um Oscar de melhor diretor em 2000 com "America Beauty" (o filme obteve 5 estatuetas no total); ao longo dos anos, Mendes acumulou quase dez títulos na sua produção - incluindo "Estrada para a perdição", "Foi apenas um sonho", "Distante nós vamos", "Skyfall" e "Spectre" – um perfil de autor sólido, elegante e eclético, com muitos seguidores entre o público e os críticos.
Em "1917", Mendes pretende contar uma página da história recente, precisamente o conflito mundial, tema repetidamente proposto na história do cinema – por exemplo, na comédia dramática de Mario Monicelli "A Grande Guerra" de 1959 com Alberto Sordi e Vittorio Gassman -, usando uma história "pequena", mas com um forte impacto visual, com movimentos envolventes e até imersivos da câmera, tecendo em geral um relato atemporal de forte atualidade.
É uma história de ficção. Assim esclarece imediatamente nas notas de direção Sam Mendes, acrescentando, porém: "Na qual situações e detalhes se reportam às histórias verdadeiras que meu avô, Alfred H. Mendes, viveu pessoalmente ou ouviu de seus companheiros".
A história: França, 1917, a Primeira Guerra Mundial está a todo vapor; os soldados do exército britânico William Schofield (George MacKay) e Tom Blake (Dean-Charles Chapman, o Tommen Baratheon de "Game of Thrones") recebem a missão de localizar um de seus batalhões acampado no bosque de Croisilles, na França. Lá eles têm que entregar ao coronel MacKenzie (Benedict Cumberbatch) uma carta do general Erinmore (Colin Firth) que lhe permitirá salvar centenas de soldados (incluindo o irmão de um dos dois jovens) da morte segura nas mãos dos alemães.
Após os repetidos surtos de adrenalina de 007, James Bond, com os episódios "Skyfall" (2012) e "Spectre" (2015), Sam Mendes ainda surpreende ao se confrontar com as páginas da história do século XX - para dizer a verdade em sua filmografia, consta o não tão bem-sucedido "Jarhead" sobre a Primeira Guerra do Golfo - contando a vida nas trincheiras no coração da Europa. Ele escolhe como perspectiva o olhar de dois jovens com um rosto ainda pouco adulto, não muito marcado pelos ferozes sinais de guerra. A eles confia o olhar que nos conduz às dobras do horror, em contato com o estressante conflito nas trincheiras. Na prensa entre as duas frentes opostas, esses dois garotos experimentam a desorientação de um conflito maior que eles mesmos, do mundo que habitaram e conheceram. Um mundo que vai se esmaecendo em atmosferas foscas, escura, onde no horizonte permanecem apenas campos desolados e sofrimentos humanos angustiantes.
Blake e Schofield enfrentam uma missão impossível, na qual seu verdadeiro inimigo é o tempo, que flui inexoravelmente e por trás do qual há a salvação ou a tragédia. A necessidade de criar uma crescente tensão emocional levou o diretor a imaginar essa jornada extrema como o confronto com uma situação sem saída. E o caminho na "terra de ninguém" se torna como a perda de sentido em um labirinto aterrorizante no qual parece faltar uma amostra de luz.
Ao fazer isso, Mendes promove a papel de protagonista o plano de sequência, que permite ao espectador permanecer continuamente ao lado dos dois soldados, sempre e em qualquer caso, de acordo com uma lógica visual-imersiva. O resultado é um estilo de narrativa fascinante e ao mesmo tempo claustrofóbico e visionário, às vezes lembrando algumas intuições de Christopher Nolan em "Dunkirk" (2017). Analisando mais a fundo, e, “1917” parecem aflorar referências a outros grandes clássicos do cinema de guerra, como "Gallipoli", de Peter Weirm (1981), "Uomini contro" (Francesco Rosi) (1970) e Frances Horizons Rosi (1970) e "Glória feita de sangue" (1957) de Stanley Kubrick.
Ao combinar todos esses elementos, narrativos e visuais, a conquista de Sam Mendes é certamente bem-sucedida e memorável, digna de receber os adequados prêmios Oscar. O único senão, talvez, se realmente se deseja encontrar alguma imperfeição na história, é o fato de que o esplendor da encenação parece quase dominar, ou melhor, jogar para o segundo plano o sofrimento atroz sofrido pelos dois protagonistas e pelos comunidade humana envolvida no conflito.
No geral, o filme é de excelente nível, um trabalho de grande qualidade e valor, que também se vale da sutileza dos veteranos Firth e Cumberbatch. Do ponto de vista pastoral, "1917" deve ser avaliado como complexo, problemático e certamente merece ser levado a debates e reflexões.
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1917: a Grande Guerra, de acordo com Sam Mendes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU